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Semblant (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Já nos acostumamos a ver  agressividade das meninas nos palcos com The Damnnation, Crypta, Nervosa, Eskröta, Allen Key, Mercy Shot e Torture Squad, mas ainda é sempre entusiasmante quando elas nos surpreende com trabalhos diferentes e contundentes. As bandas Semblant e Endigna se encaixam perfeitamente no quadro descrito.

Os paranaenses da banda Semblant são veteranos na estrada, mas ganharam novo vigor com o ótimo CD “Vermillion Eclipse”, um lançamento internacional via Frontiers, a gravadora italiana que virou a Meca do rock pesado mundial – tem no seu elenco as bandas brasileiras Electric Mob e Spektra e o cantor Alírio Netto em carreira solo (também canta no Shaman e na banda espanhola Avalanch. NO Brasil, a distribuição é da visionária Shinigami Records.

É uma raríssima banda brasileira que conta com dois vocalistas – a ótima Mizuho Lin e o versátil Sergio Mazul, que alterna vocais limpos e guturais. 

Entre idas e vindas, com as dificuldades de sempre para se fazer metal no Brasil., a Semblant mostrou qualidades que a colocam em um patamar mais alto dentro do metal internacional. Conseguiu se descolar do metal sinfônico de outras eras para seguir em uma trilha que Lacuna coil e Arch enemy se deram muito bem.

O entrosamento entre Mizuho e Mazul é fantástico e é o responsável pelo colorido especial que “Vermillion Eclipse” oferece ao ouvinte. Tudo é muito pesado e bem feito, com timbres de guitarra quase que exclusivos, o que revela uma exaustiva pesquisa e uma esperada produção.

A melhor música do trabalho, “Neverending Fall”, ilustra o trabalho esmerado: vocais estupendos, linhas melódicas contagiantes, riffs precisos e bem elaborados, realçando o dueto entre os dos vocalistas.

“Purified”, o primeiro single lançado, já avisava sobre as mudanças, com as guitarras mais na cara e  o baixo funcionando como uma parede sonora por conta de servir quase como uma guitarra-base. 

“Destiny in Curse”  “The Human Eclipse” abusam um pouco do metal extremo, causando um pouco de estranheza no começo, mas são essenciais dentro do contexto criado pela banda – uma mistura de agressividade e sutileza que, às vezes, resgatam ecos das bandas holandesas de metal sinfônico.

“Black Sun Genesis” é outro bom momento do disco, com Mazul dando um show de interpretação e variando as vozes sobre uma base bem pesada. Mizuho, por sua vez, ganha mais destaque na épica “Day One Oblivion”, que encerra o trabalho com seus quase 10 minutos de excelência musical.

Diante dos percalços, o novo disco é a coração de uma trajetória muito bem-sucedida. Em julho de 2014, a Semblant lançou o disco “Lunar Manifesto”, que se destacou nos singles “What Lies Ahead” e “Incinerate”. 

Obscura veio em 2020, que obteve vendas globais expressivas, somando mais de 3 milhões de visualizações entre os quatro vídeos lançados para promover o material e resultados expressivos nas plataformas de streaming.

Endigna (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Aposta na agressividade

A banda paulista Endigna é mais recente e deixou de lado uma sonoridade mais rebuscada em busca de algo mais direto e urgente. A referência mais imediata é a banda ucraniana Jinjer, com ecos de Arch Enemy e The Agonits.

Só que, em “Otherside”,  álbum recém-lançado, a banda supera as pretensas “influências” em quase todas as músicas. A ótima produção conseguiu valorizar os diversos timbres da cantora Thais Amaral. Ela esbraveja e também consegue cantar limpo sem perder a força da interpretação.

“Hands of My Face” foi a primeira amostra de “Otherside”, ganhando o videoclipe, inclusive. “O primeiro single da Endigna com a nova formação! A música foi composta em meio à pandemia e se trata de um breve desabafo sobre a pressão e a incerteza no período de isolamento e lockdown que o mundo inteiro presenciou”, disse Thais.

Segundo ela, a canção tem um caráter reflexivo. “A letra aborda momentos de reflexão sobre as pessoas que infelizmente acabaram tirando suas próprias vidas por diversos motivos no período mais severo da pandemia. Em alguns países, o número de mortos pela Covid-19 ultrapassava a marca diária de 3 mil vítimas.”

Em canções bem bacanas como “Top of the Hill” e “Good Enough” a banda explora elementos diferentes com bons resultados – linguagem musical surpreende com a utilização de elementos eletrônicos fazendo contraponto com as afinações graves e os vocais doces e guturais de Thais Amaral.

 “Musicalmente, algumas músicas trazem como inspiração bandas como Spiritbox, Ice Nine Kills e passando por nomes consagrados como Nine Inch Nails, principalmente no caso de ‘Hand of My Face”, afirmou o baterista Tiago Sorrentino.

As duas canções em português – “Castelo de Cartas e “M.N.B.” – fazem um contraponto ao metal moderno que predomina nas músicas em inglês. São rápidas e pesadas, com letras mais fortes e contestadoras, esbarrando no hardcore e no thrash – méritos novamente aos vocais imponentes de Thais.

Com uma estreia interessante e impressionante, a Endigna escalou diversas prateleiras e pode se orgulhar de fazer frentes aos principais nomes pesados do metal nacional.