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Marcelo Moreira



Como principal nome do blues contemporâneo, até que a comemoração foi discreta. Para comemorar os 20 anos de sua carreira solo, o guitarrista norte-americano Joe Bonamassa decidiu lembrar a data com um relançamento tímido, com algumas faixas-bônus e mais nada.

“A New Day Yesterday” é o seu primeiro álbum de estúdio. Lá no ano de 2000, o nerd da guitarra do blues se recuperava de uma experiência malsucedida no hard rock.

Criança precoce no instrumento, ganhou manchetes quando dividiu palcos e estúdios de TVs com seus ídolos aos 12 anos de idade. Aos 17, astro precipitado, virou a estrela da banda Bloodline, que lançou apenas um único álbum, autointitulado, em 1994. A repercussão ficou aquém do esperado e o moço resolveu se recolher e estudar.

Seis anos depois, bem mais maduro e seguro, abraçou o blues e iniciou uma peregrinação em busca do reconhecimento artístico dosando as concessões ao mercado.

Seu primeiro disco solo foi o começo de uma jornada em busca de um caminho entre a tradição e a modernidade, entre o blues e rock. 

A maior demonstração de que tinha potencial foi o respeito que teve de sua banda, formada por feras experientes do circuito norte-americano do Texas, Califórnia e de Nova York. 

A faixa-título, um clássico da banda inglesa Jethro Tull, foi transformada e revigorada, mostrando que o moço não só tinha futuro, mas que era o próprio futuro do blues rock.

O álbum ficou em 9º lugar na parada de álbuns de blues da Billboard dos EUA e gerou os singles “Miss You, Hate You”, em 2001, e “Color and the Shape” em 2002.

Seis das doze canções são composições de Bonamassa e o álbum foi avaliado positivamente pela crítica, que elogiou as atuações do guitarrista.

“A New Day Now” pretendia ser uma repaginada no lançamento original, mas Bonamassa, perfeccionista, decidiu pela regravação de algumas partes e acrescentar mais três músicas, escritas em coautoria com Steven Van Zandt, guitarrista da banda de Bruce Springsteen, e produzidas por Kevin Shirley, seu parceiro atual e com quem trabalha também na banda Black Country Communion.

É bom ver o nerd de volta a um tempo em que ele era mais visceral e intenso – não que tenha perdido essas características, mas a maturidade e o tempo trataram de sofisticar e meio que domar, de certa forma, a energia vulcânica que Bonamassa imprimia a seus trabalhos.

É um belo aperitivo para o próximo disco da carreira, que deverá contar com músicas inéditas, como “Conversation with Alice”, já lançada em como single e que envereda por um lado mais country e folk.

Além do monumento que é “A New Day Yesterday”, outras duas gemas merecem destaque: “Cradle Rock”, um blues rock classudo e com uma performance arrasadora de guitarra, e “Walking in My Shadow”, classicaço do blues que ganhou as paradas nos anos 70 com a banda inglesa Free, do cantor Paul Rodgers.

São as três primeiras canções e já valem, por si, o álbum inteiro. “Colour and Shape” e “Miss You, Hate You” também merecem elogios em profusão, seja pela qualidade, seja pela performance estudada e metodicamente registrada.

Entre as três novas canções, o destaque é “Line of Denial”, uma faixa forte e com um trabalho de guitarras de extremo com gosto.

Embora com público crescente e sucesso absoluto de crítica, Bonamassa se tornaria uma lenda e o nome mais importante do blues neste século algum tempo depois, consolidado a carreira com canções como “Ballad of John Henry”, “Sloe Gin”, “Dust Bowl” e discos ao vivo extraordinários.

Bonamassa respeitou boa parte dos arranjos originais elaborados e tornou mais moderna uma gravação que em 2000 parecia bastante urgente, ainda que, de certa forma, sofisticada.

Vinte anos depois, é interessante ouvir as duas versões, logo na sequência, para ver a evolução do guitarrista e como ele via a música que escolhera para iniciar sua tardia, de certa forma, carreira solo.