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Marcelo Moreira



“O ser humano é surpreendente.É capaz de se comover com a foto de um menino sírio de três anos morto em uma praia turca ou grega, mas é incapaz de estender a mão para um refugiado faminto em uma embarcação prestes a naufragar.”
Para uns essa declaração é piegas, mas para Roger Waters não liga. Ele ganha dinheiro com suas turnês, mas as coloca a serviço, também de causas humanitárias e de denúncia contra a opressão e atentados aos direitos humanos, causando a ira de estúpidos que sempre escutaram suas músicas, solo e no Pink Floyd, mas nuca entenderam nada a respeito da mensagem.
“Us and Them” é um dos maiores sucessos do Pibk Floyd, do qual foi fundador, baixista entre 1965 e 1985. Também nomeou a sua turnê solo de 2018 e 2019, que tanta polêmica causou no Brasil por críticas diretas ao então candidato a presidente Jair Bolsonaro por suas tendências autoritárias e fascistas.
O documentário resultante da turnê – que também rendeu um CD duplo  e um DVD – é a mais contundente mensagem política da carreira do músico e uma das mais profundos e incômodos já lançados no rock.
Waters não renega o rótulo de esquerdista, mas prefere ser chamado de humanista. Desde os anos 70 defende a causa palestina contra as políticas nocivas e francamente discriminatórias dos governos israelenses e é um ferrenho adversário de políticos identificados com o fascismo, 
O incômodo foi tão grande que atraiu a ira de políticos conservadores norte-americanos, que mobilizaram forças poderosas para proibir e, ao menos, boicotar as apresentações. Veículos de comunicação americanos noticiaram que até mesmo o presidente Donald Trump demonstrou insatisfação com o conteúdo dos shows.
Com uma superprodução que contou com uma banda extraordinária de apoio, a turnê Us + Them” passou por todos os continentes, em um total de 156 shows para 2.3 milhões de pessoas. O filme teve a direção de Sean Evans e Roger Waters.
Um coral de jovens negros emociona em vários trechos, especialmente no ápice, “Another Brick in the Wall”, em uma demonstração inequívoca de que arte precisa ser contestadora, mas nem sempre, necessariamente, de oposição.
Roger Waters deixa claro que tem um lado, mas que ainda assim admite que é possível conviver com quem pensa diferente, desde que o humanismo prevaleça.
Antibelicista e libertário, esparrama durante as quase duas horas de show sua visão precisa de como a sociedade pode conviver em harmonia utilizando a obra do Pink Floyd e várias canções emblemáticas de sua carreira solo.
O ex-Pink Floyd incomoda porque não utiliza meias palavras e nem passa o pano para evitar ferir suscetibilidades. Ok, ele pode fazer isso porque é um roqueiro milionário e que se permite, eventualmente, ganhar menos para reforçar seus pontos de vista.
Entretanto, citemos outros roqueiros da mesma importância e da mesma estirpe que tem o mesmo comportamento? E não vale citar Bono, que decidiu virar a Madre Teresa de Calcutá do rock numa tentativa de pairar acima acima das diferenças, defendendo as causas universais às quais até mesmo os fascistas têm vergonha de confrontar…
Politicamente ou não, assistir ao novo programa de Roger Waters é um programa bem interessante e prazeroso para quem gosta de rock engajado.
 
O filme “Roger Waters: Us + Them” está disponível em 4K, HD e SD Digital, através da Sony Pictures Home Entertainment, e foi filmado em sua turnê em Amsterdã e no Reino Unido. 
Espectadores do digital, Blu-ray e DVD terão acesso a conteúdos inéditos, incluindo duas novas canções que não fazem parte do lançamento original (“Comfortably Numb” e “Smell The Roses”), além de “A Fleeting Glimpse”, um curta metragem em estilo documentário mostrando cenas dos bastidores da turnê.