Arrigo Barnabé leva sua “estranheza” musical para o Centro Cultural Penha

Arrigo Barnabé (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Nelson de Souza Li,a – especial para o Combate Rock

Se estivesse entre nós Itamar Assumpção completaria 76 anos no próximo dia 13 de setembro. Falecido em 2003 o genial Itamar deixou uma lacuna gigantesca por suas invencionices, inquietações sonoras e rebeldia musical. Rebeldia essa que continua muito bem representada pelo amigo e parceiro Arrigo Barnabé.

Assumpção conheceu Barnabé na terra natal deste, Londrina, PR, no meio dos anos 70 e essa junção deu origem à músicas norteadas por experimentalismos, atonalismos e diferentes arranjos que, para muitos causavam estranheza. Pilares do Movimento Vanguarda Paulistana do início da década de 80 a dupla sacramentou uma parceria que durou anos.

Segundo a crítica o marco zero da Vanguarda Paulistana foi o álbum “Clara Crocodilo”, de Arrigo Barnabé e a banda Sabor de Veneno, lançado em novembro de 1980. Desta safra vieram entre outros, Tetê Espíndola, Suzana Salles, Língua de Trapo, Premeditando o Breque e Banda Rumo.

Mas além de talentosos os músicos tinham em comum o fato de serem virginianos sendo que Arrigo Barnabé completa 74 anos em 14 de setembro. Maior sintonia e coincidência impossível. Barnabé brinca com o fato de que ambos nunca fizeram festa de aniversário juntos pois eram “muito duros para isso”.

Mas que Itamar tinha certeza de se conhecerem de outras vidas. De certa forma Arrigo Barnabé celebra o aniversário de Itamar Assumpção pois faz apresentação única no Centro Cultural Penha, zona leste de São Paulo, no dia 13 de setembro. No show gratuito o músico paranaense fala dos 45 anos de “Clara Crocodilo” além de tocar músicas do antigo parceiro.

“Será um show simples, piano e voz. Eu devo tocar e comentar algumas músicas, como eu componho, etc… alguma coisa mais pedagógica. E vou fazer algumas músicas do Itamar, não tem como não ter essa referência”, diz Barnabé.

A apresentação no Centro Cultural Penha será gratuita com ingressos distribuídos uma hora antes na bilheteria. Abaixo entrevista completa com Arrigo Barnabé e demais informações.

 Já li entrevistas nas quais você diz não ligar muito para efemérides. Porém, não tem como não abordar os 45 anos do lançamento de “Clara Crocodilo”, álbum inovador na época, pelos experimentalismos, dodecafonismo e estética diferentona, considerado a maior novidade desde a Tropicália. Como fazer um balanço do que foi o CC nesses 45 anos e se o disco continua atual ou ficou datado?

Arrigo Barnabé – Bom, é incrível como o repertório do LP Clara Crocodilo não envelheceu. Quando a gente se apresenta a sensação continua sendo de ineditismo, continua contemporâneo.

Cada pessoa reage de maneira diferente. Ao longo dessas décadas você deve ter ouvido muitas definições de “Clara Crocodilo”. Aquele que ouvir o disco pela primeira vez pode ter uma reação que tá mais pra “Infortúnio”, “Orgasmo Total” ou “Sabor de Veneno”?

AB
– Sim, existem pessoas que não se identificam imediatamente, precisam de mais escuta pois estranham muito a “estranheza” das músicas. Acho que “Infortúnio” deve ser mais difícil pra essas pessoas.

Você nunca se furtou em buscar sonoridades que fugissem do convencional. Bebendo em fontes distintas como Béla Bartók (1881-1945) e Igor Stravinsky (1882-1971), além das ideias sobre composição de Arnold Schöenberg (1874-1951). Outra inspiração também é o norte-americano Frank Zappa (1940-1993). Pergunta: Arrigo Barnabé é o Frank Zappa brasileiro ou Frank Zappa é o Arrigo Barnabé americano?

AB-
 Meu contato com o Frank Zappa foi muito ligeiro. Primeiro porque não havia disco dele prensado no Brasil. Eram importados, portanto muito caros, inacessíveis. Lembro de ter ouvido “Billy the Mountain” que um amigo meu trouxe dos EUA. Achei muito legal. Mas não havia partitura, e como eu sou péssimo para tirar música de ouvido não consegui ter a mesma familiaridade que tinha com o Bartok e o Stravinsky, e mesmo o Schoenberg, cujas partituras eu encontrava na Biblioteca/Fonoteca Oneyda Alvarenga, que ficava na rua Catão, na Lapa. Então o que as pessoas percebem e acham que é influência do Zappa na minha música são as referências da música erudita do sec XX que eu também usei nessas composições.

Nota da redação: A Fonoteca Oneyda Alvarenga citada por Arrigo se tornou a Discoteca Oneyda Alvarenga e, desde 1982, integra o complexo de bibliotecas do Centro Cultural São Paulo (CCSP), da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (SMC) da Cidade de São Paulo.

 Itamar Assumpção (1949-2003) foi um dos seus maiores, senão maior parceiro, e você vai tocar no dia 13 de setembro, aniversário dele, e você comemora 74 anos no dia seguinte. Uma incrível coincidência ou algo de conjunção cósmica/astral? Você e o Ita brincavam com esse fato?

AB- 
Pois é, o Itamar faz aniversário no mesmo dia que o A. Schoenberg, e eu junto com o Ismael Silva (1905-1978). Mas sabe que nós nunca fizemos uma festa de aniversario juntos? Bom, não fazíamos festas mesmo, éramos muito duros pra isso… Agora ele tinha certeza que a gente se conhecia de outras vidas, muita certeza disso.

 Como será o show no Centro Cultural Penha? Homenagem ao Itamar vai nortear o repertório?

AB-
 Olha, vai ser um show simples, piano e voz. Eu devo tocar e comentar algumas músicas, como eu componho, etc… alguma coisa mais pedagógica. E vou fazer algumas músicas do Itamar, não tem como não ter essa referência.

 O que vai no seu spotify? Ou você prefere um bom vinil?

AB- 
Ah, eu sou péssimo de spotfy, mas uso o youtube. É variado né? Desde Jararaca e Ratinho até Ligeti… gosto muito de ouvir cantores e cantoras, Orlando Silva, João Gilberto, Chico Alves Cármen Miranda, Elizeth Cardoso, Sílvia Telles, e estrangeiros também tipo Ray Charles, Nat King Cole, Janis Joplin, Joe Cocker, Julie London, Sarah Vaughan, Doris Day, Ella Fitzgerald, Cleo Laine…

O que acha do atual cenário da música brasileira e mundial? Destaca alguma coisa tanto no popular, quanto no erudito?

AB
– Olha, eu acho que talvez estejamos próximos de um salto qualitativo na área da composição. No caso da música popular temos que pensar que é um fenômeno tanto literário quanto musical né? Então eu tenho a impressão que como muita gente está aprendendo muita música, evoluindo muito tecnicamente, pode ser que exista um salto de qualidade na parte de criação em breve, vamos ver…

SERVIÇO

Arrigo Barnabé

Dia 13 de setembro – 20 horas

Centro Cultural Penha

Largo do Rosário, 20 – A dez minutos da Estação Penha – Linha Três Vermelha do metrô

Livre

Grátis

Retirar ingressos uma hora antes na bilheteria

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