O ano de 1983 tem vários marcos importantes na música. É o ano de “Thriller”, de Michael Jackson. Também é o ano que o Brasil, até então fora do circuito de shows de grandes bandas de rock, passa a ser notado – após a passagem do Queen, dois anos antes, uma banda em seu auge, o Van Halen, aporta em terras brasileiras, no começo do ano. Alguns meses depois, é a vez do Kiss, que se apresenta em São Paulo e Rio de Janeiro.
Mas 1983 também nos trouxe quatro álbuns de artistas estreantes que ajudaram a moldar a música pelas décadas seguintes.
“Madonna”

Se Michael Jackson recebeu o título de “rei do pop”, com Thriller, é possível se dizer que o ano de 1983 viu o surgimento da “rainha do pop”. Vinda de obscuras bandas punk nova iorquinas, Madonna era figurinha carimbadas no nightclub Danceteria. Lá, ela conseguiu com que o DJ local emplacasse uma demo sua de “Everybody” na pista de dança. Graças a isto, ela conseguiu seu primeiro contrato com gravadora, a Sire Records.
Essa conexão entre pista de dança e o do it yourself punk guiou a confecção do álbum de estreia de Madonna. Com uma bateria eletrônica Linn, um baixo Moog e um sintetizador Oberhein OB-X, canções como “Everybody”, “Borderline” ou “Lucky Star” traziam um ar de modernidade que guiou o pop pelos anos seguintes. Uma outra canção, que havia sido rejeitada pelas integrantes remanescentes das Supremes, se tornou, na voz de Madonna, um dos hinos do público LGBT – “Holiday”.
Além da música, o visual também influenciou adolescentes e jovens da época – ao redor do mundo, as garotas copiaram roupas, cintos, crucifixos e pulseiras, que misturava um tanto de inocência juvenil com resquícios punk.
A partir dali, Madonna só cresceu em influência (e poder), dando a letra para diversos artistas das gerações seguintes – a lista é imensa e inesgotável.
“Kill’em All”

Em 1983, a cena do metal se dividia entre a NWOBHM e os primeiros passos do glam metal, um tanto quanto inspirada pelo sucesso do Van Halen – importante ressaltar que este é o ano que Eddie Van Halen extrapola os limites do rock pesado ao participar de “Beat it”, do álbum “Thriller” (de novo).
Mas é na costa oeste americana que começa a surgir um subgênero que iria atrair olhos, corações e mentes da garotada headbanger. Bandas como Exodus, Testament, Slayer e Metallica agregaram elementos do punk rock ao seu som, aumentando a agressividade e velocidade de seus riffs.
Além da música, é notável a ênfase na composição de músicas com letras que abordavam temas mais sombrios, como guerra, destruição e alienação. Essas letras ressoaram com uma geração de ouvintes e ajudaram a solidificar a estética lírica do thrash metal.
Muito antes de criar o “metal de condomínio“, o Metallica estabelece, em seu álbum de estreia, os padrões para o thrash metal, que seriam seguidos por várias outras bandas, até hoje. “Kill’em All” já abre com um arregaço, “Hit The Lights” e vai alinhando outros petardos, como “The Four Horsemen”, “Jump in Fire, “Whiplash” e “Seek And Destroy”, além do número solo de Cliff Burton, “Anesthesia – Pulling Teeth”.
Quarenta anos depois, a energia deste álbum lhe confere um frescor e atualidade que, em muitos momentos, parecem ausentes nos trabalhos mais recentes da banda.
“Murmur”

Longe das grandes gravadoras e longe de centros como Nova York ou California, o R.E.M. se estabeleceu como um dos grandes nomes da rock alternativo. Formada em Athens, uma cidade universitária na Georgia, o quarteto apresentava uma mistura sonora em que se encontrava ecos de bandas americanas de décadas passadas como Byrds e Big Star com o pós-punk inglês, como PIL e Gang of Four.
O seu primeiro single, de 1981, “Radio Free Europe”, se tornou um hit nas college radio americanas e abriu as portas para a gravação de “Murmur”, album de estreia, lançado em 1983. Aqui, surge a receita que guiou a banda pelos álbuns seguintes: um baixo melódico e preciso de Mike Mills e uma levada simples e segura de Bill Berry criando a cama para a guitarra, por vezes angulosa, por vezes dedilhada de Peter Buck e os vocais de Michael Stipe.
Abrindo como uma nova versão de “Radio Free Europe” e seguido por canções como “Talking About The Passion”, “Pilgrimage”, “Perfect Circle” e “Sitting Still”, “Murmur” foi eleito o álbum do ano de 1983, pela revista Rolling Stone, batendo o inevitável “Thriller”, de Michael Jackson.
Ainda hoje, o álbum é um dos marcos do rock alternativo, sendo um dos mais influentes dos anos 80.
“Out of Step”

Juntamente com Black Flag e Bad Brains, o Minor Threat estabeleceu o padrão para o hardcore americano nos anos 1980.
Como uma boa banda punk que se preze, Minor Threat durou apenas três anos. Tendo como principais personagens o guitarrista Ian Mackaye e o baterista Jeff Nelson, eles lançaram as bases do movimento “straight edge”, que prega um modo de vida sem a utilização de álcool, drogas e, em muitos casos, carne ou outros produtos de origem animal.
Depois de dois EPs lançados em 1981, o Minor Threat lança, por seu próprio selo, seu primeiro (e único) álbum que, mantendo o espírito punk, tem apenas nove músicas, em vinte e dois minutos de duração.
O som agressivo e urgente de “Out of Step” ajudou a definir o padrão do hardcore, reforçando a ideologia “faça você mesmo” e o inconformismo com os padrões estabelecidos pela sociedade, sendo uma das pedras fundamentais do gênero.
Outros álbuns
Além destes, 1983 também marca a estreia fonográfica de outros artistas importantes no cenário, como Tears for Fears, Sonic Youth e Violent Femmes, entre outros.