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David Coverdale (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Cantor de boteco e balconista de loja de roupas. Durante muito tempo David Coverdale disseminou essa imagem de rapaz da classe operária que virou astro do rock ao ser admitido como cantor principal no Deep Purple, no final de 1973.

Não que não fosse verdade, mas a informação foi devidamente romantizada, já que ele não apareceu do nada para cantar em uma das bandas mais importantes de seu tempo.

O Deep Purple o catapultou para o sucesso, mas seu nome estará para sempre eternizado no Whitesnake, a banda que criou em 1977 e que transformou em sinônimo de hard rock, especialmente aquele dos anos 70. E, ao completar 70 anos de idade, David Coverdale consolida a fama, merecida, de ícone roqueiro de mais de uma geração.

Popular, pesado e até mesmo brega – são raras as suas canções que não têm a palavra “love” no título -, dificilmente ele vai estar em listas de dez melhores cantores de rock de todos os tempos, mas certamente será um dos que têm a voz mais reconhecida de forma imediata. Coverdale fez o seu estilo e e ficou mundialmente famoso por isso.

Não tem uma garganta de ouro, como Robert Plant (Led Zeppelin) ou Rob Halford (Judas Priest); nem uma voz de ouro, como a do amigo ex-companheiro de Deep Purple Glenn Hughes, ou de prata, como o mestre Ian Gillan. Perde em potência e vozeirão para Ronnie James Dio, Freddie Mercury (Queen) e Roger Daltrey (The Who). Mas e daí? Quem disse que ele liga para isso?

A voz grave, rasgada e rouca que tanto marca o blues mais pesa está ali, reconhecível á primeira nota e ao primeiro berro. Assim como Rod Stewart, criou um estilo próprio marcante e improvável, que o diferencia imediatamente da concorrência.

“Falar de amor é uma especialidade minha, me saio bem. É uma questão de sentimento. Mesmo na melancolia é possível imprimir paixão e sensualidade. É curioso ouvir alguém classificar isso ou aquilo de ‘brega’, porque essa mesma pessoa não consegue definir o que é brega. Qualquer balada é brega? As canções dos Beatles são bregas? A aceitação de minhas canções e as do Whitesnake falam por si só”, disse Coverdale certa vez, há muito tempo, em entrevista a este jornalista.

Da obscuridade no underground londrino até o estouro com o Deep Purple, Coverdale teve sempre que provar que era muito bom. O Purple não precisava de vocalista, já que tinha contratado Glenn Hughes, baixista e vocalista do Trapeze. Mas o guitarrista e líder Ritchie Blackmore estava preocupado com a excessiva atenção que o novo membro receberia e ficou tentado a procurar um novo talento, desconhecido, para substituir Ian Gillan. Acertou na iniciativa e o Deep Purple ganhou dois geniais cantores.

Houve rivalidade no início, já que Hughes, segunda voz e que cantava algumas canções, tinha voz mais definida e cantava bem melhor. as afinidades musicais, no entanto, os aproximaram a ponto de roubar a liderança de Blackmore.

O som da banda mudou. Continuou pesado, mas agora estava menos duro e reto, cortesia das amplas influências de soul e rhythm and blues dos novatos. E o Deep Purple ficou mais dançante, sexy, insinuante e cheio de groove.

Blackmore saiu em 1975, o grupo implodiu no ano seguinte e em 1977 Coverdale ressurge em carreira solo, de maneira tímida e com a desconfiança do mercado. Somente em 1978, com a criação do Whitesnake, um combo de hard rock com a essência do blues no sangue, é que a carreira realmente deslanchou.

Nos anos 80, com adesão a um som um pouco mais americanizado, como quase todas as bandas de hard rock fizeram, o Whitesnake explodiu e se tornou a banda mais popular do hard rock. “Love Ain’t No Stranger” e “Is This Love” o tornaram o ro mais importante daquele fim de década.

Com nome e carreira consolidados, deu-se ao luxo de tirar anos de férias e retomar a carreira solo. Com as rápidas mudanças do mercado, foi meio que obrigado a retomar o Whitesnake a partir de 1997 e desde então mantém sua trajetória consistente, mas bem menos luminosa.

No começo de 2021 ele afirmou que já estava preparando a aposentadoria, mas que não ocorreria tão já. Nos últimos 18 meses ele lançou três coletâneas temáticas da banda, sendo que as músicas receberam nova mixagem, tentando deixá-las mais parecidas com os arranjos originais dos ensaios, ou seja, sem aquelas grossas e exageradas camadas de produção e superprodução. s resultados são surpreendentes e melhoraram muitas das músicas.

“Não se como será a despedida, nem se será bem longa. O que quero é que trabalhar melhor as novas coletâneas, que mostram uma banda bem diferente. Depois da pandemia, é hora de matar a saudade do palco. Sabe-se lá quando poderemos fazer isso de novo”, disse cantor, de forma sarcástica, ao site Blabbermouth.net.