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Arnaldo Jabor (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Arnaldo Jabor foi cineasta bissexto que se reencontrou no jornalismo. Seus filmes nunca foram lá essas coisas, ainda que um deles tenha ganho um Urso de Prata no Festival de Berlim. “Toda Nudez Será Castigada”, “Eu te Amo” e “Eu Sei Que Vou Te Amar” foram alguns deles, bem fraquinhos na opinião de uns, inteligentes e razoáveis na visão de outros. Fico com os primeiros.

No jornalismo, que ele disse certa vez que aderiu por “necessidade”, se tornou comentarista da TV Globo e cronista/articulista de O Globo, entre outros jornais.

Culto e inteligente, se mostrou artificial, desinformado e preconceituoso na ânsia de tentar ser o polemista da vez. Deu certo por algum tempo e muita o gente o considerou, por um período, a voz mais importante na “análise política e comportamental” do país e de nossa sociedade. Evidente exagero.

É importante citar Jabor no Combate Rock por conta de sua ligação com o rock, uma boa e outra péssima – ele morreu nesta terça-feira (15), em São Paulo, em consequência de um AVC (acidente vascular cerebral), aos 81 anos.

Ao que se sabe, ele escreveu uma música, uma única, em sua vida. “Amos e Sexo”, em parceria com Rita Lee, foi enorme sucesso em 2003, contida no álbum “Balacobaco”. A canção é boa e foi, provavelmente, o último grande momento autoral da cantora.

O momento péssimo dele ligado ao rock ocorreu em 2004, demonstrando desinformação, preconceito e artificialismo que lhe caracterizaram enquanto comentarista de qualquer coisa, especialmente nos assuntos que não dominava.

Em dezembro daquele ano, a banda Damage Plan fazia uma apresentação em um clube no interior dos Estados Unidos. Dimebag Darell, ex-guitarrista do Pantera, tinha começado o show quando o palco foi invadido por um lunático armado e foi assassinado. Um policial e o assassino também morreram.

Para comentar o fato, vomitou que o heavy metal “estimulava a violência por conta de suas letras e o som ruim e pesado”. Também ironizava o apelido do músico morto, “Dimebag”, que poderia traduzido como “trouxinha” ou “pacotinho”. Jabor insinuava e generalizava que todo roqueiro e ainda mais os apreciadores de metal era maconheiro e “fora da lei”.

Na política, era conservador e igualmente preconceituoso, dando voz a discursos reprováveis e atenuando as barbaridades cometidas por certos políticos e criminalizando quase tudo o que tinha viés popular e de esquerda.

Polemista, acabou se tornando uma referência, ainda que questionável, na cultura brasileira recente, por mais que os roqueiros não o tivessem em boa conta. Apesar de seu perfil, era um cidadão muito educado e dos conservadores que permitiam uma conversa civilizada em tempos de trevas. Não é pouca coisa na era nefasta bolsonara.