Escolha uma Página

A maior banda underground do Brasil está com disco novo na praça. Os Autoramas trabalharam muito durante a pandemia de covid-19 e entregam um trabalho redondo, coeso e de alta qualidade. Como eles conseguem quando o mundo está totalmente de cabeça para baixo?

“Autointitulado” chega em todas as plataformas digitais e tem produção musical dividida por Gabriel Thomaz, vocalita e guitarrista, com Alê Zastrás e Jairo Fajersztajn.

“Autointitulado é o melhor título que um disco do Autoramas poderia ter: ‘Auto+intitulado’. Como não pensamos nisso antes?”, diz GThomaz, que abusa da autoironia e do sarcasmo da mesma maneira que fazia quando integrava o Little Quail and the Mad Birds”, nos anos 90.

A resiliência da banda é invejável. Estabelecida há muito tempo em Jundiaí, interior de São Paulo, grupo que já passou por Brasília e Rio de Janeiro é o maior exemplo de empreendimento bem-sucedido no chamado underground do rock brasileiro.

 Haja força de vontade, já que o rock nacional não anda lá essas coisas – imagine então militar no underground, sem apoio de mídia e de gravadora?

“Esse é um disco de sobrevivência: no tempo, no lugar e nas condições que estamos vivendo”, analisa Thomaz. “Passamos dramaticamente pela crise, pelo covid, nos adaptamos a tudo sem nunca parar de produzir, sempre pensando no trabalho, na música e no que o Autoramas sempre significou.”  

“Autointitulado estava previsto para sair em 2020, mas não pôde nem ser gravado por conta da pandemia do covid-19. O baixista Jairo, diante dos protocolos de saúde e de funcionamento do mundo da música, tomou uma grande atitude e montou na sua casa em Itatiba, interior de São Paulo e vizinha a Jundiaí. Lá construiu um estúdio para a gravação do álbum, batizado agora de Estúdio Vegetal.” 

É o tipo de estúdio caseiro que fornece aquilo que o músico precisa: conforto e tempo pra criar. Essa história de entrar para gravar com o relógio correndo e o “taxímetro voando” é o maior inimigo das bandas underground.

Segundo Gabriel Thomaz, o local se tornou uma verdadeira Disneylândia para “ratos” de estúdio e malucos por experimentação, ao mesmo tempo em que o mundo vintage tomava forma.

“Lá pudemos tirar o atraso e registrar as ideias. Reunimos todos os nossos equipamentos vintage ou modernos pela primeira vez. E dá-lhe Eko, Farfisa, Mosrite, Ludwig, Giannini, Theremin Óptico EFX, Tremolo MG, Vibratoramas e muito mais”, vibra Gabriel.

O disco acabou sendo gravado de forma muito semelhante a outras obras mundo afora por conta das restrições de isolamento social. Gabriel e a mulher, a cantora e guitarrista Érika Martins, tiveram covid, com tempos diferentes de recuperação. Isso obrigou a algumas mudanças de planos.

Boa parte do material foi gravada em estúdio com os músicos em formato presencial, mas as vozes de Érika tiveram o registro feito de forma diferente, de acordo com Thomaz. “Depois de tudo ensaiado, chamamos o talentoso Ale Zastras – que já tinha, antes da pandemia, gravado duas músicas que estão no disco e recomeçamos. Érika estava na Chapada Diamantina, na Bahia, se recuperando do covid e gravou suas vozes por lá no Virgun’s Studio.” 

Em 2021 a banda lançou seu primeiro single “A Cara do Brasil”. A faixa que traz parceria com Rodrigo Lima, do Dead Fish, também ganhou videoclipe e mostrou que a banda também tem uma verve política afiada, ainda mais em tempos pesados sombrios como os atuais.

Provavelmente é o disco mais político da banda, o que não quer dizer, necessariamente, que seja de protesto. A mensagem, no en tanto, é dura e direta. 

Entre as canções que estão em “Autointitulado” estão “Estupefaciante)”, “No Dope”,  “Nóias Normais”,  “Dia da Marmota)” e “Sem Tempo”. Também tem uma balada, “Eu Tive uma Visão”, uma parceria entre Gabriel e Érika Martins,que remete a um, esquema que a banda adora – uma aura dos anos 60.

“Autointitulado” é o nono álbum do Autoramas. O projeto gráfico do álbum é de Gustavo Cruzeiro, que já havia trabalhado com a banda em capas de singles e sai pelo selo Maxilar, com distribuição da Ditto Music Brasil, na Europa e Japão pela Soundflat Records. 

O Maxilar é o mais recente empreendimento de Gabriel além dos Autoramas, cuja formação atual tem Gabriel Thomaz (voz e guitarra), Érika Martins (voz, miniguitarra, órgão, percussão e theremin óptico), Fábio Lima (bateria) e Jairo Fajersztain (baixo).