– Como seria se os Carpenters cantassem e tocassem blues? Escute o trabalho da cantora americana Stacy Jones e saboreie toda a qualidade de um trabalho que privilegia a canção pura, sem adereços e arranjos intrincados.
“World on Fire” celebra os 20 anos de carreira da Stacy Jones band, que tem a direção musical do marido dela, Tom Jones, que é baixista. É um disco purista e para puristas, mas é tão delicado e sutil que pode perfeitamente ser encaixado em algumas categorias de música pop.
Multi-instrumentista – canta e toca violão, guitarra, teclados e gaita diatônica, sendo que nesta ela arrasa -, ela privilegia a melodia e solta todos os instrumentistas para voar e se divertir.
É o caso de “Insane Asylum”, um clássico de Willie Dixon, que vira um blues arrastado e bem temprado pela gaita. O dueto entre Stacy e o marido Tom é um achado de bom gosto.
“World onf Fire” é a melhor do disco, com pegada mais moderna e típica do blues de chicago, enquanto que “Jefferson Way” e “Everything Is Going to Be Alright” são um mergulho no passado, em que os arranjos de sopro dão um colorido vintage anos 40 às canções.
A interpretação de Stacy é primorosa sobretudo em “George Stinney”, outra com pegada de blues raiz e mais próxima do folk, com um tempero agridoce por conta da gaita protagonista.
“Oxen Heart” aprofunda o clima folk ao enveredar por caminhos da música celta de origem da região de Boston. O bom gosto musical e de arranjos fica explícito nesta versão, em que os vocais deslizam com delicadeza em uma intepretação comovente.
Não há momentos de baixa em “World on Fire”. O equilíbrio no repertório é elogiável, assim como a diversidade de temas dentro do blues mais tradicional, e um exemplo bem didático é “Midnight in Harlem”, em uma versão tão boa quanto a de Susan Tedeschi, e também em “Sunday Morning”, que também emociona.

– Nancy Lee é uma cantora de folk blues canadense cm larga rodagem pelos botecos e teatros alternativos da vida. Ora assinando como Nancy Lee, ora como Nancy Lee Sings, é uma das mais respeitadas artistas do cenário alternativo da América do Norte.
“Catch You On the Other Side” é o novo trabalho da artista e nada mudou em relação ao que sempre fez – e isso é um bom sinal. Sem invenção, ela faz uma mescla de música tradicional, folk, blues, country music, sempre com gosto e um instrumental irrepreensível.
É uma obra bastante agradável, com uma canção em francês – “Partie Comme Por La Vent” – e dois potenciais hits movidos a violões e guitarras acústicas – a faixa-título e “Can’t Get Over You”, esta um primor de canção-raiz folk, digamos assim.
A sequência é que que uma trilha sonora de filmes de época da depressão americana dos anos 30 do século passado, com letras que retratam problemas de relacionamento, mas com delicadeza, e pequenos contos sobre a dura vida no campo.
“Slip Away” traz um instrumental bem encaixado e uma voz lamentosa da cantora, enquanto que “Sweet Summer Melodies” e “Dancing on Top of the World” representam os momentos mais luminosos, sempre com melodias cativantes e inspiradas.
Para o encerramento, duas canções bem oportunas. “Nothing But a Lie” tem a letra mais contundente, embasada em um instrumental mais denso, mas não agressivo. A voz de Nancy é cortante e atinge o ponto certo de interpretação. “Why Can’t We Be Friends” ameniza um pouco o clima, mas ainda é bastante contundente.
Seu trunfo é passear por vários gêneros com ecletismo, cujo estilo de escrita é tão variado quanto sua gama de influências musicais oferecem um trabalho único e diferenciado, assim como sua voz poderosa.

– A moça surgiu em 2015 como uma espécie de reencarnação da cantora escocesa Maggie Bell (ex-Stone the Crow), com voz potente e ma interpretação dramática que espantou a cena britânica, e logo atraiu as atenções de grandes nomes do blues de lá, como Paul Jones e Dennis Walker.
Em seu terceiro álbum, Malaya Blue dá uma aula de feeling que surpreende quem estava acostumado com Joss Stone e Joanne Shaw Taylor, duas estrelas de primeira grandeza no Reino Unido.
“Blues Credits” é uma coleção de canções equilibrada que transita pelo blues e pelo blues rock com um tempero texano. Não são poucos os ecos de Stevie Ray Vaughan e ZZ Top no som da cantora inglesa.
Seu melhor trabalho tem muito do mérito de Dennis Walker, instrumentista laureado por muitos prêmios e com trabalhos elogiados com Robert Cray e B.B. King. Produtor, compositor e multi-instrumentista, ganhador do Grammy, é um dos nomes mais requisitados do cenário mundial do blues.
Quanto mais Dennis e Malaya trabalhavam juntos, mais ele era capaz de criar músicas em torno da voz e do estilo dela, levando à super seleção de músicas do novo álbum “Blue Credentials”.
E isso fica claro na canção emblemática do mais recente disco “The Time We Had”, que tem um instrumental poderoso e intenso, em que a guitarra se sobressai em riffs bem construídos.
“I Cant Find No Love” é igualmente intensa, com uma melodia mais “grooveada” e um trabalho vocal fenomenal, característica que pode ser identificada também na ótima “Good Intentions, Bad Results”, que tem uma letra irônica e com algum sarcasmo.
“Curious” e “Wrong Kinda Love” percorrem um caminho mais tradicional, com escalas mais comuns ao blues, enquanto que a veia mais roqueira reaparece em “Howlin’ Mercy” e “Set Me Free”.
Pouco conhecida fora do mundo anglo-saxônico, Malaya Blue é uma grata surpresa vinda de um país pródigo em excelentes cantoras e instrumentistas do blues.