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A América do Sul tinha construído larga reputação de realizar bons festivais de rock, principalmente n Brasil a partir de 1990. Hollywood Rock e Monsters of Rock era realizados quase anualmente e só depois é que o Rock in Rio virou bienal.

Por isso o mercado saudou o anúncio de um megafestival no Nordeste em 2011, supostamente respaldado por patrocinadores e dinheiro público de prefeitura e governo do Estado. Só o local é que causou estranheza: São Luís, no Maranhão, que exigiria esforço extra – e gastos maiores – com a logística de transporte de bandas e público. 

O público em geral gostou da ideia, mas quem era do meio desconfiou do sucesso do empreendimento desde o começo: promotores inexperientes, custos enormes, logística complicada, patrocinadores sem dar as caras e dinheiro público ainda não liberado.

Infelizmente s temores se confirmara; previsto para abril de 2012, o Metal Open Air, em São Luís, fracassou e deixou um rastro de raiva, acusações e muitos prejuízos.

Um empresário maranhense, Natanael Júnior, e outro paulista, Felipe Negri, conseguiram promessas de receber dinheiro da Prefeitura de São Luís e do governo do Maranhão para promover um festival de metal. Tiveram inicialmente o apoio de algumas empresas e pensaram grande: vamos fazer uma edição do Wacken na América do Sul. Chegaram a usar o nome daquele evento, mas logo foram desautorizados.

Tudo muito amador, principalmente o esquema de venda de ingressos e pacotes. A coisa começou a desmoronar dois meses antes do evento, marcado para o começo de 2012. A logística também não funcionou a contento, principalmente em relação às bandas.

Artistas nacionais e estrangeiras começaram a cancelar meses antes suas participação por descumprimento de contrato e falta de pagamento antecipado. Muita coisa estava dando errado, mas ainda assim as atividades continuaram, 

Alguns artistas viajaram a São Luís, mas não tocaram. Na véspera do festival, os organizadores sabiam que não haveria verba pública para bancar o evento, mas as atividades prosseguiram – havia pelo 5 mil pessoas de outros Estados na cidade cm ingressos comprados. Até hoje não se sabe se realmente houve promessa de dinheiro público e, na última hora, a verba foi recusada.

Outros artistas, sem pagamento, tocaram mesmo assim, casos de Megadeth e Korzus, que suportaram a falta de estrutura e a retirada dos serviços contratados de som e infraestrutura – prestadores de serviço não foram pagos. 

O local escolhido para o festival, a quilômetros do centro de São Luís, era uma antiga estrebaria e fazenda de criação de gado sem a menor estrutura e condição de abrigar tamanho evento. Até hoje não se sabe ao certo o total do prejuízo gerado.

O fracasso do Metal Open Festival teve tamanha repercussão negativa no mundo que afetou por anos a credibilidade dos promotores sul-americanos de rock sérios. Tudo ficou mais caro e bandas que sempre tocaram por aqui, de uma hora para outra, começaram a fazer exigências que nunca tinha feito, mesmo sabendo que os contatos habituais eram de confiança.

Dívidas e processos

Dez anos depois, ainda há batalhas na Justiça por conta de pedidos de reparações. Reportagem do G1 Maranhão apurou que apesar de os organizadores terem sido condenados em 2018, as indenizações por danos morais seguem em suspenso. O valor destinado a cada pessoa que compareceu ao evento foi fixado em R$ 3.541,83.

De acordo com o texto, “a decisão foi resultado de ação civil pública movida pelo Ministério Público junto com o Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (IBEDEC). 

“O processo tem como réus as produtoras do evento Lamparina Produções Artísticas, Luiz Felipe Negri de Mello, Natanael Francisco Ferreira Júnior e Negri Produções Artísticas. A sentença foi proferida pelo juiz Douglas de Melo Martins, da Vara de Interesses Difusos e Coletivos da Comarca da Ilha. Ele também determinou aos organizadores o pagamento de R$ 200 mil por danos morais coletivos, acrescido de correção monetária e juros legais”, informa o G1 Maranhão.

Leia a seguir as explicações dos advogados de defesa dos empresários Felipe Negri e Natanael Júnior a respeito da situação judicial dos problemas envolvendo o Metal Open Aire. esses textos foram publicados pelo G1 Maranhão e pelo site www.igormiranda.com.

Defesa de Felipe Negri:“A Negri Produções foi uma das empresas que foram contratadas para prestação de serviço no evento, no caso, foi responsável por realizar a contratação de alguns artistas solicitados por Natanael, o que de fato ocorreu.

Todos os artistas contratados via Negri Produções compareceram no evento, porém como a estrutura fornecida pela organização local não era adequada e não cumpria os requisitos mínimos solicitados pelos artistas, alguns deles se recusaram a subir no palco, estrutura essa que era responsabilidade de quem promovia o evento. 

Toda a estrutura do evento era precária conforme observado, tanto para o público como para os artistas. A obrigação da estrutura do evento, como, palco, limpeza, segurança, alimentação, e demais para realização evento eram de total responsabilidade de seus realizadores Sr. Natanael e Marcelo Caio [Lamparina Produções], sendo a Negri Produções responsável apenas por contratar as bandas internacionais para tocar no evento, o que foi devidamente cumprida. 

No que tange ao processo de indenização, cabe esclarecer que a empresa Negri Produções, em síntese, como empresa contratada, consignou que sua responsabilidade era somente com o fornecimento dos artistas solicitados e que essa obrigação foi devidamente cumprida e entende que todos os consumidores que foram lesados podem e devem ser devidamente ressarcidos já que o evento possuía um seguro para dar cobertura a qualquer sinistro que por ventura viesse a ocorrer, o que foi informado e questionado diversas vezes durante o processo.”

Defesa de Natanael Júnior:”“Em 2020, fui inocentado no processo criminal movido pelo MP. Ficou provado que tudo que foi noticiado não correspondia ao que aconteceu de fato, além disso ficou comprovado nos autos do processo que paguei todas as atrações e todos os custos do festival. 

Quando soube que o processo movido pelo Dr. Douglas foi julgado à revelia, nossa defesa o procurou para termos a oportunidade de defesa. Em seguida teve uma audiência entre as partes. Estamos aguardando as partes seguintes do processo e na ocasião apresentamos o seguro do evento para ressarcimento dos dias que não aconteceram os shows. 

O evento já fez 10 anos no dia 22 de abril. Maiores detalhes vão estar em um documentário que está em produção para ser exibido nacionalmente.”