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Marcelo Moreira



Dossiês contra adversários, inimigos ou apenas críticos; tentativas de perseguição da Polícia Federal, aparelhada, explicitamente a mando do Palácio do Planalto; devassas seletivas por parte da Receita Federal contra artistas de TV; blindagem de amigos e parentes desde antes da posse.

Ninguém pode reclamar que não sabia que seria assim. O nefasto ser que ocupa a Presidência da República avisou pessoalmente que seria assim. As milícias virtuais avisaram que seria assim. E está sendo assim.

O capítulo mais novo da guerra cultural do governo federal, apoiado pelo que há de pior entre os evangélicos, militares e conservadores fascistas, é a matilha de celerados agentes da Receita atiçados contra atores e atrizes da TV Globo.

Eles avisaram que ia acontecer e, desde janeiro, ao menos 43 artistas da TV Globo estão sendo investigados por sonegação de impostos por conta de contratos que envolvem as chamadas “pessoas jurídicas”, ou seja, profissionais que abrem empresas e celebram contratos com a Globo como empresas.

A Receita acredita que a modalidade e uma forma de evitar o pagamento de certas alíquotas, o que não é ilegal, desde que não fique configurada a intenção de driblar o Fisco.

Por que só atores da Globo estão na mira? Será que não tem ninguém na TV Record que se enquadre ao menos para ser averiguado na questão dos contratos de PJ? E os altos salários do SBT, da CNN, da RedeTV! e da Bandeirantes? Curiosa essa seletividade, não é?

Apesar de outras grandes emissoras, como SBT, Record, Band e RedeTV!, terem parte de seus artistas, executivos e jornalistas contratados como PJ, não há informações que os profissionais dessas empresas tenham recebido notificações para prestar contas ao fisco, de acordo com o site Pipoca Moderna.

Também não há indícios de que a ex-secretária de Cultura, Regina Duarte, e o atual, Mário Frias, ex-funcionários da Globo, tiveram as contas examinadas.
Nem a Receita Federal e nem a Secretaria de Cultura do Ministério do Turismo haviam se manifestado sobre a questão até o final da noite desta segunda-feira (31).
Não foi por falta de aviso. A perseguição em todos os níveis ao setor de cultura seria implacável na tentativa de silenciar e neutralizar os “inimigos” e adversários ideológicos. 
Os artistas imbecis que apoiam/apoiaram a excrescência bolsonara e seu lixo de governo percebem agora o nível de calhordice e de indecência que se instalou em Brasília.
Justamente em um momento em que saem dos esgotos os integrantes da área cultural e das artes para defender a esgotosfera bolsonara, os instrumentos repressivos da administração federal intensificam a campanha contra os “inimigos”.
Especialmente dentro da música e do rock, essa gente desesperada perdeu qualquer pudor em rechaçar as intenções autoritárias e fascistas: assumem claramente que desprezam a democracia e a liberdade de expressão, as mesmas que garantem que esse tipo de lixo humano direitista e extremista possa viver de e exercer suas atividades artísticas.
Claro que é inacreditável que artista defenda perseguições a adversários, a censura aos “comunistas” e o silêncio dos críticos. Só no Brasil artista defende censura que pode voltar como um bumerangue na própria testa.
A perseguição da Receita Federal aos artistas e a “orientação” da Secretaria de Cultura para que os filmes nacionais candidatos ao Oscar sejam “alinhados com as diretrizes ideológicas do governo”, como denunciaram vários órgãos de imprensa, mostram que a guerra cultural entrou em nova fase. As ameaças e as intimidações deram lugar aos ataques despudorados e sem dissimulação. 
Alguém acha que os músicos escaparão de uma perseguição igual? Já não bastam a penúria a que o governo está condenando os profissionais da área e as tentativas de parlamentares ligados ao setor hoteleiro de isentar esses negócios do pagamento de direitos autorais?
Já passou da hora de haver algum tipo de resistência.