Celso Vecchione (FOTO: DIVULGAÇÃO)
A figura folclórica do cidadão malvestido e falando sozinho na rua Caraíbas era lendárias entre os palmeirenses que se aglomeravam nos bares à porta principal do antigo estádio Palestra Itália antes dos jogos do Palmeiras. Todos sabiam que era corintiano, mas ninguém se importava: o cara era simpático e falava mal do time verde com simpatia.
O que quase ninguém sabia era que a “figura” que passava ai nos dias de jogos para ir à mercearia ou á padaria era um dos mais importantes guitarristas que surgiram no rock brasileiro em todos os tempo. Celso “Kim” Vecchione era folclórico, mas um instrumentista bastante sensível e talentoso, que moldou o som psicodélico e pesado do Made in Brazil, que fundou há 56 anos com o irmão, o baixista Oswaldo, igualmente corintiano.
Celso Vecchione morreu na noite de sábado, 21 de outubro, em São Paulo, aos 74 anos de idade. As causas não foram reveladas. Há anos sofrendo de diversos problemas de saúde, ainda assim surpreendeu a todos a aparecer de cadeira de rodas há alguns dias na entrega do prêmio MUS, no Vibra São Paulo, durante homenagem a sua banda. Praticamente não falou. O irmão Oswaldo, de 76 anos, também estava em cadeira de rodas por conta das consequências de um AC (acidente vascular cerebral).
Explosivo e incandescente, Celso extraía sons pesados e, ao mesmo tempo, melódico. Virou referência de guitarra rock nos anos 70, disputando a deferência com instrumentistas do calibre de Luiz Carlini (ex-Tutti Frutti), Tony Babalu e Sergio Dias (Mutantes). No Made in Brazil, sua única banda, praticamente, ajudou disseminar o mito do bairro paulistano da Pompeia como o centro do rock nacional por muito tempo.
Brilhou ao lado do irmão baixista e vocalista em discos como “Made in Brazil” (1974), “Jack, O Estripador” (1975) e “Pauliceia Desvairada (1978)”, que se tornaram clássicos do rock nacional. Nos anos 80, a banda perdeu espaço, mas ainda assim manteve-se ativa e referência para todas as bandas que tinham a base no blues e no rock clássico.
Algumas marcas destacam o pioneirismo da banda. São creditados como os primeiros artistas de rock no país a usarem maquiagens (ainda em 1969), a usarem duas baterias, a gravar e se apresentar com uma bateria de escola de samba e a executar um trabalho autoral no Teatro Municipal de São Paulo.