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 Marcelo Moreira

Herbert Vianna (FOTO: DIVULGAÇÃO)


Quando o ultraleve caiu na praia fluminense lá no longínquo ano de 2001, houve quem cravasse que o rock nacional estaria definitivamente morto depois das mortes de Cazuza, Renato Russo (Legião Urbana) e de Herbert Vianna, então em estado gravíssimo em um hospital. Mas os deuses do rock decidiram que era tragédia demais para o combalido mundo musical brasileiro.

Mais do que isso, permitiram ao músico dos Paralamas do Sucesso uma recuperação que lhe permitisse continuar tocando e viajando para mostrar o poder da vida e da força de vontade.

O acidente de ultraleve deixou marcas profundas – está preso em uma cadeira de rodas e sem o amor de sua vida, Lucy, a mulher de sua vida, que não sobreviveu à queda. Vê-lo nos palcos, entretanto, é uma das mais prodigiosas esperanças que ele nos dá para que sigamos em frente, ainda mais em tempos de pandemia.

Herbert Vianna chega aos 60 anos de idade como o farol que ilumina o rock nacional e nos lembra que a música soberba que compôs e gravou com seus companheiros de Paralamas é um retrato perfeito de uma era da cultura e da juventude deste país.

O mundo da pandemia às vezes nos faz esquecer de como éramos afortunados nos anos 80 diante da oferta de arte e entretenimento em uma sociedade ainda com marcas profundas de uma ditadura militar assassina e corrupta.

No despertar de uma letargia em que vivíamos sob a espada e as botas de generais incompetentes e ignorantes, era redentor ouvir no rádio que o Vital se divertia com a sua moto, que o menino era desprezado porque usava óculos, dos devaneios do cara que sentia no cinema mudo diante da incompreensão geral, da homenagem aos “heróis” que viviam nas “áreas alegadas” como as de Trenchtown e também se emocionava com a delicadeza e contundência de quem buscava a lanterna dos afogados.

Gosto de dizer a respeito de vários artistas que celebram seus aniversários ou que já se foram que suas trilhas sonoras fazem parte de nossas vidas. E as criadas por Herbert e seus Paralamas estão de tal modo soldadas em nossa existência que é impossível imaginar nosso cotidiano sem suas músicas.

Os Paralamas do Sucesso, a caminho dos 40 anos de existência, foi abanda oitentista que melhor envelheceu, ao lado do Ira!. “Os Sinais do Sim”, o mais recente álbum da banda, é um baita disco que soa como uma declaração forte de que a banda está forte, consolidada e ainda relevante. Em tempos de indústria musical destruída, isso é muita coisa.