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Flavio Leonel – do site Roque Reverso

O dia 8 de outubro de 2021 marca os 30 anos do lançamento do ótimo álbum “Badmotorfinger”, do Soundgarden. Terceiro da carreira da banda norte-americana de Seattle, o disco não apenas foi lançado num ano magnífico para o rock numa leva impressionante de trabalhos de qualidade, como aproveitou a onda de chegada de trabalhos marcantes da onda grunge e, acima de tudo, serviu para mostrar que o Soundgarden seguia por um caminho mais pesado que os demais grupos que surfavam naquele movimento avassalador que atingiu em cheio o bom e velho rock and roll.

Enquanto meses antes o Pearl Jam havia feito sua boa estreia com o disco “Ten”, o Alice in Chains colhia os frutos também do estreante álbum “Facelift”, de 1990, e o Nirvana virava o rock de cabeça pra baixo com o “Nevermind”, o Soundgarden aperfeiçoava o som pesado com “Badmotorfinger”, numa clara evolução em relação aos discos anteriores “Ultramega OK”, de 1988, e “Louder Than Love”, de 1989.

Vale destacar que, diferente do que muitos veículos brasileiros costumam noticiar, “Badmotorfinger” não foi lançado no mesmo dia que o “Nevermind”. O próprio site oficial do grupo traz a informação de lançamento no dia 8 de outubro de 1991 e a banda aproveitou para lembrar as comemorações de 30 anos nesta sexta-feira de 2021.

Conforme o próprio Soundgarden explica, a data agendada para o lançamento realmente era o dia 24 de setembro, quando também foi lançado, além do “Nervemind”, o também clássico “Blood Sugar Sex Magik”, do Red Hot Chili Peppers. Mas o grupo se decepcionou com a arte do disco, em tons mais claros que o desejado.

A gravadora A&M concordou numa capa refeita com a supervisão do guitarrista Kim Thayil, fazendo com que a data de lançamento fosse reagendada para o dia 8 de outubro. Alguns locais chegaram a receber a capa inicial, o que acabou virando item de colecionador. No Brasil, por sinal, algumas dessas capas são encontradas com fãs mais ardorosos do Soundgarden, algo que até já mereceu elogio por parte dos músicos.

Esta icônica capa de “Badmotorfinger” foi elaborada pelo guitarrista Mark Dancey, da banda Big Chief, da mítica gravadora Sub Pop.

A produção do disco foi realizada novamente por Terry Date, que já havia trabalhado com o grupo em “Louder Than Love” e gravado com outras várias bandas pesadas do heavy metal, como o Sanctuary, o Dream Theater e o Overkill.

E não era de se esperar algo pouco pesado vindo de Date depois desta fera produzir o “Cowboys from Hell”, disco que mudou pra sempre a carreira do Pantera um ano antes do lançamento do “Badmotorfinger”.

Quem acompanhava a cena alternativa do rock na virada dos Anos 1980 para os Anos 1990 já apostava muitas fichas no Soundgarden nos discos anteriores ao de 1991. A banda era figurinha carimbada de programas alternativos da MTV e muito falada no underground.

“Badmotorfinger” é justamente aquele disco que confirma as apostas. Para muitos, apesar de não ser o mais vendido do Soundgarden (“Superunknown”, de 1994, vendeu mais), é o melhor da banda norte-americana.

O álbum marca a entrada do baixista Ben Shepherd e a consagração da formação clássica do grupo. Além de Shepherd e do talentoso guitarrista Kim Thayil, a banda contava com o baterista Matt Cameron e com o saudoso vocalista e guitarrista Chris Cornell, que morreu em 2017.

Para muitos, Cornell está com a parte vocal no auge da carreira, assim como a guitarra de Kim Thayil nunca esteve tão nervosa, envolvente e criativa. Somado a estes dois fatores matadores, o entrosamento do grupo como um todo é empolgante para quem aprecia o rock pesado.

Três singles matadores ajudaram a levar o álbum para o merecido sucesso comercial: “Rusty Cage”, “Outshined” e “Jesus Christ Pose”. Um ano antes do lançamento do disco, o single “Room a Thousand Years Wide”, numa versão anterior, chegou a ser lançado via Sub Pop.

Todos os três singles oficiais de trabalho ganharam clipes que não saíam da MTV. Enquanto o de “Outshined” ajudava a trazer o público de fora do heavy metal, o de “Rusty Cage” e o de “Jesus Christ Pose” faziam o público da vertente mais pesada do rock vibrar, pois eram vídeos muito bem feitos para duas músicas espetaculares e repletas de elementos ricos do heavy metal.

Se o leitor parar para ouvir o disco na íntegra, vai perceber que ele não tem músicas ruins ou fracas. Além das 4 músicas citadas, merecem destaque numa segunda fileira também “Mind Riot”, “Slaves & Bulldozers” e “Drawing Flies”, esta com elementos “sabatianos” inconfundíveis nas guitarras.

As faixas restantes ficam numa terceira fileira, sem jamais prejudicar a qualidade do álbum.

Com o sucesso do disco, o Soundgarden foi indicado para o Grammy de Melhor Performance de Metal, mas perdeu a disputa para o icônico “Black Album”, do Metallica, lançado no mesmo 1991.

No álbum seguinte, o grupo atravessaria as barreiras do underground e chegaria ao mainstream, o que para muitos, teria atrapalhado a carreira da banda logo na sequência.

Quem admira o rock bem feito sabe, no entanto, que a semente para o som definitivo do Soundgarden foi plantada em “Badmotorfinger”, um álbum que merece todos os elogios possíveis.