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Gilberto Gil é a maior conexão da MPB com o rock desde sempre. Mais do que Caetano Veloso e outros contemporâneos, soube entender a linguagem roqueira e mesclá-la a uma baianidade/brasileirismo como nenhum outro artista brasileiro tinha feito.

Seus 80 anos de idade quase coincidiram com os de Paul McCartney, e o colocam no patamar mais alto da cultura brasileira – não é à toa que ingressou na Academia Brasileira de Letras, uma indicação muito mais pertinente do que a da atriz Fernanda Montenegro.

Gil sempre valorizou a sua música muito mais do que as polêmicas ou os palpites alheios sobre qualquer coisa. Político sem ser partidário, realizou um trabalho passável como ministro da Cultura, ainda que estivesse desconfortável no cargo. 

Tinha visão de Estado, mais até que o próprio então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para o músico, a administração e o governo deveriam estar a serviço da cultura, e não o contrário. Passou por Brasília de forma digna e manteve a dignidade. Seu lugar é mesmo no palco.

Nunca foi unanimidade em nosso mundo, neste lado de cá: quando resolveu cantar “Punk da Periferia”, foi tachado de oportunista e demagogo, quando na verdade deu visibilidade para uma cultura que ainda era underground naquele começo dos anos 80. 

Gil era rock, como eram Novos Baianos, Secos & Molhados e Raul Seixas, e abusava da batida rock em seu violão. O preconceito, naturalmente natural entre roqueiros mais radicais, não resiste a uma rápida e superficial avaliação de sua carreira. Pode-se ou não gostar de sua música ou de seu trabalho, mas ignorar o mergulho que ele sempre fez no rock é desonestidade intelectual.

Na lista dos 100 melhores discos da música brasileira da revista Rolling Stone Brasil, de 2007, estão lá “Expresso 2222″ (1972),”Refazenda” (1975), “Refavela” (1977), “Gil & Jorge: Ogum, Xangô” (com Jorge Ben, 1975) e “Gilberto Gil” (1968). 

Os três primeiros citados estão encharcados de rock, misturados com uma brasilidade que o diferencia do conterrâneo Caetano Veloso, menos encantado com o ritmo.

Em plena ditadura militar, Gil conseguiu soar inovador e ágil, com algumas canções esbarrando nos limites da contestação. A guitarra soa minimalista em “Expresso 2222” em algumas canções; em “Refazenda”, há sofisticação de arranjos e riffs bastante pertinentes que poderiam estar em qualquer disco de rock mais puro daquela década.

O amigo Mauro Ferreira fez um grande texto exaltando as 80 músicas que trazem o que de melhor Gilberto Gil fez. Tem muito rock dos bons…