Nelson Souza Lima – especial para o Combate Rock
A contribuição das mulheres para o rock and roll é inquestionável. Aliás, devemos a Sister Rosetta Tharpe os alicerces de tudo o que conhecemos no gênero. Sua versão de “Strange Things Happening Everyday”, de 1944, é considerada pra muita gente, a primeira gravação do rock.
Banda Malvada (FOTO: DIVULGAÇÃO) |
Combate Rock- Em 2021 o Riot Grrrl completa três décadas. Gostaria de saber qual a identificação de vocês com o manifesto que surgiu em Olympia, Washington, EUA e segue sendo um importante marco na luta das bandas femininas em busca de igualdade e direitos.
Malvada: Foi um grande marco na história do feminismo. Nos identificamos no sentido de que também queremos igualdade, fazendo nosso som da forma que acreditamos, independentemente do gênero.
CR- Vocês se consideram uma banda Riot Grrrl? Sabemos que em 30 anos muita coisa mudou. A sociedade mudou. Como fazer um balanço destes trinta anos?
Mal: Não nos consideramos ativistas, nossas letras retratam sentimentos e situações do nosso cotidiano, uma coisa mais interiorizada, na maior parte dita nas entrelinhas. Somos sim completamente contra a desigualdade de gênero e queremos incentivar outras mulheres a fazerem o mesmo em qualquer área/questão e não somente na música.
CR- Muitas de vocês eram crianças quando o manifesto surgiu. De que forma foram moldadas pelo Riot Grrrl?
Mal: De fato, algumas nem haviam nascido quando o movimento surgiu. Defendemos o princípio de que você pode ser/fazer o que quiser, embora saibamos que ainda vai demorar muito para que não haja diferenciação entre gêneros.
CR- Independente de serem ou não Riot Grrrl, de que forma sua música contribui para uma sociedade mais equânime?
Mal: Nossa música contribui para o nosso próprio bem-estar, porque é o que amamos fazer, se isso consequentemente de alguma forma contribuir para sociedade, ficaremos duplamente satisfeitas.
CR- A luta das mulheres em busca de seus direitos vai além da música. Como artistas o que pensam da luta das mulheres atualmente, uma vez que a ascensão de Jair Bolsonaro despertou o vírus do ódio numa explosão homofóbica e misógina sem controle. Visto o crescimento dos casos de feminicídio.
Mal: A luta das mulheres não é de hoje e vai perdurar ainda por muitos anos, independente do governante, porque a questão é cultural, é um misto da educação que vem de casa com a personalidade/caráter do ser humano.
CR- Muito se fala que o rock é desunido, com muitos “rock stars” egocêntricos e prepotentes. Se entre os homens há muitos atritos gostaria de saber como são as relações entre as bandas femininas.
Mal: Seria hipocrisia dizer que não há atrito ou competição entre mulheres, mas devido ao fato do mercado musical feminino ainda ser tão pequeno, a grande maioria tende a se apoiar bastante, pois a vitória de cada mulher, representa a de várias, dada a desigualdade e falta de incentivo que vivenciamos desde sempre.
CR- Vocês já tiveram contato ou tocaram com bandas gringas representativas do rock feminino? Tipo o Gossip, da Beth Ditto tocou em São Paulo alguns anos atrás, antes de terminar em 2016. Como é o contato com os grupos de fora?
Mal: Ainda não, mas quem sabe um dia, seria um prazer!
CR- O rock em geral encontra dificuldades em conseguir espaço na mídia, isso vale pra bandas masculinas e femininas. Como é a relação de vocês com a mídia e a busca de espaço pra tocar.
Mal: De fato a cultura do Brasil é pouco voltada para o Rock, mas ainda é um pouco cedo para tirarmos conclusões em relação a isso, pois estamos em fase de gravação/produção, nem chegamos a lançar material autoral ainda, mas já tivemos bons feedbacks de muitas páginas, sites e blogs sobre rock.
CR- Infelizmente a pandemia paralisou tudo. Como têm se virado com lives e divulgar o trabalho da banda?
Mal: Estamos usando a internet a nosso favor, compondo à distância, divulgando nossas fotos e vídeos de covers nas redes para angariar público e ter um retorno bacana quando lançarmos nossos primeiros singles. Tem funcionado bem.
CR – De que forma as bandas femininas podem ser representativas dos anseios das mulheres em geral por busca de direitos e uma sociedade igualitária?
Mal: Fazendo e defendendo aquilo que elas acreditam, sempre com o devido respeito.