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Cada vez mais sujo, agressivo e… empacado. O rock mais agressivo que continua em busca de um propósito parece i potente na capacidade expandir a sua mensagem política e ativista diante de tantos perigos que rondam a sociedade brasileira. 

Na última Virada Cultural Paulistana, o rock foi confinado a um palco no extremo da zona oeste, no Jardim Peri-Peri, atraindo um bom, público, mas de iniciados, já que havia a predominância de bandas punks.

Muitos garotos ainda parecem inebriados com os dias de glória do movimento que sacudiu o mundo a partir de 1977, mas estão perdidos quanto a expandir o movimento e tentar influenciar, de alguma forma, com seu discurso, os rumos políticos de parte da sociedade brasileira.

Prova disso foi o alerta feito por algumas lideranças políticas e sindicais presentes ao placo do punk sobre uma votação muito importante na Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (2). 

Deputados federais deveriam votar um projeto que permite aos bancos tomar imóveis de inadimplentes e endividados mesmo que esse imóvel seja o único bem da família (PL 4.188/2021, que só poderia ser de autoria de um bolsonarista). 

É uma tentativa de alterar uma lei de 1990 que garantia a impenhorabilidade do imóvel se este fosse o único bem da família e fosse dado em garantia de dívidas. O projeto asqueroso foi aprovado por 260 votos a 111 (onde será que estavam os  quase 150 deputados que não votaram?). O texto agora segue para o Senado, onde há alguma chance de ser derrubado.

É só entretenimento?

Apesar de o assunto ser gravíssimo, não encontrou eco entre os espectadores de rock no Butantã. O desencontro e a desarticulação era tão grandes que muitos não tinham ideia que se estava falando – e não demonstraram interesse em entender o assunto.

Havia também parte expressiva do público que dava mostras de o punk rock dos Inocentes, do Cólera, e das Mercenárias era apenas parte de um entretenimento gratuito destinado a servir de trilha sonora para umas cervejas em lata quentes á beira do asfalto.

O rock, por definição, é ativista e contestador, perde relevância quando deixa de ser perigo. É o que acontece hoje no gênero em todo o mundo, e pincipalmente, no Brasil.

As bandas de metal extremo continuam, contendentes no discurso, mas perdem poder de fogo porque batem em um teto desde sempre – a própria agressividade, infelizmente, joga contra. 

Coisas maravilhosas como “Necropolitica”, dos Ratos de Porão, e “Pandemia”, da Dorsal Atlântica, se apoiam em uma estética agressiva e extrema, bem condizente com suas trajetórias, mas continuarão confinadas a um público mais restrito porque há muito pouca gente disposta a ouvir além do nicho roqueiro extremo.

É desalentador saber que mesmo entre roqueiros, no geral, aqueles que não ouvem as modalidades extremas, a receptividade desse tipo de obra é ruim, eivada de ironias e piadas, quando não xingamentos. Para esse tipi de imbecil, esse tipo de musica é realmente perigosa, já que pode deixar sequelas e deixar essa gente mais “bem informada e inteligente”.

Tão perto, tão longe…

Quando falamos então de bandas que cantam em inglês, é claro que a coisa piora bastante, por motivo óbvios. Krisiun, Crypta, Nervosa, The Damnnation e muitas outras também esbarram nas limitações do próprio gênero extremo e são vistas pelo mercado como exóticas, como mera curiosidade.

Com a perda de relevância e espaço dentro da música brasileira, o rock deixou de ser uma influência, para o bem e para o mal. As mensagens têm alcance restrito, e artistas novos querem distância de polêmicas nos segmentos mais pop e acessíveis.

Entre as bandas mais antigas, Ira!, Plebe Rude e Detonautas ainda insistem em canções mais engajadas e de boa qualidade, mas a sensação ´de alce limitado. O discurso que tornava o rock perigoso migrou para o rap e para funk de inspiração carioca..

