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Marcelo Moreira


Jaco Pastorius (FOTO: DVULGAÇÃO/REPRODUÇÃO)


Ele não gostava da comparação, mas não conseguia escapar dela. “O Hendrix do contrabaixo” não conseguia encontrar paralelos, embora o maior deles fosse escancarado: Jaco Pastorius mudou a história de um instrumento musical, assim como Jimi Hendrix fez com a guitarra elétrica. 

Pastorius ria quando diziam que ele praticava uma espécie de punk jazz, mas depois começou a se incomodar com essas e outras nomenclaturas. Para ele tudo era muito simples: era só música, ainda que fosse soberba e sublime. 
Se o colossal Ron Carter era considerado o motor mais preciso e sólido do jazz do século XX, Pastorius era o estilista por excelência, elevando a um grau inimaginável de excelência as performances de baixo no final dos anos 70 e começo dos anos 80. 
Trinta e três anos após sua estúpida morte após uma briga em uma casa noturna, o baixista ganhou o status de lenda do instrumento, mais ou menos como aconteceria três anos depois com o guitarrista Stevie Ray Vaughan, morto em um acidente helicóptero com os mesmos 36 anos de idade.
John Francis Anthony Pastorius III, seu nome verdadeiro, se tornou baixista por causa de um acidente em uma partida de futebol americano. Queria ser baterista, como o pai, de quem herdou a paixão por esportes. 
Com o dom para música, obteve sucesso imediato quando assumiu o baixo em uma banda após se recuperar do pulso quebrado. Assombrou todo mundo com sua técnica e pela sua abordagem melódica de um instrumento rítmico. 
Influenciado por tudo o que é gênio musical – de Beatles a James Brown e de Charlie Parker a Miles Davis -, construiu uma carreira onde era impossível não se destacar onde quer que tocasse, exatamente como Jimi Hendrix sempre ofuscava gente como Curtis Knight e Little Richard. 
O auge de sua trajetória começou em de 1974, quando encarou trabalhos solo de altíssima qualidade e trabalhos com mestres como o guitarrista Pat Metheny, a cantora Joni Mitchell e com o grupo extraordinário Weather Report. 
Reconhecido como músico estupendo e um estilista do baixo, mergulhou de cabeça no show business, transformando-se em estrela do jazz e em um viciado em drogas e em álcool. 
Os principais biógrafos garantem que os problemas mentais que Pastorius começou a apresentar entre 1981 e 1983 foram “disparados” pelo uso de drogas. Foi a fase do declínio artístico. 
Com sintomas do chamado distúrbio bipolar, síndrome de pânico e depressão, começou a apresentar comportamento instável e errático, realçando sua excentricidade e muitas bizarrices. 
Certa vez, quando se apresentavam em Tóquio, foi visto completamente nu e aos gritos sobre uma moto em alta velocidade. Suas performances como instrumentista também mudaram, seu gosto pelo excêntrico e pelas dissonâncias, se tornou exagerado e de certa forma incompreensível. 
Em 1985, restou-lhe apenas tocar em clubes de jazz em Nova York e na Flórida, com os antigos amigos e admiradores se afastando. 
Pouco disposto a aceitar que estava fora do circuito mais importante do jazz norte-americano e com todos fugindo de seu comportamento por vezes violento, foi obrigado a trocar de empresário e aceitar menos para se apresentar de forma inconstante.
 Em setembro de 1987, depois de assistir como convidado um show de Carlos Santana na Flórida, arrumou briga com um segurança da casa noturna, que ignorava quem era o chato que queria confusão. 
Pastorius apanhou feio e bateu a cabeça no chão. Acabou sendo levado, após muita demora, para um pronto-socorro da cidade de Fort Lauderdale com traumatismo craniano. Em coma por dez dias, morreu no dia 21 de setembro de 1987. Um final estúpido para um dos maiores gênios da história da música.