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Quem conhece os bastidores da política paulista sabia que o projeto aprovado seria vetado. resta saber se o veto era por convicção política – ou nenhuma da duas, já que a questão era inconstitucional.

Acabar com a meia entrada nos espetáculos e eventos no Estado de São Paulo pareceu uma típica manobra diversionista, para chamar a atenção, um projeto esdrúxulo originado de um deputado estadual esdrúxulo e irrelevante. O problema é que… e se colar?

Governador em exercício, Carlão Pignatari (PSDB) é o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo e grande aliado de João Doria (PSDB), que está em viagem ao exterior em companhia do vice, Rodrigo Garcia (DEM, mas a caminho do PSDB). Já tinha dito que o projeto seria vetado de qualquer forma, mas foi surpreendido com a aprovação em plenário. Ficou irritado com essa “perda” de controle da casa.

Seja com for, é um indicativo de que os deputados estaduais vivem em outro mundo para aprovar um lei imunda como o fim da meia entrada no Estado – a questão é regulada por leis federais.

O autor é Arthur do Val (Patriotas), bolsonarista, extremista de direta e um dileto apoiador de causas contrárias ao bem público e da população em geral. Não teve pudor em comentar que que fez a lei para beneficiar os empresários da área de eventos. teve coragem de dizer que a lei iria melhorar o ambiente de negócios e fazer os preços “baixarem”.

Todos os partidos de esquerda votaram contra essa excrescência, mas a base do governador Doria, em peso, apoiou e aprovou, para horror de pessoas civilizadas que entendem a função social da cultura, das artes e da educação.

Desde a criação da meia entrada para estudantes carentes e idosos em geral a gritaria foi imensa por conta das falhas, distorções e brechas para fraudes, seja na emissão pelas entidades estudantis, seja pela falha na fiscalização e no estabelecimento de quantidade máxima de ingressos à disposição para os beneficiários. No entanto, clamar pelo fim do benefício é um absurdo e uma violência contra uma parcela imensa da sociedade que sempre esteve excluída em todos os sentidos.

Justificar o oportunismo do estudante de mestrado em faculdade particular, que tem dinheiro, para acabar com a lei, entre outros argumentos nojentos, é mais do que falta de sensibilidade – é deformação de caráter.

Como a lei, em âmbito federal, nas árias modalidades, nunca foi discutida com seriedade e profundidade, fica à mercê de oportunistas de um lado e de várias possibilidades de fraudes, de outro. Extinguir o benefício, no entanto, é um crime imenso contra a população. Mas não nos enganemos: novas tentativas virão.