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Plebe Rude no Carioca Club (FOTO: NELSON SOUZA LIMA)

Nelson Souza Lima – especial para o Combate Rock

Sabe quando você precisa se beliscar pra ter certeza que não tá dormindo? Rolou comigo lá no Carioca Club no show da Plebe Rude. Me belisquei com vontade. Após mais de dois anos sem ir à casa da zona oeste, lá estava eu agitando ao som de uma das melhores bandas da safra 1981.

O quarteto brasiliense está em turnê comemorativa de quarenta anos e, apesar do coronovírus ainda circular por ai, não dá pra deixar a data passar batido. É o rock against the death.

Aliás a questão da Covid-19 e os protocolos de saúde continuam a gerar discussões acaloradas. Para muitos as flexibilizações são precipitadas e, ao vermos novos picos da doença na Europa,  é necessário atenção para que não volte a aumentar em nosso país no futuro.

Lá dentro nem todos usavam máscara e como insistem os infectologistas a consciência individual garantiria uma segurança coletiva. Porém isso não acontece e jogar a culpa nas costas do poder público pela falta de fiscalização é injusto.

Não estou defendendo o governo, é apenas uma constatação. Numa cidade gigante como São Paulo é impossível fiscalizar tudo. É assunto que dá pano pra manga. Mas o que importa é o rock  e isso tanto Plebe, quanto o Vespas Mandarinas, que fez o “esquenta”, mandaram bem.

O Carioca recebeu um bom público  que não se decepcionou com dois shows bem legais.Como sempre, cheguei cedo pra conferir os detalhes e matar saudades do Carioca. Fui bem recebido pelo Noel, assessor da Plebe, que me deu as dicas pra pegar a credencial. Valeu, Noel. Você é o cara.

Por volta das 20h07 já estava dentro da casa com aquele burburinho da galera que ia chegando aos poucos. Fui dar uma circulada, checar a lojinha das bandas e tomar uma água pra matar a sede. Dando o clima oitentista som mecânico com praticamente todas as bandas da época: Engenheiros do Hawaii, Biquini Cavadão, Paralamas, Titãs, Barão Vermelho, Cazuza, entre outros.

O público aumentou consideravelmente, mas nada de lotação máxima, como disse acima foi bom.  Mesmo com as cortinas fechadas dava pra conferir o corre dos roadies para acertar os últimos detalhes pro Vespas. Pontualmente às 20h30 a banda liderada pelo vocalista/baixista Thadeu Meneghini saudou a galera emendando “Cobra de Vidro”, “O Vício e o Verso” e “Antes que você conte até dez”.

Uma sequência bem legal do grupo paulistano que ao longo de mais de dez anos de estrada passou por várias mudanças e hoje é um power trio de responsa. Além de Meneghini integram o Vespas o incansável Bart Silva (Baleia Mutante/O Surto/Astronautas) na batera e o guitarrista Sobera.

Clichêzão, mas o trio tá bem orgânico, não deixando brechas ou falhas nas músicas e cumpriu bem o papel de “esquentar” a galera. Apesar do set curto, com apenas oito músicas, o trio mandou bem, afinal falamos de uma banda que tem know how de quem já participou de festivais importantes como o Lollapalooza.

Um dos momentos mais legais do show rolou com  “Amor nos Tempos do Cólera”, homenagem ao Rédson, líder da banda punk Cólera, morto em 2011. Na sequência chamaram ao palco o Wendell,  ex-companheiro de banda do Rédson, que mandou bem nos vocais de “Um Homem Sem Qualidades”.

Às 21h05 o grupo encerrou o set com “O Inimigo” com aquela tradicional distribuição de palhetas. Nem vi se o Bart jogou baquetas pra galera. Um esquenta bacanudo.  Em conversa com o Thadeu perguntei da importância da Plebe.

