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FOTO: DIVULGAÇÃO

Foi preciso uma pandemia mortífera para que a música pop voltasse a ter relevância sociopolítica e musculatura para confrontar o caiptal e a indústria após anos de mergulho nos pântanos das perdas financeiras e de audiência.

O mundo tomou conta dos perigosos caminhos das trevas no rock quando Eric Clapton e Van Morrison perderam o juízo e abraçaram teses negacionistas no auge da pandemia ao bradar contra o isolamento social e as vacinas – e as consequentes paralisações nas atividades culturais. Chegaram a lançar quatro músicas péssimas antivacinas.

Diante de tal absurdo, lentamente, mas de forma consistente, astros dos mais variados calibres se insurgiram contra as teses medievais e isolaram os dois astros britânicos e outros imbecis que vomitam contra as vacinas e as “liberdades individuais”.

O passo mais estrondoso foi dado por Neil Young em janeiro, quando exigiu a retirada de todo o seu catálogo do Spotify, que patrocina e apoia um podcast em sua plataforma que dá voz a negacionistas e irresponsáveis de todo o tipo.

A empresa não pensou duas vezes e ficou do lado de Joe Regan, o autor do podcast asqueroso que atacou as vacinas em um episódio. O Spotify afirma trata a questão da “liberdade de expressão com equlbrio e sensatez”, em uma tentativa nojenta de justificar a decisão de banir as músicas do guitarrista canadense.

Imediatamente o artista ganhou o apoio de gente como Peter Frampton e Joni Mitchell, também astros importantes do classic rock. Mitchell foi além e pediu a imediata retirada de mais de 40 álbuns da plataforma digital. Outros 20 artistas relevante do rock e do pop apoiaram o canadense e avaliam a saída do Spotify.

Do lado oposto, apenas um cantor de segundo escalão falou publicamente a favor da plataforma digital. Jaison Draiman, da decadente banda de metal Disturbed, aplaudiu a decisão do Spotify afirmando que se trata de defender a “liberdade de expressão” contra a política dfo cancelamento, como se fake news e irresponsabilidade sanitária fossem passíveis de defesa.

Olhando por um determinado ponto de vista, talvez fosse necessária essa polêmica para resgatar a música pop diante da pasmaceira atual diante das mentiras sistemáticas e da ignorância disseminada de forma deliberada.

A postura de Eric Clapton não foi combatida da forma coo deveria porque foi tratada, desde o começo, de forma folclórica e como uma espécie de arroubo senil de um artista idoso que já demonstrara no passado comportamentos vexatórios e reprováveis.

A insurgência de Neil Young foi reveladora saudável por mostrar que ainda existe atitude e inteligência no mundo do rock, em que a contestação sobrevive e ainda há espaço para o confronto contra a indústria predatória e perniciosa.

Aliás, não foi o CEO do Spotify que vomitou recentemente uma nojeira a respeito da remuneração pífia aos autores e compositores? Defendendo-se das acusações de exploração e de pagar baixíssimos valores aos músicos, o sueco Daniel Ek ousou insinuar que os artistas são “preguiçosos” e que precisam “trabalhar mais”, ou seja, compor muito mais músicas se quiserem aumentar suas remunerações.

Os reflexos da contenda entre a plataforma e Neil Young puderam ser comprovados nos dias seguintes à retirada das músicas do guitarrista, com queda nos acessos e execuções – nada ainda significativo, mas que acende um alerta a todos os serviços de streaming a respeito de suas posturas sociopolíticas e em relação a muitos outros temas sensíveis nestes tempos bastante complicados.

De forma bastante emblemática, os roqueiros negacionistas e medievais brasileiros preferiram o silêncio diante da avalanche de críticas e cancelamentos sobre quem apoiou o Spotify.

O bolsonarismo asqueroso, seja por extrema ignorância ou por conta de um segundo de bom senso, está mudo e mais preocupado com outra vergonha que afeta o presidente da República nefasto, que descumpriu uma determinção do STF (Supremo Tribunal Federal) e corre o risco de sofrer sanções.

Neil Young e Joni Mitchell fizeram o favor de nos lembrar que a arte não pode ser irresponsável e compactuar com posturas criminosas e lesivas à sociedade. Ambos terão perdas de receitas, mas colocaram isso em segundo plano para incentivar o engajamento e o ativismo em, causas extremamente nobres e necessárias.. O mundo está respirando e dormindo melhor ao som das músicas de Neil Young.