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 Marcelo Moreira

Ele não conseguiu ficar quieto. Pretendia deixar os experimentos de lado e fazer um disco mais orgânico, em suas próprias palavras, ditas em uma live qualquer neste período de pandemia. Mas Joe Satriani é inquieto por natureza e partiu para uma experiência sonora fascinante em seu novo álbum, “Shapeshifting”, lançando há algum tempo.

Experimentação é o que podemos observar também no trabalho do guitarrista brasileiro Diego Oliveira. Mineiro integrante da banda de thrash//death metal, apostou também no peso de sua guitarra de chumbo em seu primeiro EP solo.

Satriani é uma usina de energia e de força. Os riffs brotam com uma facilidade inacreditável, assim como os solos incandescentes. A diferença deste paras os álbuns anteriores é que a diversidade dá o tom. 

O instrumentista passeia pela world music, pelo jazz, pelo rock, pelo blues e inclui passagens de música erudita, além de injetar m pouco e bom humor em canções alegrinhas.

Como toda experimentação no rock, o risco é grande, mas o resultado final é bem satisfatório, com muitos altos e poucos baixos dignos de nota. “All For Love”, por exemplo, parece ser a única canção que destoa, em uma balada chorosa que poderia ficar de fora.

“All My Friends Are Here”, uma balada blues robusta, é justamente o contrário. Mostra um instrumentista genial, com riffs densos e uma linha melódica que remete aos seus melhores trabalhos da década de 90.

O passeio por outros campos pode ser verificado em “Ali Farka, Dick Dale, Alien and Me”, onde a experimentação com sonoridades africanas e árabes mostram um profundo bom gosto na escolha de timbres world music. A percussão é extraordinária.

Na área do hard rock e do bom humor, “Big Distortion” quebra tudo em harmonia e melodias cativantes, em uma típica canção que anima qualquer festa e qualquer churrasco.

Tem até um reggaezinho meio safado, mas interessante, na boa faixa “Here the Blue River”, que é um primor de inventividade e inteligência. “Falling Stars” é outra que investe em sons diferenciados e uma performance mais climática, fugindo do padrão normal de música pesada, com solos estupendos.

Na área do blues, que resvala para o rock tradicional, Satriani vai muito bem em “Nineteen Eighty” e na estranha e complexa “Perfect Dust”, com suas mudanças de andamento e uma sonora linha melódica que também remete aos anos 90.

“Shapeshifting” esbanja bom gosto e boas ideias, trazendo um Satriani bastante antenado com a sonoridade moderna do rock e do blues. É um álbum extremamente agradável e com um grau interessante de risco e inovação (clique aqui para escutar o álbum na íntegra)

Diego Oliveira não arriscou buscando diversidade e atingiu uma sonoridade diferente ao privilegiar a própria guitarra e progressões bem próximas do chamado math metal. Imediatamente vem à cabeça o tipo de música que fez a fama de Tosin Abasi, guitarrista do Animals As Leaders.

O peso da guitarra é dominante, que casa bem com a extrema habilidade de Oliveira nas quatro músicas de “Between Nightmares and Dreams”. Tudo é urgente, mas preciso e bem produzido.

“Nightmares” é a faixa principal, com seus riffs fortes e velozes sobre uma base muito pesada. É possível também observar influências dos trabalhos solo de Kiko Loureiro antes de “Open Source”, que foi lançado neste ano, e do guitarrista Cauê Leitão, do Andragonia.

“Hipocrisy” é outro destaque do EP, que apresenta as mesmas características da anterior, só que com solos mais ousados e técnicos.

O EP de Diego Oliveira surpreende pela produção simples e eficiente, reunindo quatro músicas que são suficientes para um bom cartão de visitas de seu trabalho solo. O metal extremo do Sacrificed escondia um exímio instrumentista que tem um trabalho de nível internacional.