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Marcelo Moreira


Tuatha de Danann (FOTO: DIVULGAÇÃO)

“Perdemos contratos por suposto engajamento político, nosso e o de outras bandas.” É mais ou menos neste sentido que alguns músicos e empresários do setor musical lamentaram um estado lastimável do mercado de shows e eventos a partir da posse do presidente Jair Bolsonaro, o nefasto que destrói as noções de civilidade e boa administração, Não foram poucos os que re principalmente em relação a sua atuação genocida na pandemia de covid-19.
De uma forma ou de outra, algumas bandas de rock e artistas do gênero pagaram pela (suposta) fama de três ou quatro que se posicionaram em oposição ao governo de extrema-direita e de extrema ignorância que temos atualmente. 
Não foram poucos os reclamaram desse eventual boicote, ainda que nunca tenham dado margem a interpretações sobre eventuais e supostos engajamentos.
Após março de 2020, com a pandemia devastando nossas vidas e, principalmente, os setores de entretenimento e cultura, essa deixou de ser uma preocupação, mas não o suficiente para que tivéssemos o engajamento de roqueiros com mais firmeza em protestos e em campanhas contra o desastre bolsonaro. 
Tirando o mundo punk e os sempre ativos e ativistas Detonautas Roque Clube, foram raros os artistas que puseram a cara fora de casa e em lives para bradar contra a barbárie a que estamos submetidos.
No underground roqueiro, coube a duas banda de heavy metal levantar a bandeira e denunciar os atentados institucionais de um governo de inspiração fascista que atenta contra a democracia e a liberdade de expressão.
Os alvos mais recentes, no caso da liberdade de expressão, da cruzada ultraconservadora apoiada por bolsonaristas são o ex-candidato a presidente Guilherme Boulos (PSOL), na mira da Polícia Federal por causa de um tuíte ridículo, e os organizadores do Facada Fest, em Belém (PA), perseguidos por conta de de cartazes do festival considerados ofensivos por procuradores federais.
 

A banda mineira Tuatha de Danann lançou recentemente um dos melhores álbuns do rock nacional dos últimos anos em homenagem à Irlanda, que tem um dos povos mas massacrados e tiranizados da história e, por isso mesmo, é um dos mais resistentes e agressivos em relação a sua independência e liberdades.
“In Nomine Éireann” é uma compilação de canções irlandesas típicas de protesto e que retratam a luta histórica do povo irlandês, mas há uma única canção que não se relaciona diretamente com o conceito do álbum.
“King” é uma música autoral da banda que encerra o disco. Com forte conteúdo irônico e de ativismo, ganhou um clipe coim pesadas críticas em alusão ao governo brasileiro atual e os constantes atentados à civilização no Brasil e no mundo.

O tema central do clipe e da música é o desastre do combate à pandemia de covid-19 no país, em que os desmandos e o negacionismo tomaram conta do dia a dia e contribuíram decisivamente pra que estejamos à beira dos 400 mil mortos.]

“In Nomine Éireann” – “Em Nome da Irlanda” numa tradução literal – que conta com 11 faixas, sendo 9 temas tradicionais irlandeses (em versões ao melhor estilo da banda) e 2 autorais. 
O álbum tem as participações especiais, Keith Fay (Cruachan), John Doyle (Solas), Daísa Munhoz (Soulspell), Folkmooney, entre outros. O disco foi produzido pelo vocalista e multi-instrumentista Bruno Maia, no Braia Studios, de propriedade do músico.
Bruno Maia, guitarrista, vocalista e líder do Tuatha, é um dos mais ativos e atuantes músicos do metal nacional nop embate/combate a um governo que elegeu o conhecimento e a cultura como inimigos, salvando a reputação de um gênero que pouca atenção deu à atitude e a discussão política neste século.
Para fazer companhia ao Tuatha de Danann foi necessário que um músico brasileiro que mora no exterior entrasse no circuito para mostrar que há mais gente na briga. 
Alexei Leão, da banda Stormental, está atualmente em Portugal, mas conseguiu reunir amigos catarinenses para gravar e lançar uma música poderosa e que ganhou um clipe ainda mais emblemático, com pesadas cíticas a jair Bolsonaro e Donald Trump.

Creditada ao projeto XEI &Sons in Black, “Tonight’s Riot” é um contundente recado às pessoas que negam a realidade e flertam com a barbárie, enquanto o clipe é mais direto com imagens de Bolsonaro e Trump celebrando a ignorância e a depredação das instituições.

XEI & Sons in Black est´preparando um álbum que tem, o título provisório de “Coulrophobia”, termo em inglês para a patologia que tem a ver com o medo de palhaços, uma alegoria com os tempos sombrios em que vivemos.
Quem também está na iminência de divulgar o seu mais novo trabalho é a Dorsal Atlântica, que viabilizou “Pandemia” por meio de uma campanha de financiamento coletivo.
Carlos Lopes, o vocalista e guitarrista, também é militante pelos direitos humanos e um proeminente defensor da democracia. Seus trabalhos como artista gráfico mostram uma atuação firme e contundente contra a barbárie e os desmandos do governo Bolsonaro.
“Pandemia” promete mais uma dose de pancadaria na gestão inacreditável e assassina do combate à covid-19 e certamente denunciará mais uma leva de deliberadas ações que beiram a sabotagem contra a  saúde pública brasileira.
As três bandas são importantes dentro do rock/metal nacionais, mas são bandas do underground, com um alcance mais restrito. É o que temos, enquanto os nomões da música brasileira ainda resistem em se posicionar mais ativamente contra o governo criminoso de extrema-direita.