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 Marcelo Moreira



O guitarrista não sabia ao certo onde estava se metendo, embora já tivesse concorrido à vaga de guitarrista do Jethro Tull em 1967 com Mick Taylor (que depois seria de John Mayll’s Bluesbreakers e dos Rolling Stones) e Tony Iommi (Black Sabbath).

Depois de muita demora na escolha do substituto de Mick Abrahams, Iommi, de Birmingham, ficou com a vaga, mas não durou duas semanas, voltando correndo para o seu Earth e os amigos das quebradas – e transformaria o rock ao praticamente inventar o heavy metal com o Black Sabbath.

Martin Barre, assim, foi chamado às pressas por Ian Anderson, o líder do Jethro Tull, para cobrir o buraco por algum tempo naquele mês de dezembro de 1968. Não passou o natal com a família e acabou se tornando o nome mais importante da banda, depois do flautista líder, por 43 anos.

Completando 74 anos neste mês de novembro, o guitarrista tirou a poeira dos instrumentos, saiu da semiaposentadoria e resolveu comemorar os 50 anos de fundação da banda que o catapultou para o estrelato – “já que ninguém quis fazer algo, eu resolvi me mexer”, disse o músico em ótima entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”.

“50 Years of Jethro Tull” é uma coletânea gigante com dois CDs onde ele revisita muitos clássicos e revela que foi o guitarrista que melhor soube combinar rock progressivo, folk britânico e blues em sua geração. Não é à toa que é considerado um dos gigantes.

Se Ian Anderson, com sua flauta, seu violão e sua voz característica cheia de sarcasmo, é o cérebro e o coração do Jethro Tull, a guitarra de Barre se tornou a alma da banda, indissociável e impregnada de tal forma que é muito estranho que o chefe tenha reativado oficialmente o grupo anos atrás e não o tenha convocado.

“Acho bastante improvável que venhamos a fazer qualquer coisa juntos para celebrar os 50 anos da banda. Até agora nada aconteceu e, pelo que sei, nada deve acontecer neste sentido no ano que vem, o que é uma pena”, diz o guitarrista, indicando que o fim da parceria, em 2011, não foi muito amigável, ao contrário do que muita gente pensa.

Barre é um estilista do instrumento. Seu timbre característico moldou o som do Jethro Tull, mas emprestou uma variedade de opções em sua carreira solo de dez álbuns, onde passou pela música instrumental, pelo blues e pelo jazz, arranhando um pouco a música pop também.

Dedicado a mostrar suas habilidades a serviço da banda inglesa, desde 2015 faz turnês com sua banda solo e na companhia de antigos amigos, como o baterista Barriemore Barlow, ex-companheiro de Jethro Tull. Seu último show fora da Inglaterra foi justamente no Brasil, em fevereiro deste ano, passando por várias cidades.

Ian Anderson decidiu encerrar o grupo em 2011, mas retomou a carreira como se fosse um artista solo, mas com o nome Ian Anderson’s Jethro Tull. Foi assim por alguns anos até que acabasse com essa coisa ridícula e resgatasse o nome de sempre. 

A banda tem shows marcados para novembro de 2021 no Brasil com uma formação totalmente remodelada. Sem a guitarra de Barre, será um show meio capenga, pois a alma não estará lá, do lado esquerdo do flautista ensandecido. 

Para quem não viu a sua recente passagem por aqui, antes da pandemia, resta a coletânea mais do que necessária para conferir a alta classe e a qualidade do mestre inglês.

Clique aqui para ler a entrevista no jornal “O Estado de S. Paulo”.