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Um filme de sessão da tarde baseado em uma música fraca de uma banda superestimada. “Eduardo e Monica”, o longa-metragem baseado na canção homônima de Renato russo e gravada pela Legião Urbana tem grande apelo e vai lotar as salas de cinema – tomara que isso aconteça e ajude o setor a se reerguer -, mas é uma comédia romântica bem-feita, mas simplesinha. E só.

O roteiro é o melhor da obra, pois foi necessária uma criatividade imensa para expandir o pobre argumento da canção de Russo. Justamente pela diferença de qualidade, é bem inferior ao filme “Faroeste Caboclo”, outra música que virou filme a partir de uma música igualmente fraca e pretensiosa, mas que virou uma fita de qualidade surpreendente graças a um roteiro bem amarrado e expandido.

Claro que a visão cinematográfica, ainda que pobre, predominou em Renato Russo quando decidiu por suas minióperas-rock, seguindo a trilha inaugurada em 1966 por Pete Townshend, do The Who, nas canções “Rael” e “A Quick One, While He’s Away”.

Provavelmente, são pouquíssimas as canções do rock nacional, isoladamente, capazes de inspirar um filme. Neste ponto, sem discutir a qualidade do argumento que serviu de base, ponto valioso para Renato Russo e Legião Urbana.

É bom que esse longa, que traz uma atuação iluminada da estrela internacional Alice Braga, sirva de ponta-de-lança para o ressurgimento do cinema nacional de massa.

É um refresco que possamos contrabalançar todos os ataques à cultura e ao entretenimento, bem como à ciência, com arte e leveza. 
Rebelde por natureza e inconformado, Renato Russo, ainda que de forma inocente e pouco desenvolvida, embute na canção referências culturais na personagem Monica ao mostrar que ela fala alemão, lê livros de grandes escritores universais e valoriza saraus e eventos artísticos, o que, por si só, já é uma porrada na cara desde sempre nos seres desprezíveis que se orgulham da própria ignorância. São os mesmos seres que vomitam apoio à extrema-direita que infecta Brasília com o nefasto presidente da República.

O nicho legionário parece ser tão lucrativo que outra canção da banda pode virar filme, nas palavras do diretor de “Eduardo e Monica”, René Sampaio
Em entrevista à jornalista Renata Boldrini, parceira da Ingresso.com, ele deixou escapar que, além desta última produção, que chegará aos cinemas em 20 de janeiro, ele elegeu outras duas canções de Renato Russo para serem adaptadas às telonas 

Segundo ele, adaptar as composições do icônico vocalista do Legião Urbana foi na verdade o que o motivou a estudar cinema. “Quando eu era moleque e já queria ser diretor, eu sabia que queria fazer ‘Faroeste Caboclo’ e deu certo. Mas eu sempre quis ver outras duas. ‘Eduardo e Mônica’ era mais uma. Agora, quero fazer a terceira música”, revela. Só que na hora de contar qual seria a escolhida, desconversou. 

Falando sobre o filme em conversa com os produtores de “Eduardo e Monica, a atriz Alice Braga destacou a complexidade de criar essa relação entre os dois, tão diferentes não só na personalidade, mas também na idade. 

“Foi preciso criar uma espinha dorsal de cada um deles e entender como ser possível essa mulher se apaixonar por um garoto e como seria essa jornada”, disse a atriz, escolada por atuações em novela da TV Globo e hoje requisitada profissional em Hollywood.

“Eduardo e Monica” é um refresco diante de uma pandemia de covid-19 que não acaba e transmite bons sentimentos, principalmente para quem viveu os anos 80 e um pouco dos 90.

Não chega a ser uma comédia romântica bobinha – tem mais méritos do que a própria canção que a inspirou -, mas tem de ser observada dentro do verdadeiro contexto de seu lançamento: é diversão e entretenimento simples, e mais nada. Se alguém ainda busca algum tipo de genialidade em Renato russo, não será neste filme e muitop menos na música em que este foi baseado.