O funk incomoda e se torna perigoso porque mexe com a moral conservadora que empesteia o país dos tempos bolsonaros asquerosos. 

As letras repletas de palavrões, termos chulos alusivos a relações sexuais e deboches enfurecem estúpidos e indigentes intelectuais que nunca passaram de falsos moralistas, cristãos de qualquer matiz que fazem escondido o que criticam em público.

O rap é perigoso ainda hoje, 30 anos depois do surgimento dos Racionais MC’s, porque encontra eco com sua mensagem de insurreição social e antirracista. 

O perigo negro no rap está na explícita pregação/estímulo à convulsão social de um povo que continua acorrentado, apartado da sociedade e cansado de apanhar.

Quando foi que o rock chegou perto disso, excetuando-se os exemplos punks e metal extremo de sempre?

A discussão que escancarou a extrema nojeira do contratos de cachês dos artistas sertanejos – 95% deles bolsonaristas, como era de esperar – surgiu a partir do nada, de uma polêmica aparentemente estéril evolvendo as tatuagens de Anitta e sua suposta adesão à Lei Rouanet. 

Domesticado e inofensivo

O tema pegou fogo e mobilizou da academia aos locais mais sérios de jornais e sites políticos. E o rock passou á margem dessa discussão. 

O rock está cooptado, domesticado e amestrado, enquanto Anitta se torna a artista mais polêmica e perigosa apenas e tão somente por conta de sua tatuagem em local inusitado e porque continua insistindo vigorosamente para que os jovens entre 16 e 18 anos de idade tirem o titulo de eleitor para votar nas próximas eleições – algo que enfurece bolsonaristas e extremistas de direita. 

Quando foi que o rock enfureceu alguém pela última vez no Brasil? Nos anos 90?

Convenhamos, para o rock trata-se de uma derrota fragorosa. Espera-se que haja muitas manifestações políticas no Rock in Rio, que será realizado dias antes do primeiro turno das eleições gerais.

O nome mais importante do rock nacional neste século é Jota Quest, que conseguiu manter i pop rock em alguma relevância, embora tenha perdido fôlego nos últimos cinco anos. 

Depois deles, no período, vem Skank, O Rappa e, com alguma boa vontade, Los Hermanos. Dos quatro citados, apenas O Rappa incluiu mensagens importantes e inequívocas de engajamento social e ativismo social – não por coincidência, a única a ser sistematicamente “escanteada” e frequentemente associada a drogas por conta de algumas poucas letras.

Novamente, claro que não surpreende, diante desse quadro, a falta de “periculosidade” do rock – e o que é mais irritante, parece ter sido uma opção, em termos gerais, dos artistas do gênero musical.

Há quem diga que, antes de falar sobre a “falta de perigoso” do rock atual, no Brasil e no mundo, é preciso olhar um pouco mais para trás e entender o que o mundo da música nos diz atualmente. 

Antes de mais nada, o rock precisa voltar a falar com a juventude, como sempre bate nessa tecla o jornalista Mauricio Gaia, integrante do Combate Rock. 

Onde estão os jovens?

Os jovens se afastaram do rock porque, em algum momento, este deixou de representá-los enquanto veículo de expressão, migrando para o rap, hip hop e, de alguma maneira, para o funk carioca. 

O rock foi domesticado e deixou de ser perigoso e de representar a juventude. Quando isso ocorreu? E por que só percebemos isso agora?

Agressividade e discurso contundente não bastam. Estão parando nas bolhas roqueiras mais esclarecidas e engajadas. Não ultrapassam fronteiras. 

Portanto, teremos de recomeçar do zero, e para isso, é necessário e primordial se reconectar com a maioria da juventude.

 O jovem precisa voltar a enxergar o rock como uma manifestação capaz de representá-lo, de ser fazer ouvi e de ser capaz de intimidar o sistema – ou de causar algum impacto. 

Domesticado e inofensivo, o gênero permanecerá confinado a um passado distante e falando para ninguém no século XXI.