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A Legião Urbana chegou à academia e à literatura. Até que demorou, mas a análise da obra de Renato Russo vai virar um livro escrito por uma professora e pesquisadora universitária. “Renato foi poeta?” Foi justamente esse o questionamento que inspirou a pesquisa de Julliany Mucury.

Seu livro “Renato, o Russo” (Ed. Garota FM Books) mergulha de maneira inédita na trajetória do cantor brasiliense que se transforou em uma das principais vozes da juventude brasileira dos anos 80 e 90 à frente da Legião Urbana.

Para muitos, Russo foi um dos maiores poetas e cancionistas da história da música brasileira; para outros, não passou de um letrista pueril que apelava para as massas em versos pobres e músicas repetitivas. Eu me incluo no segundo grupo, mas reconheço a hercúlea tarefa que a professora Julliany encarou para provar que o primeiro grupo tem razão.

Depois de dez anos de pesquisas, coletas de dados e análises da obra do vocalista da Legião Urbana, a pesquisadora apresenta em detalhes o legado das poesias de Renato e a sua contribuição para a cultura e o pensamento do país.

O livro está em uma campanha de financiamento coletivo pelo Catarse e vai celebrar o legado de Renato Russo em outubro, quando sua morte completa 25 anos – para colaborar e garantir vantagens na compra, acesse https://www.catarse.me/renatoorusso.

Entre as recompensas estão o próprio livro, que tem capa assinada por outro brasiliense, o artista plástico Alex Moraes, e será impresso em três cores (laranja, roxa e preta), e os outros títulos da editora (“Discobiografia Legionária” e “Discobiografia Mutante”, de Chris Fuscaldo, e “Jimmy Page no Brasil”, de Leandro Souto Maior).

Segundo a autora, o livro tem um viés diferenciado, analisando a fundo as canções de Renato Russo, bem como o contexto musical, histórico e poético em que elas foram produzidas.

Inspirada pelo termo “cancionista”, usado pelo músico e linguista Luiz Tatit em um de seus livros, a brasiliense Julliany Mucury afirma que Renato foi muito mais do que um poeta e que sua obra merece estar entre os cânones da música brasileira.

“O Renato Manfredini Jr. [nome verdadeiro de Renato russo] escreve para nós. E o que ele quer nos dizer? Para responder a isso, eu fui em busca de 29 letras de autoria exclusiva do Renato, algumas delas descobertas há pouco tempo, e que dizem muito. Dá para a gente traçar um grande legado poético do Renato e o legado que ele quis deixar como mensagem, algo importante para ele, que se preocupava muito com as palavras”, afirma Julliany.

As canções representaram uma parte fundamental na vida de Renato Manfredini Jr., reforça a autora, e o ajudaram a compreender melhor o seu lugar no mundo, liberando um lado seu que até então era reprimido.

Esse é um fator que explica como as músicas de Renato o acompanharam em suas transformações, falando de questões típicas de sua geração e das mudanças individuais na vida do poeta, atravessando a própria Legião Urbana a partir da década de 1990. Entre elas, a AIDS, doença que vitimou Renato em 1996.

Julliany Mucury é natural de Brasília e atualmente mora em Berlim, na Alemanha. É mestre e doutora em Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora do sujeito contemporâneo. Em 2019, Julliany defendeu a sua tese de doutorado intitulada “Renato Russo: um eu em colisão consigo mesmo”, adaptada para o livro “Renato, o Russo”.