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Possessed (FOTO: DIVULGAÇÃO)

O Possessed foi um dos principais responsáveis por moldar a sonoridade e a estética do metal extremo nos anos 1980. Além de ter cunhado o termo “death metal” em sua clássica demo, a banda também é considerada criadora do gênero de mesmo nome. Embora tenha passado por diversas mudanças de formação e até mesmo por graves incidentes, o Possessed sempre se manteve relevante e hoje, após quase quatro décadas de seu surgimento, desfruta de uma de suas melhores fases.

Na esteira do sucesso de Revelations of Oblivion – primeiro álbum cheio em 33 anos, lançado em 2019 – o Possessed se encontra em plena atividade, com sólidos planos para novos discos e até mesmo um documentário sobre o vocalista e único remanescente da formação original, Jeff Becerra.

Em uma entrevista concedida à Goblin TV, o próprio Jeff apresenta todas essas novidades, fala sobre seu estado de saúde após uma recente cirurgia, comenta sobre sua participação no novo EP da banda The Troops of Doom, declara seu amor ao Brasil e faz uma imersão ao passado – dos tempos de covers de Hard Rock com o amigo Larry LaLonde à consolidação do gênero death metal.

Estado de saúde, pós-cirurgia

“Estou indo muito bem, mas não posso entrar em turnê por pelo menos 8 ou 9 meses. Mas sinto como se eu pudesse, pois estou ativo e está indo tudo bem. Só não quero apressar nada, quero seguir as recomendações do médico e não estragar tudo. Mas estou bem, estou melhor do que já estive em um bom tempo”.

O próximo álbum

“O ‘Revelations of Oblivion’ é importante assim como todo álbum é importante. Estou ansioso para lançar o próximo álbum porque, você sabe, eu quero continuar minha carreira, quero continuar trabalhando e correndo atrás do tempo perdido. O Covid-19 apareceu, eu tive a cirurgia… Eu estou impaciente e quero lançar o melhor álbum possível, então não vou apressar nada. Mas definitivamente estamos trabalhando no próximo álbum e, até agora é, provavelmente o álbum mais pesado”.

Gravação com The Troops of Doom e amor pelo Sepultura

“Estar com o Jairo e o Marcelo e todas as pessoas do Troops Of Doom… Foi ótimo estar envolvido com toda a cena old school. Sou um fã de todas as coisas ‘Max’. Então, qualquer coisa que tenha a ver com o Max eu estou a bordo, eu amo o Sepultura, eu amo em todas as fases. (…) Então foi muito legal. E eu gosto desse tipo de origem, de tocar com quem estava na origem de tudo, do que se tornou algo muito foda. O que mais posso dizer, foi uma honra e foi muito divertido”.

Documentário a caminho

“Eu estou fazendo um filme que está quase pronto… Você conhece o ator Peter Stormare? De ‘American Gods’, ele também fez ‘Fargo’ e ‘Constantine’, com o Keanu Reeves. Eu e meu amigo Peter fizemos um filme que é basicamente uma espécie de documentário que me segue por aí por alguns meses e vai a alguns de meus shows no Whisky a Go Go, em Hollywood, e basicamente mostra como é minha vida. É uma espécie de história autobiográfica. Estávamos quase terminando, mas então a covid apareceu e trancou todo mundo em casa. Agora estamos prestes a voltar aos trabalhos e terminar o filme e aí vamos lançar esse longa-metragem estrelando eu”!

Possessed, ame-o ou odeie-o

“É estranho porque não me sinto velho, sinto que estou apenas começando, sabe? (…) O que te atrasa mesmo é… você não quer lançar nenhum álbum de merda, você quer lançar o melhor álbum possível. (…) Então eu quero ter certeza de lançar algo realmente muito bom que as pessoas vão gostar e… Mas quero dizer, é claro a natureza do Possessed é de que as pessoas amam ou odeiam, você sabe o que quero dizer? Eu quero que as pessoas que amam, amem. E que as pessoas que odeiam, realmente odeiem”!

Relação com o Brasil

“Sim, eu amo o Brasil, sabe? Estatisticamente você sabe que o Brasil é um dos países onde as pessoas realmente amam o Possessed, então eu acho que temos um vínculo especial. Não sei por que, mas talvez seja porque somos hispânicos ou porque os brasileiros são metaleiros pra caralho, cara! Certos países são mais metal e eu acho que Brasil é um país muito metal. O Brasil é provavelmente um dos, se não for o mais, metal do planeta”!

