Escolha uma Página

Marcelo Moreira


  Mamonas Assassinas (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Uma piada infantil nem tão engraçada que funcionou. E nada mais. Assim pode ser definida a trajetória da banda Mamonas Assassinas, que fez imenso sucesso entre 1995 e 1996 até desaparecer em um acidente aéreo na zona norte da cidade de São Paulo. 

Esta semana marca os 25 anos do desaparecimento dos cinco integrantes. Inegavelmente um fenômeno popular, os Mamonas Assassinas era bem diferentes de qualquer coisa existente no mercado dos anos 90, surgindo logo depois do chamado Mangue Beat, cena pop surgida em Recife (PE), e de outro fenômeno, os Raimundos. 
Desde o início apareceu uma questão que permanece até hoje: os Mamonas faziam música ou faziam humor? Ou seria um humor musicado? 
As piadas eram toscas, de nível ginasiano, que abusavam da escatologia infantil e dos preconceitos enraizados na sociedade brasileira. Ainda que houvesse certa maldade em algumas colocações, o trabalho era pueril e quase inofensivo. E caiu nas graças do público em geral, que abraçou a banda escrachada e zoeira.
Como piada e humor, funcionou bem, agradando crianças e adultos justamente pela bobeira que era – e os músicos revelaram um grande talento para o humor e transbordaram um carisma que nem eles sabiam que tinham. 
Entretanto, musicalmente, a banda beirava a irrelevância, deliberada ou não. Antes do estouro, faziam versões bem feitas de clássicos do rock e, sob o nome Utopia, esbarraram no rock progressivo.
No Mamonas Assassinas, o que houve foi uma grande sacada da banda e dos produtores. O foco sempre foram as piadas e o escracho, com a música servindo de mero apoio ou muleta para as performances.

Ainda que tenha funcionado e os integrantes tenham demonstrado talento artístico para o humor, o fato é que os Mamonas Assassinas deixaram uma impressão de que a brincadeira tinha prazo de validade – e sem nunca se livrar do estigma de banda “montada” para fazer sucesso fácil, “artificial” e dependente dos humores de um mercado volátil – o que não era verdade, segundo quem conhecia os músicos de perto.

Os produtores do grupo conseguiram reunir vários clichês pop com competência, o que reforçou a impressão de “armação”, coisa que não influenciou em nada a trajetória meteórica e fulminante do quinteto. 

Os músicos e seus produtores aproveitaram ao máximo uma oportunidade única na época, e cada vez mais rara no mundo do entretenimento. Reciclando ideias antigas e piadas quase sempre ruins, conseguiram produzir uma comédia pop palatável, ainda que infantilizada. 
A música foi importante para impulsionar o “projeto”, mas pareceu sempre estar em segundo plano. Para mim, os Mamonas Assassinas nunca passaram de uma piada até certo ponto engraçada, provavelmente com data de validade. E nada mais do que isso.