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O cenário musical no começo dos anos 90 era desolador – de um lado, um astro pop como Michael Jackson cada vez mais extravagante em sua vida pessoal e perdendo força musicalmente e, de outro, uma miríade de bandas de hair metal que soavam idênticas umas às outras. Eis que surge o fenômeno Nirvana, com seu segundo álbum “Nevermind”.

Embora com um orçamento modesto (U$ 65 mil), “Nevermind” rapidamente chegou ao topo das paradas. A gravadora Geffen esperava que o disco vendesse, com muita sorte 250 mil cópias, ao todo. Em poucas semanas, o álbum vendia 300 mil. Por semana. Michael Jackson tinha acabado de lançar “Dangerous” e caiu do primeiro para o quarto lugar no ranking da Billboard, vendendo sete vezes menos que “Nevermind”.

Assim como acidentes aéreos, o sucesso também tem vários fatores que influenciam: boas canções, boa produção, bom marketing, às vezes, sorte. Sobram exemplos de ótimos álbuns que acabaram indo parar nas prateleiras do esquecimento. “Nevermind” também tem sua lista de fatores: canções pop com punch punk; a produção, que deu polimento e brilho à banda que era somente barulhenta em seu primeiro álbum – é famosa a história que Kurt Cobain pediu para se tirar os agudos na mixagem, pois queria que o álbum soasse como Black Sabbath. Ao contrário, Andy Wallace, responsável pela mixagem final, fez com que tudo soasse mais nítido. O clipe de “Smells Like Teen Spirit” passava em alta rotação na MTV e, ainda hoje, é impossível não parar na frente da TV quando ele começa a passar.

Também havia o desencanto de uma geração frente a valores de um mundo que também estava em crise – os Estados Unidos, ainda envolvidos no conservadorismo dos anos Reagan, estavam em sua primeira guerra do Golfo, sob o comando do presidente republicano George Bush. Ainda por cima, existia o fantasma da AIDS – doença que atingiu a geração X justamente no início de sua iniciação sexual. No Brasil, vivíamos às voltas com os escândalos do governo Collor, hiperinflação e falta de emprego. A fúria niilista de “Nevermind” casava bem com uma garotada que chegava à vida adulta sem grandes perspectivas e com muitas incertezas.

Se a carreira do Nirvana, assim como a vida de Kurt Cobain, foi curta, ela foi o suficiente para dar voz à angustia de uma geração e “Nevermind” é seu exemplo mais cristalino.