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Marcelo Moreira


Brun (esq.) e Luna na Noruega (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Houve um tempo em que a mídia tradicional deu a impressão de que só existia rock, no Brasil, em São Paulo e no Rio de Janeiro e, de alguma forma a explosão do gênero nos anos 80 reforçou essa visão. De certa forma, revistas como a Bizz demoraram a erodir tal visão.
Foi necessário o surgimento de fanzines que se tornaram revistas nacionais, como Rock Brigade e Roadie Crew, para mostrar que existia, sim, muito rock, em todo o Brasil, e nos locais mais improváveis, como Altamira (PA), Rio Branco (AC) e Porto Velho (RO). 
Como era possível que no interior da Bahia, onde supostamente a informação demoraria um pouco mais para chegar nos anos 80, pudesse haver quilos de bandas de metal extremo, assim como no interior do Ceará? 
Claro que era um enorme preconceito de sulistas acostumados a se sentirem um pouco mais próximos da Europa e dos Estados Unidos pelo simples fato de morarem em megalópoles mais conectadas. Entretanto, como todo preconceito, era injustificável.
Se esse tipo de comportamento arrefeceu, ainda persiste em alguns ambientes, mesmo no século XXI e dentro dos círculos roqueiros e metaleiros. 
Uma banda de folk metal surgir em Minas Gerais ou São Paulo não gera mais especulação ou curiosidade, mas quando o metal extremo explode no Nordeste, logo surgem os comentários jocosos, do tipo “como assim, black metal assim e assado na Bahia ou no Rio Grande do Norte, como pode? O que passa na cabeça desses caras?”
Como se fosse a coisa mais normal do mundo fazer viking metal e cantar sobre o inverno escandinavo morando nas tórridas Santos ou São José do Rio Preto, no forno paulista, por exemplo… 
De certo modo, foram essas as reações a respeito da banda Mirkgand, projeto de um homem só comandado por Dmitri Luna, músico paraibano já com larga experiência musical.
O Mirkgand já tem dois álbuns lançados, e a cada um que chega ao mercado vem a surpresa: “Ué, é banda brasileira? Parece muito bom para ser nacional, tem todo o jeitão de ser sueca”. O assombro aumenta quando a origem da banda, a Paraíba, é mencionada.
Há duas maneiras de se observar essa questão: o evidente lado negativo é o persistente preconceito e menosprezo pelo rock feito em lugares menos tradicionais, digamos assim, o que faz que o grande público deixe de apreciar grandes bandas e artistas, de todos os subgêneros.
Do lado positivo, é legal ver que o rock e o metal extremo ainda são capazes de surpreender e gerar procura mesmo a tal banda já tendo uma carreira respeitável e prestígio internacional, no caso do Mirkgand.
A ambição de Dmitri Luna derrubou todos os esses preconceitos, a ponto de chamar a atenção de músicos europeus para a qualidade de seu material, tanto que o terceiro trabalho do projeto Mirkgand está sendo produzido na Europa.
O músico e produtor norueguês Øystein G. Brun, fundador do Borknagar, está trabalhando em colaboração direta com Dmitry Luna no terceiro álbum, que deverá transitar entre o death metal e o black metal. 
“Já disse antes e repito: um dos grandes privilégios de trabalhar na indústria musical, como engenheiro de mixagem e produtor, é poder formar um time com músicos de todo o mundo para realizar uma grande variedade de visões musicais. Desta vez, com o mago brasileiro Dmitry Luna e sua banda Myrkgand, que contará com vários músicos notáveis. Estou realmente ansioso para acender o fogo, aquecer o caldeirão e seguir em frente com a mistura encantadora do sr. Luna”, declarou Øystein G. Brun.

Dmitri Luna é a mente por trás do Mirkgand (FOTO: DIVULGAÇÃO)
É bom lembrar que Brun masterizou o EP de estreia da banda brasileira The Troops of Doom, que tem em sua formação Jairo Guedz, ex- Sepultura. 
“Trata-se de um trabalho em conjunto. Estou cuidando da gravação e da edição e ele da mixagem e masterização”, completou Luna, multi-instrumentista de João Pessoa (PB) e que atualmente reside em Portugal. 
O disco, ainda sem título definido, será lançado em 2021 e trará, como de costume diversos convidados. Entre eles, o experiente baterista norueguês AntiChristian, que já trabalhou com nomes como Tsjuder, Jorn, Umoral, Nattverd, Beaten to Death, Grimfist, Gothminister e outras, e registrou as sessões de bateria com o experiente Marius Strand, do Strand Studio, localizado em Oslo (NOR). 
“Me diverti muito gravando o novo álbum do Myrkgand para Dmitry. Tentei diferentes abordagens na bateria e o resultado ficou muito bom. Vamos ver quando tudo estiver finalizado”, comentou AntiChristian.

Nos dois álbuns anteriores, Dmitry Luna contou com presenças de Roland Grapow (Masterplan, Helloween), Liv Kristine (Leaves’ Eyes, Theatre of Tragedy), além de membros do Blind Guardian, Cradle of Filth, Trollfest, Tuatha de Danann, Iron Angel, Vulcano, Pathologic Noise, Malefactor, Masterplan, Mortuary Drape, Korzus, Novembers Doom e At Vance, entre outros. Ou seja, o músico brasileiro parece ter uma bela agenda de telefones e um circuito bem estrelado de amigos…

Dmitry Luna revelou que ainda está negociando com gravadoras, mas “provavelmente teremos um single extraído de uma das faixas do terceiro álbum até o final deste ano.” 

O sucessor de “Old Mystical Tales” (2019) manterá a temática a dos discos anteriores, com letras sobre lendas, batalhas épicas, magia, fantasia, demônios, bruxas e mitologia.