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Era um garoto que acompanhava atentamente os frevos carnavalescos que a banda local tocava em Caruaru. Em maio, a mesma banda tocava hinos religiosos na procissão do Rosário e o garoto também se ligava nas melodias, nos arranjos, nas dinâmicas dos instrumentos. No São João, os trios de forró encantavam o menino.

Quando uma guitarra caiu nas mãos de Paulo Rafael, ele uniu essas referências à psicodelia dos anos 70. Primeiro, à frente da banda Ave Sangria, depois com uma duradoura parceria com Alceu Valença e colaborações com diversos outros artistas, como Zé Ramalho, Lula Cortês, Elba Ramalho e Caetano Veloso.

Formada ainda no final dos anos 1960, sob o nome Tamarineira Village, a banda mudou seu nome para Ave Sangria por sugestão de uma cigana no interior da Paraíba. Com uma mistura de blues, rock psicodélico e música nordestina, o Ave Sangria acabou se tornando um dos principais nomes do movimento “udigrudi”, que agitou Recife nos anos 70.

Com o primeiro álbum lançado em 1974 e logo proibido pela ditadura militar, o Ave Sangria realizou seus últimos shows no mesmo ano, em Recife e Paulo Rafael, junto com outros integrantes da banda, passou a colaborar com Alceu Valença.

Sua guitarra adicionou toques de rock às toadas e xotes de Alceu e fez de Paulo Rafael uma das principais referências no instrumento no país. A parceria entre os dois se manteve ao longo dos anos, se encerrando somente com sua morte.

O retorno

Na década passada, o Ave Sangria voltou a se reunir para shows e participações em festivais. Ainda lançou um segundo álbum, “Vendavais”, com canções compostas nos anos 1970 e acabou se tornando objeto de culto por uma nova geração de músicos e fãs.

Paulo Rafael ainda se dedicou ao projeto “Primavera nos Dentes”, juntamente com Charles Gavin (ex-Titãs), fazendo uma releitura do repertório dos Secos & Molhados e também a trabalhos solos. Com sua morte, ocorrida ontem, uma das principais referências da psicodelia brasileira se cala.