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(Foto: Divulgação/Marcos Hermes)

Nas duas últimas passagens de Roger Waters pelo país, o posicionamento político do ex-Pink Floyd chamou atenção tanto quanto suas músicas – também altamente politizadas. Conservadores torceram o nariz, progressistas aplaudiram, comunidade judaica se dividiu, enfim, era inevitável abordar seus shows sem ignorar este aspecto.

O mesmo não aconteceu com os shows de Paul McCartney, embalados por uma nostalgia de velhos fãs e os mais jovens, por uma saudade do que nunca viram. Mas engana-se que o velho Macca não mande suas mensagens políticas. Discretas, elas estão lá, não só em canções como em atitudes.

Como escrevi há alguns dias, “Got to Get You Into My Life”, composta em 1966 por um jovem Paul encantado como os efeitos da maconha, foi o sinal para que os simpatizantes da cannabis acendessem seus cigarros de artista na pista premium. Embora ele tenha declarado não fumar mais maconha, ele mantém uma plantação em um de seus terrenos na Inglaterra e, recentemente, fez declarações a favor da descriminalização da droga. Ainda neste ano, em uma passagem pela Jamaica, ele foi flagrado, huuuum, fazendo uma saudação a Jah.

Outra canção presente no repertório, “Blackbird”, também traz mensagem política. A inspiração, segundo o próprio Paul McCartney, surgiu da luta pelos direitos humanos, travada pela comunidade negra nos Estados Unidos nos anos 60. Naquele tempo, em que a segregação racial era lei naquele país, os Beatles se recusavam a se apresentar em shows com plateias divididas entre pretos e brancos.

Em “Lady Madonna”, uma música que aborda o cotidiano de uma mãe (solteira?) lidando com os filhos, surge no telão uma colagem com diversas mulheres, anônimas e conhecidas e, no final, aparece a imagem da jovem Greta Thunberg, jovem ativista ambiental que azucrina a vida de negacionistas climáticos e de políticos de extrema-direita.

Também em uma das raríssimas pausas no show de duas horas e meia de duração, Paul e integrantes da banda sobem ao palco – um com bandeira do país onde o show acontece, outro com bandeira da Grã-Bretanha e um terceiro, com a bandeira do Orgulho Gay, talvez no posicionamento político mais claro em toda a apresentação.

(Reprodução/Alexandra Bento)

Quem assistiu ao documentário “Get Back”, dirigido por Peter Jackson, pôde constatar que uma das diversas versões da canção-título era uma paródia ao discurso segregacionista de Enoch Powell, político de extrema-direita e líder do grupo National Front, que pregava a expulsão do Reino Unido de indianos, paquistaneses e descendentes de negros vindos do Caribe.

Como dizem alguns cientistas políticos, tudo é política. Paul McCartney sabe disso.