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 Flavio Leonel – do site Roque Reverso

Pouco mais de seis meses após chutar a porta do rock e praticamente instituir o heavy metal com seu álbum de estreia, o Black Sabbath aproveitou o sucesso e consolidou sua imagem com o disco “Paranoid”. Lançado em 1970, o álbum completa 50 anos nesta sexta-feira, 18 de setembro de 2020, e continua com a merecida fama de clássico do estilo.

Se o disco “Black Sabbath” serviu para balançar o rock e ficou marcado como o que simbolizou o início do heavy metal, “Paranoid” foi fundamental para mostrar que a banda britânica não era apenas uma promessa ou um grupo de sucesso passageiro.

Mais do que isso, “Paranoid” foi o álbum de maior sucesso em vendas do Black Sabbath. Foi considerado por várias publicações de respeito da música como um dos discos mais importantes do heavy metal – para alguns, como a revista Rolling Stone, em 2017, eleito o melhor do estilo em todos os tempos.

Entre os componente do Black Sabbath, continuavam todos ali com aquela vontade juvenil de impressionar, permeada pelo talento peculiar de cada músico.

Com riffs que moldaram a banda e o heavy metal, o guitarrista Tony Iommi tratou de trazer mais clássicos para o estilo. Com a pegada pesada no baixo, Geezer Butler continuava responsável pelas letras, que eram inspiradas pelo seu gosto particular por romances de terror.

Na bateria, Bill Ward trazia, ao mesmo tempo, um peso peculiar ao seu instrumento e conseguia estabelecer um som cadenciado, quando necessário.

O vocalista Ozzy Osbourne, que havia encontrado na música uma razão para dar um sentido à sua vida turbulenta, bem ao estilo jovem desajustado e sem muitas perspectivas, mantinha a voz que foi eternizada durante décadas, além de contribuir com a parte melódica das músicas.

Além do som marcante que consagrou o Black Sabbath, o álbum “Paranoid” traz letras que abordam desde fatores sobrenaturais até temas bem presentes na vida real, como a morte, a guerra, efeitos das drogas e até distúrbios mentais.

Início impactante

Para uma banda de rock, nada melhor do que dar as cartas logo de cara com um cartão de visitas de respeito. E, no caso do “Paranoid”, se existe uma faixa para gerar um início impactante, essa faixa é “War Pigs”

Com seu início cadenciado e pesado, acompanhado pelos sons das sirenes que alertavam bombardeios aéreos na Segunda Guerra Mundial, a música é uma verdadeira aula, especialmente pelos riffs matadores de Tony Iommi e a bateria fenomenal de Bill Ward.

Somada a esses detalhes, há a letra. Geezer Butler chegou a dizer em entrevistas que a letra era sobre o mal, não sobre política ou governo. Mas ressaltou que a guerra era um dos maiores símbolos do mal ou, segundo ele, o “grande Satanás”.

O detalhe, porém, é que, quando analisada, a letra mostra uma crítica política gigante, reforçando a tradição contestadora do rock: “Politicians hide themselves away/They only started the war/Why should they go out to fight?/They leave that role for the poor, yeah” (na tradução livre: “Políticos se escondem/Eles apenas iniciaram a guerra/Por que eles deveriam sair para lutar?/Este papel eles deixam para os pobres, sim!”)

Importante destacar que o título original de “War Pigs”, segundo a banda, era “Walpurgis” e remetia ao sabbat das bruxas. O problema é que a gravadora sugeriu a mudança, com a desculpa de que o título parecia algo “satânico” e pesado demais, podendo atrapalhar o disco comercialmente.

Lado A poderoso

Em tempos de Lado A e Lado B do disco em vinil, a estratégia comercial até o surgimento do CD era colocar as músicas de maior potencial de sucesso no primeiro lado. No caso do segundo disco do Black Sabbath, o Lado A é poderoso, pois traz três clássicos indiscutíveis do heavy metal (“War Pigs”, “Paranoid” e “Iron Man”) e uma música que tem o respeito dos fãs (“Planet Caravan”) e chegou a ganhar décadas depois uma versão famosa do Pantera.

Após o início impactante de “War Pigs”, a faixa-título dá as caras e não deixa o peso do disco cair. Primeiro single do álbum e lançada em agosto de 1970, “Paranoid” foi o verdadeiro carro-chefe para vender o disco e, não por acaso, é uma das músicas mais conhecidas do Black Sabbath, até mesmo para quem não é fã de rock. Ao longo das décadas, o clipe clássico também serviu para consolidar historicamente a faixa.

“Planet Caravan” vem na sequência e baixa um pouco o peso, mas não deixa de ser percebida e respeitada. Isso acontece principalmente pela melodia, pelos vocais com efeitos de Ozzy e pelo uso da percussão de Bill Ward.

“Iron Man”, que também tem clipe famoso, fecha o precioso primeiro lado do disco e divide com “Paranoid” o título de faixa mais popular da banda. Após o seu uso no cinema, ganhou ainda mais em exposição e conquistou mais uma leva de apreciadores, sejam eles fãs de rock ou não. Vale dizer que, apesar do título, não se refere ao super-herói Homem de Ferro, da Marvel, mesmo sendo usada na película no Século XXI.

Lado B

Como mandava o figurino, o Lado B de “Paranoid” não é tão impactante como o Lado A. Traz, no entanto, músicas ótimas e que muitas bandas sonhariam colocar num disco. Bons exemplos são a primeira do lado (“Electric Funeral”) e a última (“Fairies Wear Boots”).

A primeira traz um jeitão clássico e sombrio do Sabbath. A segunda traz mais uma das aulas do grupo, especialmente com um show à parte de Bill Ward na bateria. Não por acaso, fez parte até o fim da carreira do grupo dos repertórios em shows.

Quem esteve no histórico show que o Black Sabbath fez para 70 mil pessoas em São Paulo em 2013 e na turnê de despedida da banda que passou pelo Brasil em 2016, teve o privilégio de presenciar a performance de “Fairies Wear Boots”, mas com Tommy Clufetos na bateria.

A longa e boa “Hand of Doom” e a instrumental “Rat Salad” completam o Lado B e um álbum que é item obrigatório para qualquer fã de rock e heavy metal.

Após o disco “Paranoid”, o Black Sabbath ainda faria muita coisa boa e lançaria muitos álbuns de qualidade. Nenhum deles, porém, teria o mesmo impacto e importância do disco que provou ao mundo que os rapazes de Birmingham não estavam de brincadeira e tinham muito a oferecer ao bom e velho rock and roll.