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Fazer heavy metal instrumental no Brasil ficou difícil nos anos 90 com o aparecimento do gaúcho Marcos De Ros, um dos maiores talentos de nossa guitarra pesada, E piorou bastante quando a criatividade transbordante dos guitarristas e Kiko Loureiro (Megadeth, ex-Angra) e Edu Ardanuy (Sinistra, ex-Dr. Sin) elevaram os patamares do gênero.

Virtuosismo ou feeling? Riffs extraordinários ou solos à velocidade da luz? Mistura de elementos e gêneros ou distorção máxima? Como conciliar essas expectativas?

Dois trabalhos recém-lançados oferecem algumas alternativas dentro do segmento em uma tentativa de equilíbrio das questões expostas acima. 

O paulista tuto Hallgrim, que é professor e músico, chega com seu segundo fisco solo, “Nothing Is Larger Than My Beliefs”, em que desfila temas bem construídos e uma performance incandescente.

É muito técnico, mas com um senso melódico incomum. A produção é caseira, realçando a habilidade do músico, que soube valorizar os timbres pesados de sua guitarra mirabolante.

Hallgrim explora bastante om power metal, com fraseados velozes e solos e ainda mais intensos e rápidos. A obra não consegue escapar do rótulo de “CD para músicos”, mas compensa o excesso de virtuosismo com composições bem estruturadas e inteligentes.

“Without Fear é a melhor canção, já que reúne os principais predicados apontados neste texto. É pesada, é melódica e encontra soluções rítmicas interessantes sem abusar da velocidade.

“Rebuild” e “Soul Power” seguem pela mesma trilha, mas enveredam por um power metal reto e sem muitas firulas. Parecem canções feitas especialmente para dar aulas, mas os solos garantem a diversão de quem se habituou a oucvir Helloween e Running Wild.

Também são destaques as canções “Face Your Ghosts” e “Life Lessons”, que incluem influências de jazz e toques bluesies, garantindo um ecletismo mais evidente ao trabalho.

“Ignition Overdrive II” é o segundo trabalho da banda de mesmo nome, que surgiu como um projeto do guitarrista Rodrigo Santos, que estreou em 2014. Os percalços de sempre no mundo do rock nacional espaçaram os lançamentos, mas serviram para amadurecer um trabalho que têm muitas virtudes.

Sem medo de investir no metal progressivo, Santos conseguiu imprimir uma variedade de estilos e transita entre a inovação versátil de Koiko Loureiro e a pegada mais pesada e veloz de Marcelo Barbosa (Angra).

Há até influência de música regional paulista, como em “Joy”, onde os violões se destacam e as guitarras cravam estacas no mundo bluesy de forma inteligente e habilidosa.

“Ananke” e “Whole Step” turbinam a audição com bases em guitarras com timbres mais graves, ora soando como John Petrucci (Dream Theater, ora como Joe Satriani. As melodias são o destaque, ricas e mostrando uma variedade de timbres.

Mais bem acabado e com uma produção mais sólida que o disco de Hallgrim, “Ignition Overdrive II” consegue equilibrar com sucesso o virtuosismo e o feeling hábil, especialmente em “Austral”, onde Satriani e Steve Vai surgem naturalmente como influências.

As duas obras apresentam algumas coisas diferentes e alguma inovação, mas não cravam definitivamente, ainda, os nomes de seus autores dentro do da música pesada instrumental brasileira. Entretanto, os portões estão escancarados para uma estrada muito interessante e cheia de possiblidades.