O começo com o Blizzard e amizade com Larry LaLonde

“A princípio, Blizzard era uma banda de hard rock. Nós tocávamos covers de Sabbath, Van Halen, UFO, uma música do Quiet Riot, ‘Wasted’ do Def Leppard… Naquele ponto, nós estávamos começando. Tocávamos em festas nas casas dos amigos ou em shows em algum parque local. E estávamos tocando, inclusive com o Exodus, com o Blind Illusion, Aftermath, Outrage… O Outrage era quase um ‘pré-Exodus’. Mas sim, éramos apenas crianças, acho que começamos quando tínhamos 11 anos ou algo assim, então eu conheço o Larry LaLonde desde sempre. E é legal, porque eu ainda falo com ele o tempo todo, ainda somos bons amigos”.

Aversão a hippies e início do Possessed

“Basicamente os caras do Blizzard começaram a ouvir Greateful Dead e a tomar ácido e eu odeio toda aquela merda hippie. Eu basicamente fui expulso da minha própria banda. Então foi quando o Possessed começou. Quando eu me encontrei com os Mikes então, mais tarde, voltei e chamei o Debbie e o Larry, peguei a antiga sala de ensaio do Blizzard e trouxe meu empresário, o Debbie. Principalmente por vingança… Principalmente não, parcialmente por vingança. Mas principalmente porque Larry e eu estávamos muito conectados. Nós sempre estivemos conectados”.

Joe Satriani produz o EP ‘The Eyes of Horror

“O Larry estava fazendo aulas com ele. E lembre-se de que ninguém era famoso naquela época. O Joe era famoso antes de ser famoso porque ele era muito bom, sabe o que quero dizer? Ele era obviamente um dos melhores guitarristas do mundo, mesmo naquela época. E pessoas como o Steve Vai e Frank Zappa estavam tendo aulas com ele. Não era difícil reconhecer que era a melhor pessoa para se procurar”.

Reconquistando sua própria história

“Depois que eu fui baleado, apareceu um oportunista que queria criar um novo ‘padrinho’ para o estilo (Death Metal). Ele deletou vários dos meus vídeos no YouTube e mudou minha página na Wikipedia constantemente. Tanto que afastou a história de mim e quase me apagou, entende? Então quando eu voltei foi uma verdadeira decepção, porque eu tive que lutar muito para ter minha história de volta”.

Pioneirismo no death metal

“O Possessed foi a única banda de death metal por quase um ano. Isso quando o death metal não era legal. (…) Mas mais tarde, quando se tornou legal, você via todas as bandas da Europa e outras dizendo ‘oh, eu fiz isso, eu fiz aquilo’, mas você sabe… Eles não tem meus registros de 1983, certo? Eles não estavam presentes, mas muitas pessoas estavam lá para negar isso. E eu falo, eu não sou amargo, porque posso entender que as pessoas querem dizer ‘eu tive uma participação'”.

Filho bastardo do thrash

“Se você olhar para as primeiras bandas de death metal, incluindo o Death, Morbid Angel, Cannibal Corpse, Obituary… As primeiras bandas são muito thrashy, porque é isso que o death metal é no fundo. É como um filho bastardo do thrash. O andamento não muda tanto e não é tão feliz. É mais direto e as letras são mais sombrias, como têm que ser. E claro, os vocais ‘cookie monster’. Eu sei que as pessoas não usam mais essa expressão, mas são aqueles vocais brandindo como uma arma. São, na verdade, como um instrumento no Death Metal, sabe? O que eu acho legal”.

O death metal hoje

“Eu diria que agora existem muitos tipos diferentes de Death Metal. É um gênero tão emocionante. Eu diria que é como… Eu falo muito isso, mas diria que o Death Metal é provavelmente equivalente à era de ouro do Jazz. É simplesmente o melhor gênero de música em expansão hoje, eu acho. Tem tanta coisa acontecendo agora. Há muito o que se aprender”.

O legado do Possessed

“Eu me sinto orgulhoso sim! E é claro que eu não digo que criei todo o Death Metal, mas que fui pioneiro. Então, é legal ver como algumas das coisas que o Possessed fez são agora base para outras bandas, sabe? Mas também vejo como outros realmente causaram um impacto, como o Death, que criou todo aquele som da Flórida. E bandas como Obituary e Morbid Angel, especialmente, consolidaram o death metal da Flórida. (…) Mas, assim como o Possessed, você vê bandas criando suas marcas, e toda vez que isso acontece, é uma nova peça do quebra-cabeça. (…) Eu acho que é muito emocionante e há muito mais por vir”.

Entrevista completa, no canal da Goblin TV: https://youtu.be/qh_DkqRnu_A