Escolha uma Página

 Julio Verdi – do blog Ready to Rock

De décadas em décadas novos nomes vão se destacando no cenário do heavy metal do brasil, trilhando um caminho rasgado a suor e sangue, por grandes baluartes da história da música pesada do país. Dentre os nomes da nova geração que vem angariando ótima repercussão por seu trabalho está o Brutallian, de São Luis/MA. A banda existe desde 2002, e tem em sua bagagem dois álbuns de estúdio, “Blow on the Eye” (2015) e “Reason for Violence” (2018).

Mesclando um metal rápido, calcado no thrash mais contemporâneo (em nomes como Pantera, Machine Head, Nevermore), com um lado mais tradicional do estilo (Judas/Primal Fear/Savatage), o som do grupo se estabelece no heavy/thrash, com muita técnica e esmero nos arranjos de cordas, rico na parte rítmica da bateria e com harmonias vocais se utilizam constantemente de dobras e backings

Do lado mais agressivo de “Reason”, temos “Reason for Violence” (pegada thrash, a lá Nuclear Assault), “Love is All Around but the World” (thraseira pesada, vocal semi gutural junto ao convencional), “Real Life is not What You’re Looking for” (variação nos andamentos) e “Rear Naked Choke” (clima bem Slayer, com uma acalmada melódica no solo de guitarra, depois retoma velocidade).

Faixas rápidas que mesclam a outras com levada mais cadenciada, como “Cast in Iron” (rifferama mais cadenciada, com altas doses de melodias nos refrãos), “The Ride” (soa mais pesada que rápida), “From Hell we Are” (baixo na cara, lembro algo de Megadeth), “A Tomorrow’s Nighmare” (bateria inicia dando as cartas, pegada quebrada a lá Pantera, acelera no refrão), “Fear Inside Rage Outside” (parecer ser a mais “metal clássica”, ainda que contem com bateria rápida), “Sagacious Amra” (abre com um discurso, alterna cadência e peso e pegada veloz, em seus quase 10 minutos. Grande faixa de encerramento, em todos os sentidos lembra Judas com o Ripper). Ainda no set consta “Matracada”, uma instrumental, levada por percussão e baixo, algo de tribal em termos rítmicos

Quem está à frente das fileiras da banda hoje em dia é Pablo Barros (vocal), Lex Wave (guitarra) , Fabio Matta (baixo) e Raul Campos (bateria). Conversamos com o baixista Fábio Matta, que nos conta um pouco da trajetória e as ações atuais da banda.

Brutallian (FOTO: DIVULGAÇÃO)

RR – O Brutallian tem se destacado (em manifestações de público e imprensa) como um dos maiores nomes do novo metal brasileiro. Após 18 anos de estrada e dois discos no currículo, como você encara esse reconhecimento?

FABIO: Encaramos de forma natural, acredito ser uma consequência de um trabalho sério e dedicado a nossa arte. Amamos a música pesada na qual sempre acreditamos e isso se reflete nos shows, músicas, discos e em nossa postura com relação a isso.

Em minha opinião o som da banda se baseia numa mistura de thrash contemporâneo com pitadas de heavy clássico. Como nasceu, para a banda, este padrão de heavy/thrash?

FABIO: Sua opinião está corretíssima meu amigo! É uma vida toda ouvindo muito Sabbath, Judas, Accept, Kreator e Slayer, bateu no liquidificador e deu isso, (risos)! A intenção do Brutallian desde sua origem era sempre fazer música pesada e honesta com quem nos ouve e com nós mesmos.

“Reason for Violence” evidência essas tendências, mesmo que todos os temas soem pesados e agressivos, temos temas mais rápidos como “Reason for Violence”, “Love is All Around but the World” e “Real Life is not What You’re Looking for” e outros mais cadenciados como “Cast in Iron”, “The Ride” e “From Hell we Are”. A alternância entre as faixas é algo planejado e discutido entre os membros?

FABIO : Tem um certo planejamento sim, essa parte Pablo Barros faz com maestria pois ele naturalmente acaba direcionando o tipo de música que o disco precisa para uma alternância e ficar o mais harmônico para que a experiencia de quem ouve seja a melhor possível. Pensamos muito nisso na concepção do disco, afinal hoje em dia a experiência de consumir um novo álbum mudou muito. Temos que pensar do primeiro riff ao disco na caixa de som do fã.

“Reason” mantém a linha de seu antecessor, “Blow on the Eye”. Mas acho que a produção deixou o som mais estruturado, entre as passagens e pontes, timbres de bateria e a sonoridade final das cordas. Além de um trampo mais elaborado nas harmonias vocais. Que diferenças você enxerga entre os dois trabalhos?

