Marcelo Moreira
Primeiros a sentirem o impacto devastador da covid-19 e, certamente, os últimos a se recuperarem da crise gigantesca, os profissionais do segmento de cultura, artes e entretenimento não conseguiram ainda traçar estratégias viáveis de negócios pós -pandemias ou alternativas de remuneração que ao menos garantam alguma subsistência.
De forma triste, mas compreensível, empresários do setor já admitem que drive-ins em estádios de futebol, com ingressos muito caros, e as lives sobreviverão por muito tempo. É uma distopia assustadora.
Para a maioria dos artistas que se arriscaram em lives, as que deram certo, ou seja, que arrecadaram algum dinheiro substancial estiveram ligadas a patrocínios de grandes empresas. Ou seja, só grandes nomes conseguiram se dar bem nessa história.
É o caso da empresa Diventi, que disseminou esse recurso, torando a live um produto estratégico para artistas e marcas. Em parceria com a Ambev, promoveu o “Circuito Brahma Live”, com mais de 250 eventos realizados e mais de 500 milhões de visualizações, segundo as duas empresas. A quase totalidade desses números se referem a artistas da área sertaneja.
“Os números reforçam a relevância do sertanejo. Além dos recordes de visualização, esse novo formato de mídia com as lives entregou um volume considerável de doações, além de altíssima conversão e engajamento para marcas”, aponta Gui Marconi, sócio e diretor de conteúdo da Diverti.
Segundo ele, a Diverti movimentou em três meses mais de R$ 20 milhões entre patrocínios, ativações, cachês e contratação de influenciadores digitais. Ame, Riachuelo, Movida, Minerva, e Shoptime estão entre as marcas parceiras que, junto à Diverti e à Ambev, também apostaram nas transmissões ao vivo.
Infelizmente, a qualidade da música foi o que menos contou na definição dos agraciados, algo nada surpreendente neste tipo de iniciativa e de mercado.
A Diverti também divulgou uma pesquisa própria de mercado sobre o comportamento do consumidor durante a pandemia. E um dado chama a atenção: 56% dos participantes pagariam para assistir a um evento de forma online.
Marconi afirma que a rentabilização é um caminho a ser avaliado, ao mesmo tempo em que a abrangência do conteúdo transmitido gratuitamente é exponencial. “Ainda há muito a ser explorado dentro deste novo universo. Vai ser interessante desbravar o que temos pela frente.”
Convenhamos, não é um futuro animador. O mesmo público que despreza os artistas novos e se recusa apagar por CDs e livros é o mesmo que admite pagar por esse tipo de evento digital insípido, inodoro e incolor, ao mesmo tempo em que não se importa em desembolsar muito, mas muito dinheiro para ver artistas internacionais populares – e ruins – nacionais e internacionais ao vivo.
Os hábitos de consumo do brasileiro que supostamente aprecia e frequenta e aprecia espetáculos diz bastante sobre o estado de coisas atual, antes e depois da pandemia.
É a cultura desprezada em tempos bolsonaros – e não é à toa que o nefasto presidente conta com amplo apoio entre sambistas e sertanejos. Entre os roqueiros, lamentavelmente, também não é pequeno.
Mesmo em pouco tempo, quatro meses, o estrago feito pelo vírus na economia mundial é colossal. Não deu tempo para estudar direito o que fazer e como se virar diante de tamanho desafio.
O que podemos perceber é que, pelo que estamos vivenciando hoje, não há perspectivas factíveis e dque deem algum alento para a cultura, arte e entretenimento em um futuro próximo.