Escolha uma Página

 Marcelo Moreira



A guerra cultural que foi declarada em 2013 atinge o ápice em nossa sociedade sete anos depois, em plena pandemia devastadora da covid-19 e debaixo da sombra escura do fascismo que espalha negacionismo e medievalismo no século XXI.

Já não se trata mais de barbarismo, mas de desmoronamento completo dos pilares da civilização e das regras básicas de convívio social. Perdeu-se a vergonha de aderir ao racismo, ao preconceito e ao ódio ao diferente. 

A contaminação das almas e dos cérebros não é de hoje, mas é assustador pensar que uma quantidade absurda de pessoas não se constrange mais em culpar a vítima em todas as situações, seja de violência policial, seja de estupro, seja de racismo.

A onda de indignação e repulsa que se seguiu ao assassinato de um cliente negro em um supermercado da rede Carrefour em Porto Alegre, um dia antes do Dia da Consciência Negra, teve como contrapartida uma série de manifestações em redes sociais de “apoio” aos seguranças assassinos e de questionamentos ao “comportamento” do cliente morto. Assassinato justificado? Como assim?

Racismo incomoda, e muito, mas nem assim é suficiente para mudar comportamentos ou ao menos provocar um leve rubor de vergonha nos lixos humanos que professam a “crença” de que os negros devem continuar pobres, subalternos e submissos.

Os racistas, uma parcel imensa da população brasileira, culparam a vítima assassinada pela confusão em Porto Alegre. Alegam que racismo é “vitimismo” e que a imprensa “estimula” a vagabundagem e a ocorrência de crimes ao defender “agressores e encrenqueiros, sejam brancos ou negros”. 

Para esses lixos humanos, o assassinato de “encrenqueiros” é justificável, defensável e necessário… De que bueiro ou fossa saíram tantos dejetos humanos fascistas?

Uma pequena amostra dos excrementos digitados por esse tipo de aberração humana podem ser lidos na coluna desta sexta-feira do jornalista Ricardo Kotscho, no portal UOL. Revoltante e repugnante são alguns dos adjetivos pertinentes para qualificar seres ditos humanos que sempre foram fascistas e racistas.

A perda de senso crítico e de vergonha na defesa das causas “indefensáveis” tem relação direta com o orgulho de ser ignorante incentivado por um presidente ignorante como Jair Bolsonaro, que repudia a ciência, mega a realidade e aposta alto na burrice de seu eleitorado.

Racismo supera qualquer teoria de um eventual confronto entre civilização e barbárie. É uma crise muito mais profunda de identidade nacional e de respeito à cidadania: esbarra na deformação moral e de caráter de uma sociedade exclusivista e preconceituosa.

É o que pode ser visto em qualquer crítica à existência do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), como se este fosse apenas um grupo político em busca de privilégios ou de manutenção de supostos benefícios.

A relativização das inúmeras mortes de negros por policiais brancos neste ano no Brasil e nos Estados Unidos e mais um sintoma dessa deformação de caráter que atinge parcela expressiva da população.

Qualquer manifestação de grupos ou coletivos negros contra a violência ou desrespeito aos direitos civis é vista como “um brado político de cunho esquerdista e de incentivo à baderna e tumulto social”. Como se o assassinato de negros por policiais não fosse motivo suficiente para incendiar o mundo…

Cada vez que mencionamos o ativismo de bandas como Rage Against the Machine e Body Count, com integrantes negros, o Combate Rock recebe ataques por “incentivar a desunião e as desavenças entre as raças, de estimular a divisão em nossa sociedade”. 

De que esgoto saíram esses imbecis para negarem o racismo e acharem que não existe racismo no Brasil, como o estúpido vice-presidente, Hamilton Mourão, vomitou em uma entrevistas?

As vozes que abafam e sufocam as manifestações antifascistas e antirracistas são as mesmas que tentaram criminalizar Racionais MC’s, Planet Hemp, O Rapa e muitas outras que se posicionaram contra a barbárie que domina nossa sociedade.

São os mesmos que aprovaram e pediram censura ao vídeo/música “Cop Killer”, do Body Count, o mais contundente protesto contra a violência policial contra negros já gravado. “Essa música incentiva a violência”, disse recentemente um roqueiro conservador com certa fama no Brasil. Como se a violência policial contra negros precisasse de algum “estímulo”…

Não poucos os artistas brasileiros de rock e muitos dos apreciadores do estilo que bradaram contra o Black Lives Matter e a favor da “manutenção da lei e da ordem” defendida pelo lixo humano Donaldo Trump, em breve ex-presidente dos Estados Unidos.

A guerra cultural chega ao ápice, mais uma vez, tendo o racismo como combustível e um imbecil como Mourão para vomitar lixo e negar a realidade. 

Por isso é fundamental que ouçamos e vejamos as novas músicas da banda mineira Black Pantera, lançadas hoje em celebração ao Dia da Consciência Negra e contra todas as formas de racismo no Brasil. 

É uma porrada forte na cara de uma sociedade que ainda sonha com o escravagismo e com o surgimento de castas no Brasil, alienando pobres e negros e LBGTs e índios para sempre.