FABIO : Por mais que na banda não tenha nenhum jovem (risos), sabemos que a experiencia te faz evoluir, “Reason” é a prova disso. A formação da banda mudou do “Blow on the Eye” para o “Reason for Violence”, a entrada de Lex Wave (guitarra) e Raul Campos (bateria) foram fundamentais. Lex é um excelente compositor e Raul tem peso e ritmo que a banda precisava para esse disco. A sonoridade das cordas foi algo bem pensado pois é uma banda que só tem uma guitarra, o baixo precisa estar presente e se destacando da guitarra para não ficar tão colado. Como baixista da banda vou te confessar que deixei transparecer uma grande influência minha que é D. D. Verni do Overkill, nesse disco, tanto na forma de tocar como no timbre. E no final das contas adoramos o resultado final.

A banda lançou um vídeo oficial para faixa título, mostrando uma apresentação ao vivo. Em que show ocorreu a captação das imagens?

FABIO: Esse show foi muito legal e especial, rolou aqui na nossa cidade, São Luís – Maranhão. Foi no final da nossa tour “Reason for Violence Tour”, havíamos feito 15 shows nos estados de SP e PR e para encerrar rolou esse baita evento no centro histórico da cidade, haviam milhares de pessoas, estávamos afiadíssimos voltando da tour e as imagens falam por si só.

As capas de “Blow on the Eye” e “Reason for Violence” transparecem uma alusão às capas de metal oitentista, aquela vibe agressiva direta e impactante. Isso tem algo de intencional?

FABIO: É algo intencional, são parte das nossas referências, capas que fazem parte da nossa vida não? Achamos que a capa deve se comunicar de maneira direta, a concorrência é grande, são inúmeras capas sendo lançadas todo dia. A capa de “Reason for Violence” já é uma evolução, pois nela conseguimos agregar ainda mais conceito, trazendo elementos da nossa cidade, no caso São Luís (MA).

Num passado nem tão distante, muitas das grandes bandas tiverem que se mudar para São Paulo para tentar um salto na carreira, como aconteceu com Sepultura e Krisiun. Os tempos mudaram, como você encara o desenvolvimento do Brutallian, permanecendo em seu estado natal?

FABIO: Acredito que fazemos parte daquele grupo que tem uma vida profissional fora da banda e que usa isso para manter a própria banda. Cada um aqui trabalha em uma área, isso é necessário pra gente manter essa constância de lançamentos de discos, videos, músicas…precisamos do nosso trabalho para manter nossas vidas, não somos mais tão jovens…(risos). Isso implica diretamente na nossa forma de trabalhar com o Brutallian, sempre de maneira organizada conseguimos fazer shows em outros estados, tour e o que mais vier. Moramos no Nordeste, o que nos tira de muita coisa que rola no Sudeste infelizmente, mas mesmo assim isso nunca nos impediu de tocar em São Paulo, Londrina, Juazeiro do Norte e até minha cidade natal, São José do Rio Preto. Em tempos onde não se vende mais tanto discos, as bandas de nosso underground, tem de se concentrar em shows. 

Como estava sendo o movimento de shows do Brutallian, antes da pandemia do Covid?

FABIO: Tocou em um belo ponto! Para vender discos precisamos dos shows! Vendemos pela internet, tem nosso disco no site da Die Hard, mas onde vende mesmo é no show, isso ainda nos impressiona. Claro que pra isso se manter tentamos sempre vender nossos discos com um preço mais acessível, investimos sempre no merchandising da banda e já aprendemos que muita gente que compra uma camiseta acaba comprando o CD, ainda mais se ele estiver em um preço mais acessível. Antes da pandemia estávamos engatando vários shows no Nordeste, era nossa meta para esse ano, mas infelizmente o plano teve que mudar drasticamente.

Algum show memorável, que marcou bastante a banda, nesses anos todos?

FABIO: De forma pessoal carrego dois shows que me marcaram. O primeiro em 2017 no Festival BR-135 aqui em São Luís, fomos a primeira banda de Heavy Metal nesse festival (é um festival que abrange a música autoral independente do Brasil) e o local do show é um ponto sensacional em São Luís, o centro histórico com seus casarões do século passado, um local de muita história e cultura. E o segundo show foi em Rio Preto, claro…(risos)! Em 2018 a nossa tour passou pela cidade e lá pude reencontrar grandes amigos e até rever meus pais, afinal é minha cidade natal e um lugar que significa muito pra mim.

Vocês registraram em vídeo uma versão muito boa de “Arise”, do Sepultura. O que os motivou fazer tal trabalho e, tiveram alguma visão dos caras do Sepultura sobre o resultado?
FABIO: Sepultura sempre foi uma referência pra gente, em termos de som, postura e resistência. No nosso disco “Reason for Violence” mergulhamos de cabeça no caminho que o Sepultura abriu, usamos elementos musicais da cultura do Maranhão nesse disco, você pode ouvir a instrumental “Matracada” e encontrar a referência direta com o Bumba-boi daqui. O disco “Arise” é o preferido pela banda e a música representa de maneira visceral o que a gente gosta.

Planos para um próximo trabalho de estúdio?
FABIO : Antes da pandemia estávamos em estúdio, concluindo a gravação de duas músicas novas e o cover do Sepultura, só tivemos tempo de lançar “Arise”. Temos dois videoclipes pra lançar com essas novas músicas, provavelmente somente em 2021.