Marcelo Moreira

É uma eterna busca pela fonte da juventude, e temos de correr atrás em todas as noites. A conversa é franca e o interlocutor fala com muita tranquilidade. Paul “Biff” Byford, então com 72 anos, discorria sobre o envelhecimento e fazer as mesmas coisas no palco há 50 anos.
Faltava pouco para o show do Saxon, a sua banda, no Tokio Marine Hall, no final de 2023. “Houve um tempo em que as pessoas queriam me convencer de que era um privilégio eu estar no palco, levando milhares de pessoas aos teatros e estádios. E quem disse que eu precisava ser convencido disso? Talvez seja essa a minha fonte da juventude.”
Entre tragédias pessoais e problemas de saúde – o Saxon cancelou dez shows neste verão europeueu por causa d problemas de saúde de seu vocalista de 74 anos -, Biff parece ter razão quanto à motivação para cantar as mesmas canções há 60 anos.
“Eagles Over Hellfest – Hell, Fire and Damnation – Live ay Hellfest”, o mais recente álbum ao vivo do Saxon, inicia as celebrações dos 60 anos da banda e nada traz de novo ou de instigante além da enérgica performance da banda. Só que a alegria e a vontade de estar ali, no imenso palco francês, faz valer cada nota do manjado repertório executado em festivais.
Assim como no Banger Open Air d São Paulo, em maio passado, Biff mostrou vitalidade no show gravado no festival Hellfest de 2024, na França. A voz não é a mesma, castigada por anos de metal, mas é o suficiente para manter a dignidade. Mantém a mesma altivez e serenidade que o oitentão Ian Gillan à frente de seu cansado, mas valente, Deep Purple.
Parra não dizer que o disco ao vivo não traz novidades, há uma versão contagiante de “madame Guillotine”, do álbum mais recente, Hell, Fire and Damnation”. Funcionou bem ao vivo, com seu riff viciante e seu refrão poderoso. Uma grande canção de metal.
De resto, o mesmo de semre, em um repertório fossilizaod – “Crusader”, “Dallas 1 PM”, “Power and the Glory”, “Princess of the Night”, “Heavy Metal Thunder”…
Não que seja ruim, mas é que soa maçante saber que o repertório é o mesmo em todos os festivais e em todos os álbuns ao vivo – e s]ao muitos destes desde 1979.
Se há mais coisas planejadas para o cinquentenário, o grupo não deu pistas. Se for só isso, é muito pouco para uma banda que é um símbolo da música pesada britânica.
Pilar da chamada Nova Onda do Heavy Metal Britânico, o Saxon quase não aconteceu por falta de oportunidades, mas a insistência de um grupo demúsicos veteranos fez valer a pena.
Fundado em 1975, o grupo tinha músicos bastante rodados da região d Sheffeld, no centro da Inglaterra, e a ideia era fazer um hard rock que fosse popular como o Bad Company e o Queen e agressivo como Black Sabbath e Judas Priest. Só que os caras tinham pressa, já estavam com 25 ou 26 anos – “velhos” para o padrão de estouro no rock da época.
O nome inicial, Sono f a Bitch (Filho da Puta) não ajudava e tiveram de mudar depois de muita relutância. Como Saxon, tiveram de enfrentar o movimento pnk, que odiavam, e ralar muito em pubs por toda a Grã-Bretanha.
Com muito sacrifício, conseguiram gtavar o primeiro álbum, “Saxon”, em 1979, que teve pouca repercussão, mas que ajudou a estabelecer, finalmente, o grupo dentro de um movimento diferente que estava por substituir o decadente punk inglês.
Apadrnhado, de certa forma, por Judas Priest e Motorhead, os maiores nomes do heavy metal da época, o Saxon gravou o segundo álbum, em 1980, e estourou ao lado de Iron Maiden e Def Leppard.
“Wheels of Steel”, o álbum, abriu os portões para o estrelato, com uma sequência ótima de trabalhos = “Denin and Leather”, “Strong Armo of the Law”, “Power and the Glory”, “Crusader”…
O som pesado britânico, no entanto, estava sendo superado pelo hard rock californiano liderado por Motley Crue e Twisted Sister, que vendiam, horrores e ocupavam todos os espaços em 1985.
E então Saxon e Judas Priest erraram ao tentar “americanizar” seus sons. Não ficou bom. A formação clássica – Bff, os guitarristas Graham Oliver e Paul Quinn, o baixista Steve Dawson e o baterista Pete Gill – não existia mais e a inspiração parecia ter ido embora.
Os álbuns “Innocence Is No Excuse”, “Rock the Nations” e “Destiny” produzira apenas dois hits – “Broken Heroes” e Ride Like the Wind “(clássico do cantor pop Christopjer Cross). O retorno ao metal de verdade sóveio em 1991 com o maravilhoso “!Solid Ball of Rock”, seguido por outra pedrada, “Forever Free”, de 1992.
O furacão grunge não foi capaz de derrubar o Saxon, que se tornou uma banda clássica com 50 anos de carreira ininterruptos e uma quantidade de álbuns que mantiveram a dignidade, embora só um deles, desder os anos 90, possa ser considerado excelente – Unleashed the Beast”, de 1997, ano em que veio ao Brasil pela primeira vez.