Escolha uma Página

Marcelo Moreira

Uma trilha sonora para suportar a pandemia de convid-19. Para uns pode soar como uma frase reducionista. Para outros, como um elogio diante de um dos mais pavorosos momentos enfrentados pelo mundo.

É claro que o álbum instrumental “Open Source” é bem mais do que isso, mas não deixa de ser reconfortante para o autor, o guitarrista brasileiro Kiko Loureiro.
 
Dividido entre Los Angeles, na Califórnia, e a Finlândia, terra de sua mulher, Loureiro está divulgando o seu mais recente trabalho solo depois de muitos anos, e o primeiro desde que se tornou guitarrista do Megadeth, gigante do metal mundial.

Os elementos de world music, de música brasileira, aparecem em profusão, mas “Open Source” é um trabalho mais coeso do que os anteriores. Tem uma pegada jazzística evidente, com uma valorização enorme da melodia. Em alguns momentos, há menos notas e mais feeling, com destaque para músicas como “Overflow” e “Imminent Threat”.

A veia mais pesada, com uma guitarra base mais densa e forte, com afinação baixa, aparece em “Vital Signs” e “In Motion”, evidenciando o que ele mesmo chama de “influência de Los Angeles”.

Recuperando as influências e de world music, o disco traz “Sertão”, uma delicada composição com presença de violões e uma guitarra mais solta, digamos assim.

“Imminent Threat”é uma das principais faixas do disco e traz como convidado especial Marty Friedman, ex-guitarrista do próprio Megadeth e morando há mais de 20 anos no Japão.

 Já em “Liquid Times” o convidado é o guitarrista Mateus Asato, um ás do instrumento que vive há alguns anos nos Estados Unidos. Sua presença relembra os tempos de Kiko como um dos mestres do virtuosismo do rock mundial. Participam do trabalho ainda a cozinha do Angra, os ex-companheiros Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria), além de Maria Ilmoniemi, mulher de Kiko, nos teclados.

“Open Source” tem um conceito que norteia o disco, “código aberto”, em tradução livre, expressão que é usada para definir softwares onde a fonte original é disponibilizada de forma gratuita, podendo ser redistribuído e modificado.

Loureiro resgata o tema da universalidade e da função da música como entretenimento, mas fundamentalmente como arte, algo que é indissociável do ser humano.

Parte de “Open Source” foi realizado por meio de financiamento coletivo (crowdfunding), que envolveu venda de tablaturas por US$ 50 (cerca de R$ 250), além de outras ofertas, que incluem a liberação gratuita de material em pistas de gravação separadas para que outros músicos façam suas versões em cima do instrumental.

Bem diferente das obras instrumentais que temos escutado ultimamente, “Open Source” reforça o que percebemos desde que Loureiro se tornou músico do Megadeth: fazia tempo que ele já estava em outro patamar no rock mundial e que precisava apenas reafirmar isso em um trabalho solo, o que fez de forma admirável em seu mais recente trabalho.
Marcelo Barbosa, talento que ficou conhecido no Almah, de Edu Falaschi, é o substituto de Loureiro no Angra, algo que foi inevitável diante de suas influências musicais.
O guitarrista está para lançar o seu primeiro álbum solo e divulga o single “Equilibrium”, que tem a preciosa colaboração do baixista Felipe Andreoli, seu parceiro de Angra e é uma canção poderosa, com execução extraordinária. Ele faz parecer tudo fácil e simples.
Com personalidade, mas evidenciando as “presenças” influentes de Loureiro e Joe Satriani, por exemplo, Barbosa privilegia a melodia e os fraseados mais identificados com o blues e o jazz. De alguma forma, a canção guarda muita semelhança com o trabalho solo de outro ás, Edu Ardanuy, ex-Dr. Sin e atual Sinistra.
Em um trabalho anterior, a música “Unstoppable”, Marcelo Barbosa já tinha apresentado as suas credenciais pesadas e estonteantes. Não abusa de milhares de notas: coloca-as em seus devidos lugares e evita destrinchá-las. 
Se havia alguma dúvida de que é um dos nomes mais importantes da guitarra brasileira, “Equilibrium” 
certamente vai fazer muita gente mudar de ideia.