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Brian Wilson (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Brian Wilson não queria apenas ser reconhecido como gênio. Queria ser rei. Acreditou que era e surtou quando lhe disseram que não era e nem tinha sido. Do outro lado oceano Atlântico, rivais britânicos atestavam as verdades descritas. Ainda assim, tudo isso contribuiu para que o cantor e compositor californiano protagonizasse algumas das melhores canções e histórias do rock.

Ao completar 80 anos dias depois de Paul McCartney, talvez o maior adversário, Wilson é visto, equivocadamente, como apenas um sobrevivente dos anos 60 que teve sequelas por conta do uso pesado de drogas e de problemas psiquiátricos graves. Estranhamente diminuiu o número de admiradores e apreciadores de sua obra neste século XXI. 

Existem, de fato, fatores que contribuíram para que a vitória final dos Beatles sobre os Beach Boys de Brian Wilson afetasse de maneira perpétua o líder daquela que foi o primeiro fenômeno pop de grandes proporções nos anos 60.

Antes mesmo da beatlemania, os Beach Boys se tornaram referência e exemplo dentro do cenário da música jovem que retomava o fôlego depois que o interesse sobre os pioneiros – Elvis Presley, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis – diminuía com o tempo. 

Quando os Beatles estouraram na Inglaterra, em 1963, os Beach Boys dominavam, Los Angeles e quase toda a costa oeste americana com o “som das praias e das areias”, embora apenas um dos integrantes da banda, de fato, de vez em quando, surfava.

O rock alegre e alto astral dos meninos da praia embutia, em seu sucesso estrondoso, melodias ricas e harmonias vocais perfeitas para embalar uma nova era de valorização da cultura jovem. 

Os Beach Boys elevaram o padrão de qualidade em todos os sentidos no rock e se tornaram os únicos a serem capazes a encarar os ingleses Beatles, muito graças à genialidade de Brian Wilson.

A competição foi intensa, mas rápida, durando pouco mais de três anos, colocando as duas bandas cabeça a cabeça na liderança dos melhores álbuns e canções. Os Beatles venceram por larga margem, mas provocaram culturalmente Wilson de tal forma que tivemos obras-primas como “Pet Sounds” e canções como “Good Vibrations”.

Na tentativa de superar s Beatles depois do álbum “Revolver”, de 1966, Wilson fez o máximo possível para superar os britânicos naquela que seria a sua obra máxima, que seria “Smile”, em 1967. 

Só que aí veio “Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, que definitivamente colocou o rock como forma de arte e até hoje está no topo das listas de melhores discos de todos os tempos. 

Wilson reconheceu a derrota e jogou a toalha. Já tinha deixado os shows dos Beach Boys para atuar somente no estúdio e como compositor principal. “Smile” foi arquivado e abandonado e os Beatles se tornaram mitos mesmo após o fim da banda, em 1970. 

Já os Beach Boys decidiram continuar, mas sem, o brilhantismo de outrora e com Brian Wilson prostrado em casa em crises nervosas sucessivas. a banda virou um fantasma vagando pelas quatro décadas seguintes entre a irrelevância artística e as brigas entre integrantes e ex-integrantes por dinheiro e direitos sobre a marca. 

Foram poucos os grandes momentos de Brian Wilson nos últimos 50 anos. Entre bons discos na carreira solo e visitas ao antigo catálogo seu e da banda, o cantor e compositor manteve a dignidade e o respeito, embora bem longe da genialidade que sempre lhe foi atribuída. 

Brian Wilson é um dos gigantes de nosso tempo, do mesmo calibre de McCartney, John Lennon, Bob Dylan, Mick Jagger, Keith Richards e mais uma dúzia de roqueiros. É peça fundamental da cultura do nosso tempo. 

Mais do que um sobrevivente, é um dos sinônimos de classe, elegância e extrema qualidade dentro da música pop. Erra imensamente quem insiste em subestimar sua contribuição artística em todos os sentidos.