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 Marcelo Moreira

Érika Martins, em foto do fim do ano passado (FOTO: ARQUIVO PESSOAL)

Eles são artistas talentosos, com carreiras invejáveis e internacionais, muitos CDs nas gostas e músicas incríveis. Transformam o palco em um pandemônio, no bom sentido e não deixam ninguém parado nas pistas e nas arquibancadas. 

No fim do show, despidas as roupas roqueiras e aura de artistas incansáveis, procuram o primeiro food truck (no nosso tempo, a mais próxima barraquinha de cachorro-quente) e não hesitam em lhe contar a mais nova arte que o cachorro aprontou ou como é difícil encontrar uma lâmpada x para o zoado cômodo da casa. E ainda pedem dicas de livros sobre a II Guerra Mundial ou uma biografia bacana.
Érika Martins e Gabriel Thomaz, que ntegram os Autoramas, são aqueles caras que tomam cerveja conosco e adoram falar de música obscura no boteco, bem longe daqueles músicos que ouvíamos no rádio tocando nas bandas Penélope e Little Quail and Mad Birds.
Já durante a entrevista, a primeira, fazem questão de se tornar amigos, daqueles bons e leais, e como sabem perdoar quando fingimos que a “nova música” nem é tao legal assim” – às vezes até eles mesmos acham isso, ou quase isso…
O casal gente boa mais gente boa da música underground brasileira acaba sendo isso, muito gente boa e muito amigo, daqueles de manterem contato constante e sempre perguntar da mãe, da filha, da produtora, do festival (no caso o In-Edit, o Festival Internacional de Documentários Musicais).
Por isso foi bastante difícil saber que Érika e Gabriel contraíram a covid-19 e ter tão poucas informações sobre eles no começo e ter de torcer no escuro. Mas eis que entra em cena a assessora de imprensa diligente e logo coloca as coisas nos trilhos (valeu, Adriana Baldin). 
Érika teve poucos sintomas e conseguiu se tratar isolada, em casa. Gabriel sofreu um pouco mais e precisou de cuidados maiores em um hospital de Jundiaí (SP), mas já se recupera bem.
Por tudo isso, celebremos a vida, como faz o casal rock mais rock do underground, e saudemos o lançamento de um single solo de Érica Martins, “Grilos”, uma releitura de uma canção interessante de Erasmo Carlos, gravada na companhia do amigo Luiz Lopes. 
Neste momento, não dá para julgar a canção com isenção por conta do contexto em que foi lançada e pela difícil fase em que a cantora e guitarrista passou recentemente. Não é caso de analisar, é caso de celebrar a recuperação e a volta às atividades, torcendo para que Gabriel saia logo do hospital e retome os Autoramas com tudo.
Em primeira mão, leia abaixo um texto sobre a canção escrito por Érika:
“Sabe quando as coisas se encaixam no momento perfeito?
 
Quase 1 ano de pandemia, entro na live do Luiz Lopez e ele toca “Grilos” do Erasmo. Vrummmm tudo se encaixa.
 
Entro no instagram e dou de cara com uma das fotos mais lindas que vi nos últimos tempos….vrummmm tudo se encaixa na minha cabeça.
 
Conheci o Luiz Lopez – me corrija se eu estiver errada! – quando fui cantar com o Erasmo em um dos últimos VMBs. Já no ensaio, eu emocionada por estar dividindo o mic com o maior, ouvi do seu guitarrista que me acompanhava há tantos anos e sabia tocar todas as minhas músicas! 

Me emocionei pensando em como os ciclos se fecham…eu ali admirando e agradecendo a quem passou antes de mim, me formou como artista…e respondendo pelo mesmo pra uma geração mais nova. Ê vida legal.
 
Nos papos de bastidores e ensaios para o show da MTV, ficamos combinados de um dia fazermos o “Mi Casa Su Casa” da Penélope na íntegra…11 anos depois, aqui estamos, tudo se encaixando.
 
Quantas vezes falei pro “Erasmão” o quanto “Grilos” era minha música preferida e que iria gravá-la e, como tudo se encaixa tão perfeitamente, nenhum momento significa mais do que este para a frase: “sei que o mundo pesa muitos quilos, não me leve a mal se eu lhe pedir para cortar os grilos, cortar os grilos…” (ah, já contei que os grilos foram gravados lá na varanda de mi casa na Chapada Diamantina?).
E por fim, sou fã do Luiz como artista, como multiinstrumentista e como gente.

“Grilos” foi produzida por nós dois, gravada no “Virgun’s Studio” na Bahia por Anselmo Quinto e no quarto do Luiz no Rio, por ele mesmo. Mixado e masterizado pelo Luiz. Teve participação do Danilo Fiani. Capa/foto da Jocasta Oliveira. Lançamento Ditto Music.”