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 Eles pretendiam fazer um ensaio, mas queriam uma coisa mais “quente”. e então eis que o Bourbon Street, em São Paulo, abriu as portas para uma dupla internacional fazer o ensaio com alguns amigos e nem tão amigos na plateia. Virou um show, e que show, como aperitivo de uma turnê europeia e sul-americana no segundo semestre.

O guitarrista paulista Igor Prado e o tecladista austríaco Raphael Wressnig lançaram o segundo disco há pouco tempo e fizeram uma “premiere” de luxo para privilegiados. E colocaram Bourbon para dançar com o melhor rhythm and blues e soul music.

O novo disco, “Groove & Good Times”, foi a base do repertório e logo ficou claro que a situação era muito séria. Com o baterista Yuri Prado e sem baixista, Prado e Wressnig subiram a temperatura e justificaram os elogios da imprensa europeia.

“É um privilégio tocar com esse cara [Wressnig] e essa oportunidade foi boa para restaurar a nossa musicalidade depois de muito tempo sem tocar por conta da pandemia. Foi muito legal mostrar as músicas do novo CD aqui em São Paulo”, diz Igor Prado.

O órgão Hammond de Raphael Wressnig é um achado e casou perfeitamente com a guitarra de Igor Prado, um estilista da guitarra que é versátil e que tem a capacidade de passar dos fraseados rápidos e intensos a toques elegantes de riffs sofisticados.

Quem conhece o clássico “Ain’t No Love (In the Heart of the City)” com a versão ao vivo do Whitesnake vai se surpreender com a levada jazz/blues instrumental de muito bom gosto do tecladista austríaco. Ele cria climas diferentes e inusitados e tem uma performance acrobática, acrescentando um molho diferente. Brinca com o instrumento como se fosse Jon Lord (ex-Deep Purple, morto em 2012) ou Keith Emerson (ex-Emerson, Lake and Palmer, morto em 2016).

Em clima de jam session, o trio mostrou um entrosamento total para quem insinuava estar meio  “enferrujado”. Foram quase duas horas de um espetáculo intenso e de alta qualidade. Teve até Tim Maia em meio a um medley delicioso e dançante.

E não teve nada de ensaio. Os três curtiram a “vibe”, mas exercitaram tudo o que podiam dentro do que chamaram de “repertório europeu”, com um certo predomínio de músicas instrumentais que são mais do agrado ao público de festivais de jazz e blues daquele continente.

Teve até canja de respeito no ensaio do trio – o guitarrista Marcos Ottaviano, lendário músico do blues brasileiro que marcou época com seu trio, o Blue Jeans, no final dos anos 90. E então teve duelo de guitarras e blues rock, com o resgate de um clássico da carreira de Ottaviano, “When the Music Stops”, que costumava levantar o público nas apresentações do Blue Jeans.

s tecladistas que costumam s especializar em órgãos Hammond geralmente são solistas ou líderes de suas bandas. Um dos mais notórios da atualidade é o australiano Lachy Doley, que nem guitarrista tem em sua banda. É venerado em seu país e na Inglaterra.

Raphael Wressinig optou por um caminho diferente. Como ele costuma fazer o baixo no pedal de seus instrumento, costuma abrir espaço para os instrumentista com quem divide palco e discos. Com isso, é muito afeito ao diálogo musical em jams e nas versões de clássicos da soul music e do R&B.

E não poderia haver parceiro mais indicado do que Igor Prado. Guitarrista de muitos recursos, não seguiu pela trajetória do blues mais tradicional, como ocorre com seus concorrentes por aqui, digamos assim. Na Prado Blues Band e na Igor Prado Band, o desenho de suas músicas sempre pendeu para a soul music, com seus fraseados limpos e cristalino.

Atento aos detalhes e meticuloso, construiu uma sólida reputação de músico criativo e fiel aos arranjos, mas sempre explorando espaços para incluir improvisações ou mesmo inovações. 

O último álbum da Igor Prado Band, “Way Down South”, de 2015, é um exemplo clássico, tanto que o disco ganhou prêmios nos Estados Unidos e concorreu como melhor álbum de banda iniciante (ainda que não exatamente fosse uma banda iniciante) ao maior prêmio do blues americano.

Na consolidação da nova fase de sua carreira, Prado deposita em Wressnig as fichas para uma parceria longeva e com prestígio suficiente para que a carreira internacional alcance patamares cada vez mais altos. Enquanto isso, que nos acostumemos a receber o tecladista austríaco com mais frequência, já que ele adora São Paulo.