Um dos documentários mais aguardados dos últimos anos, “Becoming Led Zeppelin”, estreia hoje (27/02) nos cinemas brasileiros.
O filme, dirigido por Bernard MacMahon, criou uma grande expectativa desde 2021, quando teve uma única exibição no Festival de Cinema de Veneza e sumiu do mapa. Ao longo dos anos, boatos de desentendimentos entre Jimmy Page e Robert Plant postergaram a conclusão e lançamento oficial do documentário.
Resolvidas essas arestas, finalmente chega às telas a (depois de seis cortes diferentes) versão final do filme, em salas IMAX, com promessas de uma experiência inesquecível para os fãs da banda.
Infelizmente, tanta expectativa não se sustenta ao longo da projeção.
O filme parte de um roteiro bem básico e linear: Jimmy Page, John Paul Jones e Robert Plant contam, em depoimentos individuais, sobre suas infâncias numa Inglaterra pós-guerra, suas iniciações musicais e suas trajetórias até o surgimento do Led Zeppelin e seus anos iniciais – até janeiro de 1970.

John Bonham, morto em 1980, também surge em uma entrevista inédita, dando sua versão dos fatos.
É a partir disso que se conta como surgiu uma das mais mitológicas bandas de rock. Porém, não existe nenhuma voz ou visão além das dos integrantes da banda para acrescentar (ou até divergir) do que é dito. Peter Grant, o feroz empresário da banda, conhecido por seus métodos mafiosos, é mencionado no início do filme. As famosas orgias e consumo mastodôntico de drogas? Robert Plant fala candidamente sobre “ah, quando se faz sucesso, aparecem algumas drogas e garotas bonitas”. E só. Plágio? “Eu estava ressignificando a música preta americana”, diz Plant sobre “Whole Lotta Love” – que resultou em um acordo milionário com o compositor Willie Dixon. O sabido interesse de Jimmy Page pelo ocultismo? Nenhuma palavra.
Dentro deste universo, as coisas se desenrolam magicamente ou por resultado do talento e esforço dos quatro integrantes. Nem mesmo surgem detalhes sobre como Grant conseguiu um contrato longo com o selo Atlantic, que dava total controle criativo a uma banda iniciante.

Para dar suporte documental ao filme, surgem imagens de performances da banda. Porém, aqui também há problemas. De início, não existe farto material audiovisual da banda a ser exibido: Led Zeppelin raramente aparecia em programas de televisão e eventuais fãs que apareciam aos shows munidos com câmeras tinham seus equipamentos destruídos por ordem de Peter Grant. Além disso, os poucos registros de apresentações encontrados não receberam o devido restauro de imagem – o resultado é um amontoado de imagens com muita granulação na tela, que se destacam ainda mais em uma projeção IMAX.
Ao fim de mais de duas horas de exibição, “Becoming Led Zeppelin” se torna uma experiência significativamente inferior a “Moonage Daydream”, sobre David Bowie – pensado e executado para projeção IMAX, e “Get Back”, sobre os Beatles, onde Peter Jackson fez um trabalho espetacular de restauração de imagem e som.
Para os fãs de Led Zeppelin, fica o conselho: guardem o dinheiro do ingresso e esperem quando o filme surgir em streaming. Ou comprar o excelente livro “Led Zeppelin – A Biografia”, de Bob Spitz.