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Não são poucos os que consideram o baterista Mike Portnoy (ex-Dream Theater e atual Sons of Apollo) o salvador do rock progressivo neste século XXI. Com seus projetos Transatlanic e Flying Colors, conseguiu atrair a atenção de um público mais jovem para uma música mais elaborada, mas sem o pedantismo do prog setentista.

Com isso, bandas segmentadas como Spock’s Beard, Porcupine Tree e Neal Morse Band, entre outras, aproveitaram o caminho aberto e inauguraram uma espécie de segunda onda internacional do chamado neoprog.

Dois dos artistas da leva do final do século passado voltaram em 2022 com novas trabalhos e demonstrado o vigor que o subgênero ainda mantém – a banda sueca Flower Kings (cujo guitarrista e líder, Roine Stolt, integra o Transatlantic) e a cantora norte-americana Lana Lane.
Com prestígio gigantesco no meio progressivo, os suecos do Flower Kings frequentemente são considerados os melhores da atual geração, embora a banda seja veterana. Stolt é tão respeitado que há alguns anos gravou um álbum com ninguém menos do que Jon Anderson, ex-vocalista do Yes.

A mistura de estilos clássicos das bandas inglesas dos anos 70 forjou um som único, onde a sofisticação do Yes convive perfeitamente com a leveza do Genesis, com a opulência de Emerson, Lake & Palmer, com a inovação do Pink Floyd, com o experimentalismo do King Crimson e um certo peso do Marillion.

ara abarcar tamanha quantidade de referências, como sempre, seriam necessários dois CDs, e é o que temos no álbum “By Royal Decree”, com mais de uma hora e meia de música.

O grupo é daqueles que são incapazes de produzirem coisas ruins, então a audição do novo trabalho vale a pena de qualquer maneira. Talvez não seja o mais inspirados dos lançamentos recentes da banda, e 18 músicas podem soar em excesso, mas ainda assim ouvir na íntegra é bem agradável.

Para os não tão aficionados do rock progressivo mais puro há várias possibilidades de degustação, já que é um trabalho bem variado. “A Million Stars” segue uma tendência um pouco mais moderna, sem tantos teclados e com uma guitarra que combina mais o rock alternativo atual.

“We Can Make It Work” soa mais pop e acessível, com sua urgência e guitarras mais altas, com o vocal de Stolt dominando totalmente a cena. “Revolution”, uma das melhores, é progressiva por excelência, com teclados e guitarras em constantes duelos e uma letra futurista e utópica.

Dá para destacar ainda World Gone Crazy”, psicodélica e climática, com teclados incandescentes, e “The Darkness in You”, uma balada caindo para o blues com escelente interpretação de Roine Stolt.

Já Lana Lane despontou em 1993, na Califórnia, em um circuito segmentado de música sinfônica e progressiva e, dois anos depois, ao lado do marido, o tecladista Erik Norlander, lançou seu primeiro disco, que foi bastante elogiado, mas vendeu pouco.

O sucesso chegou em 1998 com “Queen of the Ocean”, onde refinou o seu rock progressivo com um tempero mais pop e um pouco mais de guitarras, além do baixo frenético e intenso de Tony Franklin (ex-The Firm, banda de Jimmy Page e Paul Rodgers).

A carreira progrediu bem até 2012, quando gravou e lançou “El Dorado”, seu melhor álbum. Surpreendentemente, fez poucos shows e desde então viveu uma espécie de exílio pessoal, embora não tenha se afastado da música.

“Neptune Blue” é o seu retorno dez anos depois e em alto estilo, embora as canções deem margem a suposições de que já estivesse gravadas lá em 2012, pois parecem uma sequência imediata de “El Dorado”.

Em vez de inovar, a cantora preferiu revisitar esquemas do passado e acabou se dando bem, aproveitando o ecletismo de Norlander, que domina todo o ambiente com suas linhas climáticas de teclados que preenchem todos os espaços.

“Bring It On Home” flerta com o blues e com o rock de arena e deixa a cantora brilhar em uma interpretação forte, enquanto que “Lady Mondegreen” recria ambientes setentistas em que bandas como Curved Air e Renaissance, com mulheres nos vocais, se destacavam.

Tem também uma balada, “Someone Like You”, que destoa um pouco do que Lana Lane costuma fazer, mas as coisas voltam ao normal com as interessantes “Neptune Blue” e “Far From Home”, mais acessíveis e com um acento radiofônico pop que lembram o som de artistas como Bonnie Tyler e Laura Branigan, divas dos anos 80.

Não dá para cravar que Lana Lane tenha sido uma artista injustiçada, mas certamente foi subestimada. Seu trabalho é de alta qualidade, ainda que derivativo do último CD, e aponta para caminhos interessantes, como podemos observar na pesada Remember Me”, na claustrofóbica e rápida “Don’t Disturb the Occupants” e nas clássicas e progressivas “Really Actually” e “Come Lift Me Up”, esta mais lenta e bluesy.