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 Ricardo Gozzi – do site Roque Reverso

Era pra ser apenas um EP, mas a Banda das Velhas Virgens aderiu ao novo normal destes tempos de pandemia. Isto resultou – não totalmente sem querer, é claro – no 19º CD da carreira da irreverente trupe paulistana.

A ideia de “O Bar Me Chama” surgiu a partir da intenção de homenagear o roquenrow setentista sem deixar de lado a essência da banda.

Uma audição das dez músicas que compõem o trabalho mostra que o objetivo foi alcançado com sucesso.

Cada vez mais, a trajetória da Banda das Velhas Virgens assemelha-se um pouco à do AC/DC, guardadas as devidas escalas e proporções.

Muita água passou por baixo da ponte, mas o roquenrow e a irreverência mantiveram-se intactos com o passar dos anos.

Com produção de Gabriel Fernandes, o álbum teve por enquanto apenas um lançamento virtual.

Segundo Paulão de Carvalho, porém, a ideia é realizar shows e promover o trabalho ao vivo assim que as condições sanitárias permitirem. Afinal, o tempo passou e uma parte da banda até já se enquadra no grupo de risco, brinca o vocalista e fundador da banda.

Apesar da manutenção da essência das Velhas Virgens, uma das principais diferenças em relação a trabalhos anteriores está presente já na faixa que abre o CD. “Mazzaroppi Blues” é uma música instrumental pensada e executada para Paulão e sua gaita.

De “O Bar Me Chama” em diante, as Velhas Virgens seguem em sua mais pura essência até “Luisa e Ana”. Trata-se de uma versão de Paulão para “Lousiana”, de Percy Mayfield, que fez algum sucesso nos anos 70 na voz de Mike Kennedy.

Além de Paulão na gaita e na voz, as Velhas Virgens seguem com o também fundador Alexandre Cavalo Dias na guitarra base, Tuca Paiva no baixo, Juliana Kosso nos vocais, Filipe Cirilo na guitarra solo e Simon Brow na batera.

Disco novo, livro novo

E pra mostrar que a pandemia foi mesmo produtiva, não bastasse o novo álbum, Paulão vem também com um novo livro.

Em “Os 12 Homens do Samba”, a ser lançado pela editora “The Books” ao término de uma campanha de crowdfunding, o vocalista das Velhas Virgens dá novos contornos a sua veia criativa ao embarcar numa viagem de realismo fantástico que mescla boemia, humor, espiritismo e a música popular brasileira da primeira metade do século 20.

A ação se passa na Vila da Lapa Antiga, uma espécie de limbo adjacente ao Céu, ao Inferno e ao Purgatório, um lugar atemporal cuja existência é desconhecida por um Deus nem tão onisciente assim.

Segundo o autor, por ali perambulam os espíritos desencarnados dos tais 12 homens do samba, um grupo de artistas que inclui Noel Rosa, Adoniran Barbosa, Lupicínio Rodrigues, Ataúlfo Alves, Ari Barroso, Luis Gonzaga e outros grandes expoentes da música brasileira.

“Todo ano, por ocasião do carnaval, estas pandegas entidades fogem do Céu dos músicos e vão curtir as festividades de Momo, para irritação dos anjos que comandam o trânsito dos mortos: Ludwig, Johann e Wolfgang”, em alusão a Beethoven, Bach e Mozart, explica Paulão.

Eis que uma pessoa viva – um músico, claro – surge na Vila da Lapa Antiga em meio a este desfile de mortos-vivos. O resto é spoiler.

“Este livro é muito importante na minha vida”, afirma Paulão. “Comecei a escrever há dez anos, inicialmente como um projeto de série de TV. Como ninguém parecia entender a ideia, escrevi a história com começo, meio e fim.”