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 Uma banda sem alma. Assim o cantor Steven Tyler definiu o “final de semana perdido” do seu Aerosmith sem a dupla genial de guitarristas da formação clássica – Joe Perry e Brad Whitford. 

A banda de Boston achava que tinha redefinido o hard rock americano – e tinha, até que uma banda da Califórnia apareceu e revolucionou tudo no final dos anos 70. Enquanto o Aerosmith afundava nos excessos, o Van Halen voava.

Mas Tyler era teimoso e insistiu em provar a todos que ele era a alma da banda e, 40 anos atrás, achou que tinha razão; Não tinha, e “Rock and a Hard Place”, o disco de 1982, é rapidamente definido por qualquer fã como o pior da banda, acelerando a volta dos dois guitarristas. 

Não é um desastre completo, mas é o ponto mais baixo da carreira de uma banda que tem 52 anos de carreira e ainda está na ativa. 

Faltava quase tudo: inspiração, boas letras, vontade e, principalmente, grandes riffs e duelos de guitarra. O blues se perdia em um emaranhado melodias esquecíveis e comuns – tentativas de humor de mau gosto, como “Bolivian Ragamuffin”, uma canção que ousava brincar com o maior problema da banda – o vício em drogas, especialmente a cocaína. 

A banda perdeu o rumo logo depois de “Draw the Line”, um bom disco de rock de arena movidos a arranjos bluesy e boas letras. Era 1977 e a tarefa de superar o LP anterior, “Rocks”, lançado 12 meses antes, era muito difícil, e os problemas começaram.

Todo mundo já era astro de rock, e se entregaram, a todos os vícios. Tyler e o baterista Joey Kramer eram s mais empolgados, e as fissuras começaram a aparecer. As performances ao vivo foram afetadas e a inspiração pra novas músicas desapareceu. Pouco se viam e as brigas ficaram constantes.

Contracapa do álbum: no sentido horário, Steven Tyler, Jimmy Crespo, Joey Kramer, Tom Hamilton e Rick Dufay

Durante as gravações de “Night in the Ruts”, lançado em 1979, Joe Perry, que não eram nenhum santo, percebeu que havia excessos demais e pulou fora para engatar uma carreira solo de razoável sucesso, três álbuns e quase nenhuma grana. O estopim foi uma briga por causa de um copo de leite, sendo que os estavam bêbados

A barra ficou tão pesada que Brad Whitford, que se gabava da resistência aos vícios, enxergou que sua vida estava em risco e partiu em 1981 para uma obscura parceria com o guitarrista Derek St. Holmes (ex-banda solo de Ted Nugent), que rendeu apenas um disco sob o nome “Whitford/St. Holmes”.

Sem as guitarras que moviam a banda – e o grande compositor, Perry -, a banda ficou à deriva quando ficou constatado o fracasso de “Night in the Ruts”, que é fraco e também pouco inspirado.

Para irritar ainda mais Tyler, Kramer e o baixista Tom Hamilton, a gravadora da época lançou uma coletânea com os maiores sucessos que arrebentou de vender.

Depois de muita procura, o Aerosmith apresentou non final do 1981 os guitarristas Jimmy Crespo e o francês Rick Dufay, que tiveram de mergulhar nas gravações de “Rock and a Hard Place”. Ainda que bastante tumultuados, os trabalhos fluíram e o disco chegou às lojas.

O principal single foi “Lightining Strikes”, a melhor canção do disco, mas que em nada diferia do que se fazia de sucesso no chamado hard pop daquele período. O riff executado por Crespo é interessante, mas é só. 

“Cry Me a River” é uma tentativa de soar como no disco “!Draw the Line”, preservando alguma modernidade com alguns riffs encharcados de setentismo puro. Não funcionou muito bem.

“Bitch’s Brew” seguia pelo mesmo caminho, mas faltavam as guitarras trovejantes e altas. “Jailbait” era um pouquinho melhor, buscava inspiração na canção “Toys in the Attic”, faixa-título do disco de 1975. Crespo e Dufay se esforçam, mas faltava a química.

O disco fracassou e não vendeu nada, mas serviu para mostrar que o Aerosmith estava vivo e manter as apresentações, ainda que irregulares, por mais de 18 meses. 

Mesmo tocando para plateias que ainda enchiam as casas de espetáculos, ou a maioria delas, o ambiente revelava que a banda estava sem direção e sem futuro. A única solução seroa a volta de Perry e Whitford, que estavam situações semelhantes em seus projetos.

Os dois concordaram em comparecer a um show da banda em 1984, em uma armação dos empresários. Tyler sabia e aceitou a coisa. 

A reunião de velhos amigos ao final do show selou a paz entre todos e meses depois foi anunciado o retorno da formação clássica, que não perdeu tempo e entrou em estúdio para gravar “Done With Mirrors”, lançado em 1985. Apenas mediano, pelo menos evidenciou que a banda tinha renascido e ganhado algum futuro.

A decisão foi acertada. “Permanent Vacations” (1987) e “Pump” (1989), excelentes discos, recolocaram o Aerosmith nas paradas e transformaram a banda em gigante d mercado e dos palcos, estando no mesmo nível, na época, que U2, Van Halen e Kiss, por exemplo.