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Eduardo Kaneco* – especial para o Combate Rock

A turnê de despedida do Kiss, “End of the Road World Tour”, chega ao Brasil. É a derradeira oportunidade de presenciar ao vivo uma das mais bombásticas apresentações musicais da história. Uma afirmação sustentada também pelo seu pioneirismo, pois desde a primeira metade dos anos 1970, a banda inseriu pirotecnia e números circenses aos seus shows. Qual outra banda trazia um dos membros cuspindo fogo pela boca?

E um ingrediente inédito e exclusivo era o uso de máscaras e fantasias, não apenas para adicionar um visual diferente nos palcos. A motivação da criação de personagens ia além. 

Quem conheceu o Kiss antes de 1983, vivenciou a idolatria de personas – termo que hoje virou até conceito de marketing (o que vislumbra a genialidade do talento mercadológico de Gene Simmons, um dos líderes do Kiss). 

Na primeira década (ou pouco mais), ninguém conhecia as reais faces dos músicos do Kiss. Simmons, Paul Stanley, Ace Frehley e Peter Criss ostentavam representações, aquelas figuras que víamos nos palcos e nas aparições públicas oficiais. Mas, como eram eles na verdade? 

Logo surgiu até a mitificação desses “heróis”, processo devidamente apoiado por materiais promocionais criados por Simmons, de objetos de decoração a histórias em quadrinhos e até um filme, passando pelas capas dos discos. Havia até quem apostasse que diferentes músicos subiam aos palcos, incógnitos atrás de pesadas maquiagens.

Quando o Kiss veio pela primeira vez ao Brasil, tardiamente, em 1983, o mito dos músicos mascarados estava próximo ao fim. Mas, ninguém ainda sabia. 

Os felizardos que lotaram os maiores estádios do Brasil – o que só outra banda de rock, o Queen, havia feito – presenciaram o gosto de assistir a essas personas cujos rostos ninguém conhecia.

Restavam ainda resquícios do rock’n’roll rebelde das décadas anteriores, inadvertidamente recriados pelos religiosos fanáticos que distribuíam panfletos contra as apresentações dos supostos “Kids In Service of Satan”. 

Toda essa energia extrapalco explodiu nos shows, tão forte quanto os tiros de canhão da bateria em forma de tanque do então baterista Eric Carr. Poucos meses depois, o Kiss apareceria publicamente sem máscaras. Mereceu até chamada de destaque no programa Fantástico, que exibiu em primeira mão os músicos com a cara limpa no clipe de “Lick It Up”.

O Kiss retornaria ao Brasil para outras apresentações, com e sem máscaras. Sempre com lotação total e o melhor da parafernália que sempre identificou a banda. Por isso, seu público não se restringe apenas aos fãs. 

Muitos curiosos, que sequer conhecem mais do que uma ou duas músicas do Kiss, vão aos estádios para ver o lado pirotécnico. 

Os seguidores fiéis torcem o nariz, mas não há do que reclamar. Tudo faz parte do carisma inigualável do Kiss, como já apontava a música com esse nome lançada no álbum “Dynasty”. O Kiss se despede dos palcos, mas não do imaginário da cultura pop deste e do século passado.