Escolha uma Página

 Marcelo Moreira

Phil Spector (FOTO: DIVULGAÇÃO)


O cara que estava na fila do rango, aquele velho esquisito, já vendeu mais de 100 milhões de álbuns… É o rei da música. diziam uns. O cara é mágico, diziam outros. Mas será que seus companheiros de prisão sabiam quem ele realmente era? nos anos 60

A covid-19 levou mais um músico e figura proeminente da música pop. Aos 81 anos, cumprindo prisão perpétua por assassinato, Phil Spector morreu neste domingo.

Produtor e músico de mão cheia, foi responsável por alguns dos momentos mais memoráveis da música com grupos vocais femininos. Criou texturas sonoras incríveis e transformou a maneira de se gravar qualquer tipo de instrumento.

Fora dos estúdios, era um cara realmente esquisito, que gostava de impor suas convicções com voz alta e de levar armas para o estúdio – era colecionador e aficionado.

No cinema, foi interpretado de forma um pouco caricata por Al Pacino no filme “Phil Spector”, de 2013, mas todas as excentricidades estavam lá, da coleção de armas em uma mansão estilizada, rituais sombrios e macabros e uma relação tensa e doentia com namoradas e groupies.

E foi em um desses relacionamentos malucos e insanos que a vida de Spector praticamente terminou, quando uma moça morreu atingida por um tiro no rosto na mansão. Com uma história pouco convincente, de que a moça teria se matado, foi condenado à prisão perpétua por assassinato.

Considerado gênio dos estúdios, teve a grande chance de se tornar o maior de todos, digamos assim, quando recebeu das mãos de John Lennon as fitas e rolos do que deveria ser o álbum “Get Back”, dos Beatles, no finzinho de 1969.

Apesar de os outros integrantes não terem sido consultados, apenas Paul McCartney esboçou tímida oposição diante da escolha. 

O álbum, que virou “Let It Be” e foi o último disco lançado pelos Beatles, foi lançado em abril de 1970 ao mesmo tempo em que o anúncio do fim de grupo surgia. 

O resultado decepcionou e provocou a fúria de McCartney, principalmente na música “The Long and Winding Road”, com seus excessos de orquestração e arranjos pomposos. Para Paul, Spector teria descaracterizado o som da banda e o deixado menos orgânico. 

Em 2003, surgiu “Let It Be… Naked”, a versão do disco sem a mão de Spector e sem o seu arcabouço sonoro. É uma mixagem bem melhor.

Entre suas inovações está o “wall of sound” (“parede sonora,”, em inglês), que mudou a forma como os discos pop foram gravados a partir dos anos 60.

Ela mesclava harmonias vocais de alto impacto com arranjos orquestrais imponentes para produzir clássicos como “Da doo ron ron” e “He’s a rebel”, sucessos do grupo The Crystals, e “Be my baby”, lançada pelo The Ronettes, talvez a sua maior obra.

Spector é um dos casos clássicos em que a obra precisa ser separada da personalidade do autor. Foi um dos gênios do estúdio no rock e no pop, mas um insano e monstro fora, a ponto de terminar os dias, idoso e abandonado, em uma penintenciária.