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 “Eu toquei com os melhores músicos do mundo na melhor banda do mundo. então eu sou melhor baterista do mundo.” Demorou, mas Ringo Starr se cansou de ser constantemente rebaixado por críticos – uma espécie de instrumentista menor encoberto por três gênios.

Faz 60 anos que a história de Ringo, dos Beatles e do rock mudou com a entrada do baterista na banda substituindo Pete Best. 

Ao contrário do que se convencionou dizer, Best sempre esteve na mira do desemprego naquele ano de 1962. Ringo era o sonho de consumo desde o ano anterior, quando suas performances na Alemanha com Rory Storm and the Hurricanes deixaram claro que ele era o melhor baterista de Liverpool. Eles só precisaram de um incentivo de George Martin, o produtor da EMI, para fazer a troca.

Mais consistente, técnico e versátil, ao menos para a época, Ringo Starr deu um gás novo para a banda e se entendeu rápido com Paul McCartney. A troca era inevitável naquele mês de agosto de 1962. 

Faltava apenas convencer Martin, que não gostou do novo integrante – achava-o fraco e sem  “pegada”. Tanto que nas gravações do primeiro single, “Love Me Do”, e também o lado B, “P.S. I Love You”, quem tocou bateria foi um veterano de estúdio, Andy White.

A banda engoliu a intervenção, esperou o lançamento, em, setembro de 1962, e tratou de delimitar o território: Martin foi avisado que nunca mais um beatle seria substituído nas gravações, a não ser por opção da própria banda – no futuro ocorreria quando Paul McCartney assumiu a bateria por ausências temporárias de Ringo, ou quando George Harrison fez todas as guitarras em “I Me Mine”, a última gravação da banda, em janeiro de 1970, quando ´John Lennon não foi ao estúdio.

Depois que “Love Me Do” fez um sucesso satisfatório, os Beatles se sentiram prontos para a decolagem em trataram de aclimatar o “novo” baterista, mas não foi uma tarefa fácil. 

“Fui bem recebido, consegui entender bem o repertório, mas demorou bastante para que eu me sentisse como um integrante pelo da banda”, declarou Ringo para Hunter Davies, o “biógrafo” oficial dos Beatles. “Eu sentia que, por uns dois anos, fui tratado como o ‘novo’ integrante, em um processo que, imagino, deva ser normal em casos semelhantes.”

O sucesso era a coroação de uma vida bem difícil. Acometido de algumas doenças, chegou a passar quase um ano no hospital quando criança e praticamente não frequentou escolas na adolescência. Cedo adotou a vida na estrada como baterista tocando com muitas bandas – bateristas eram raro nos anos anos 50, ainda mais na região de Liverpool. Mais raros ainda eram os bateristas que tinha o instrumento.

Se não era um astro ou um virtuose, Richard Starkey era concorrido e muito disputado. Foi com Rory Storm and the Hurricanes que adotou o pseudônimo de Ringo Starr, acompanhando a banda em três ocasiões, duas delas na Alemanha, onde dividiam o palco nos cabarés e boates de Hamburgo com os Beatles.

Ficou tão amigo dos “concorrentes” que vivia brincando que era o “baterista” ideal para os jovens garotos de Liverpool, embora mantivesse relação cordial com Pete Best.

O problema em 1962 é que Ringo estava a caminho de fazer 22 anos e preocupava com a falta de perspectivas da banda de Rory Storm, que na época era uma banda grande em Liverpool – só os Beatles os ombreavam. Parecia que aquele semiprofissionalismo bastava. Encarar qualquer emprego nornl ou subemprego não era uma opção. 

E então veio, finalmente, o convite dos amigos Beatles. Aceitou porque sabia que a banda estava gravando um compacto em Londres e que tinha um contrato em vias de ser assinado com a EMI. 

Ringo sempre evitou tocar no assunto com a amizade com Pete Best na época. “Não sabia de nada. Fui convidado a entrar e aceitei. Simples assim”, disse o baterista dos Beatles. 

Best nunca dirigiu ressentimentos a Ringo, de sua parte. “Pelo jeito, eu sairia de qualquer modo, então o meu substituto não teria ‘culpa’. Ele foi contratado para um trabalho e o fez de forma bem feita”, disse certa vez ao jornal inglês The Guardian.

Ringo sentou na banqueta e se tornou o baterista do maior fenômeno do rock e da música pop. Não está errado quando diz que é “o melhor de todos os tempos”. 

Amigos e concorrentes nunca o desmentiram. Charlie Watts, dos Rolling Stones, admirava o tempo e a solidez para manter o ritmo. Ginger Baker, do Cream, gostava de ouvir como Ringo investia em uma batida melódica e consistente. Keith Moon, do Who, dizia que Ringo fazia a batida perfeita em todas as músicas. Simon Phillips, que tocou com Judas Priest e The Who, entre outros, elogiava a postura segura e a busca por uma batida única e singular.

O portal Beatles Brasil é definitivo ao mencionar como Ringo Starr era bom e como foi importante para a música pop. “Ele alterou o som da bateria nas gravações. Ao tempo de Rubber Soul (lançado em 6 de Dezembro de 1965) o som da bateria começou a tornar-se mais distinto. Contando com a preciosa colaboração dos engenheiros de som dos estúdios EMI em Abbey Road, Ringo popularizou um novo som da bateria afinando-a num tom mais baixo, abafando o som e fazendo com que soasse mais perto, através da colocação de microfones em cada peça.”

Por fim, o mesmo texto indica que Ringo era um excelente ritmista. “Esse fato permitiu aos Beatles gravar uma música 50 ou 60 vezes e depois editá-la por composição das melhores partes, por forma a alcançar a melhor versão possível. Hoje em dia é usado um metrônomo eletrônico para esse mesmo propósito, mas naquela época os Beatles tiveram que depender de Ringo para manter a consistência da batida através de dezenas de takes. Se ele não possuísse este dom as, gravações dos Beatles soariam, por certo, de forma diametralmente diferente.”