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 Precisamos de mais tributos ao Led Zeppelin depois de mais de 40 anos do fim da banda? Já são milhares deles, incluindo boa iniciativas, como a da banda Great White, e outras nem tanto.

Se levarmos em conta que as novas obras revisitando a obra do quarteto inglês têm as mãos da cantora norte-americana Beth Hart e de 15 bandas brasileiras com algumas das melhores cantoras do país, então a resposta é positiva: precisamos sim de olhares diferentes para grandes clássicos de sempre.

Beth Hart ficou conhecida mundialmente como cantora de blues a partir de 2008, quando engatou parcerias com Jeff Beck e Joe Bonamassa, dois gênios da guitarra, e enfileirou discos maravilhosos. 

A carreira ganhou uma segunda chance depois que tratou do alcoolismo e ressurgiu nova em folha. Era conhecida como uma promessa do hard rock nos anos 90 e recheava seu repertório autoral com várias canções do Led Zeppelin.

Ao contrário das bandas femininas que fazem tributo à banda – Lez Zeppelin e Zepparella -, Beth Hart deu uma leve repaginada em algumas das canções e teve a sabedoria de esperar muito tempo para revisitar o catálogo de sua banda preferida. Ninguém vai poder dizer que “A Tribute to Led Zeppelin” foi oportunismo de sua parte, principalmente porque agora é um nome forte do cenário mundial do blues.

Ela canta muito bem e sabe interpretar o que a música pede – ouça e veja a moça cantando I’d Rather Go Blind”, classicaço do cancioneiro americano.

Sem descaracterizar as músicas, ela brilha em praticamente todas, mesmo nas mais simples e fracas, como “Dancin’ Days”, desnecessária no disco.

Ela arrebenta em músicas mais dramáticas, como na maravilhosa “Kashmir” e na estupenda “When the Levee Breaks”. Mostra leveza e sutileza em “The Rain Song” e evita fazer malabarismo de qualquer tipo no hino “Stairway to Heaven”.

Por outro lado, Beth Hart surpreende com o groove e sua voz rouca em “The Crunge”, uma canção fora do seu escopo, vai bem na icônica “Whole Lotta Love” e se sente muito à vontade no mundo bluesy de “Good Times Bad Times” e “Babe, I’m Gonna Leave You”

Da Inglaterra vem mais uma iniciativa para homenagear nomes gigantes do rock com versões de bandas brasileiras de todos os tipos. Kiss, AC/DC, Black Sabbath, Deep Purple, Motorhead e Slayer já foram agraciados com o tributo de mais de 60 bandas brasileiras graças à iniciativa da Secret Service Records, do brasileiro Luiz A. Rizzi, radicado há anos em Londres.

“Stairway to Brazil – Led Zeppelin Tribute” é o novo capítulo, com a grande sacada de escolher apenas bandas com mulheres cantando, assim como fez no álbum que homenageou o Deep Purple.

Como todo tributo envolvendo vários artistas, o trabalho é irregular, mas parece ser mais encorpado que o Deep Purple, onde as bandas tiveram liberdade total para recriar vários clássicos.

A mesma coisa acontece aqui, e o resultado ficou muito bom. O Vandroya, por exemplo, deu show na maravilhosa “The Rover”, uma escolha não tão óbvia. A interpretação de Daísa Munhoz é ótima e soube captar a agressividade camuflada da canção.

Weedevil, ainda com Fabrina Valverde nos vocais, reinterpretou com competência “Heartbreaker”, transformando-a em um stoner bravo e intenso. A banda No One Spoke também brilhou, acfescentando um molho diferente em “Kashmir”, deixando ainda mais folk.

“Good Times Bad Times” perdeu aquele acento blueseiro e virou um thrash com a banda Corja! Ficou esquisito, mas deu para digerir. A Melyra também deu para inventar em “Houses of the Holy” e o resultado ficou diferente, pesadão.

Os goianos do Bella Utopia resolveu desconstruir “Communication Breakdown” e virá-la do avesso, com vocal bem agressivo e guitarras com timbres de stoner metal e andamento mais rápido. Deu certo, assim como o Sacrificed, que respeito um pouco mais versão original de “Immigrant Song” por mais que tenha caprichado os graves das guitarras. Beirou o doom metal.

A banda Fenrir’s Scar tive uma ideia inusitada: transportar “Black Dog” para o mundo do Judas Priest dos anos 70 e também deu certo, exceto pelo fato de não haver uma segunda guitarra para duelar. Pelo inusitado, ficou gostoso de ouvir.

“Living Loving Maid”, do Revengin, ganhou teclados na intro e virou uma canção no estilo de “bela e a fera”, com voz angelical e outra gutural e diabólica. Foi uma aposta arriscada e não funcionou como se esperava. Não é uma versão ruim, mas a urgência da canção foi perdida com o andamento mais lento no estilo doom/death metal, com flerte com sinfônico no final.

A banda White Death se saiu melhor com a boa versão para “For Your Life”, outra escolha improvável. A estrutura da canção foi mantida, mas ganhou um clima meio “Black Label Society” misturado com metal alternativo.

“All My Love”, com Voccatus, foi a versão que mais diferente ficou, com seu excesso de teclados em arranjos orquestrais e um vocal que tentou emular Nightwish e After Forever. Dá para dizer que é uma versão correta e corajosa, mas infelizmente não combinou. Os arranjos de guitarras, no entanto, ficaram ótimos.

“Ramble On”, com Crossroad, não comprometeu, já que a banda teve a sabedoria de manter o possível da versão original – o vocal ficou ótimo, em uma interpretação encharcada de malandragem e sensualidade

A Living Shield tentou inventar em “The Ocean” com uma base eletrônica para a guitarra passear e não deu certo, enquanto que Innocence Lost criou um arranjo interessante com baixo e guitarra na introdução de “Whole Lotta Love”, mas deixou a voz da cantora um pouco soterrada com o excesso de produção; por último, Sleepwalker Sun”, com Stairway to Heaven”, foi reverente demais e, assim, não comprometeu.

 Uma gravadora internacional abrir esse tipo de espaço para o rock nacional é algo que precisa ser comemorado e que nem a pandemia de covid-19 foi capaz de derrubar. O resultado deste sétimo volume é bastante positivo.

P.S.: No começo do texto citamos o Great White, banda de hard rock americana dos 80, que tinha feito na década seguinte um tributo ao Led Zeppelin regravando as músicas com bastante fidelidade. Depois de 40 anos, a banda ficou descaracterizada por uma rixa entre ex-integrantes e existem duas versões dela há pelo menos dez anos. Neste mês de fevereiro de 2002, a Jack Russel’s Great White, do vocalista clássico do grupo, lançou “Great Zeppelin II – A Tribute to Led Zeppelin”, essa sim uma sacada bastante oportunista em vista de uma crise criativa. Não é um disco que seja tão bom quanto os dois citados neste texto. O tributoi com o Great White clássico, lá dos anos 90, é mais interessante e honesto.