“É influência sim no som das Vespas. É banda da fase de ouro do rock nacional. Eu tenho muito apreço pelos quatro primeiros discos, que ouvi muito. Aliás, eu vendi os meus vinis. Curiosamente o único disco que ficou comigo é um LP single Mix da canção “Este Anos”. O Renato Russo tinha a capa desse mesmo emoldurada na parede de seu quarto”, disse.

Com a saída dos insetos furiosos ficou a expectativa da apresentação dos brasilienses. E volta o som mecânico com mais oitentistas: Lobão, Marina, Titãs, Capital, enfim.Não foi preciso esperar muito.

Às 21h45 as cortinas abrem e o quarteto formado por Philippe Seabra (guitarra/voz), André X (baixo), Clemente Nascimento (voz/guitarra) e Marcelo Capucci (bateria) foi ovacionado aos gritos de “Olê, Olê, Olê, Plebe, Plebe”.

Parece que tiveram um probleminha técnico pois demorou um pouco pro rock rolar. Mas quando rolou não ficou pedra sobre pedra. Mandaram de cara “Evolução”, trampo novo, “Brasília, “Johnny Vai à Guerra” e “Dias de Luta”.

Não pouparam os clássicos, afinal falamos de um grupo com quatro décadas e muitas histórias.Clemente, líder dos Inocentes, integra a Plebe desde 2004 e a interação entre eles é evidente.  

A brodagem dos caras é das antigas. Philippe contou que quando a Plebe veia a São Paulo pela primeira vez em 1983 foram recepcionados pelo Clemente. Ao que o Inocente rebateu dizendo que se arrependia até hoje. Risos gerais. E tome rock.

Equilibraram bem o set. Numa sequência bem legal com letras fortes e conscientes, como é de praxe nas músicas da Plebe mandaram “68”, “Censura”, “Sexo e Karatê”, “Medo” e “Minha Renda”.

Alternando os vocais com Clemente, Philippe Seabra disse estar impressionado com a atemporalidade das letras da banda e que devemos aprender com os erros. Dando uma direta para nos mobilizar e tirar a excrescência que ocupa a cadeira presidencial.

André X, membro fundador da banda, contou uma história bem louca quando nos anos 80 receberam a visita de um funcionário do INSS de que os caras teriam que pagar a previdência para uma futura aposentadoria. Eles mandaram o cara tomar no digníssimo. Mais risos.Uma apresentação alto astral e não seria diferente. Afinal tava todo mundo ávido por rock. Harmonia total: público/banda.

Outra legal foi a versão para “Baba O’Rilley”, do The Who, sucedida pela clássica “Até Quando Esperar” e “Mais Raiva do Que Medo”, que encerrou o set.

Aquele docinho de sair, ficar um pouco fora do palco e voltar pro encore sensacional com “Pressão Social” e o crossover de “Proteção/Pátria Amada”, canções emblemáticas que se completam. Plebe Rude e Inocentes são simbióticas.

Às 23h36 os caras deixam o palco com a galera urrando.

SET LIST VESPAS MANDARINAS

1-Cobra de Vidro

2-O Vício e o Verso

3-Antes que vc conte até

4-Na hora em que eu me perder

5-Amor em tempos de Cólera

6-Um Homem Sem Qualidades

7- Não sei o que fazer comigo

8- O inimigo

SET LIST PLEBE RUDE

INTRO

EVOLUÇÃO

BRASÍLIA

JOHNNY VAI À GUERRA

ANOS DE LUTA

LUZES

A SERRA

AMÉRICA

BRAVO MUNDO NOVO

O QUE SE FAZESTE ANO

A MESMA MENSAGEM

A IDA

68

CENSURA

SEXO E KARATÊ

MEDO

MINHA RENDA

BABA O’RILLEY (THE WHO)

ATÉ QUANDO ESPERAR

MAIS RAIVA DO QUE MEDO

REPRESSÃO SOCIAL

PROTEÇÃO/PÁTRIA AMADA (INOCENTES)